Blog “Educação, Didática, Pedagogia e
Andragogia”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel. Disponível em http://educacaodidaticapedagogiaeandragogia.blogspot.com.br/
Autoria:
1
- Caroline de Azambuja. Graduada em Artes Visuais - modalidade licenciatura
pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), especialização em andamento pela
mesma;
2
- Ursula Rosa da Silva. Doutora em Educação pela Universidade Federal de
Pelotas (UFPel). Professora na Universidade Federal de Pelotas. Coordenadora do
Projeto Arte na Escola (Pólo UFPEL);
ARTE
CONTEMPORÂNEA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
RESUMO:
Este texto tem por objetivo expor o
projeto de pesquisa
Arte Contemporânea nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental
desenvolvido para o Curso de Pós Graduação em Artes do Centro de Artes da
Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
na terminologia Ensino e Percursos Poéticos. Defendendo a relevância da investigação e
também do desenvolvimento de aulas de arte com o tema arte contemporânea nas
séries iniciais do ensino fundamental.
Nos últimos dois anos nos quais trabalho
com Ensino de Arte na rede municipal de ensino de Pelotas com as séries
iniciais do Ensino Fundamental (que compreendem desde o pré até a 4ª série e/ou
4º ano), o trabalho com Arte Contemporânea nestas turmas se tornou um de meus
maiores interesses profissionais. Isto,
devido á dificuldade que senti em trabalhar o tema com crianças (de 5 á 9
anos), mas principalmente por ter percebido uma grande resistência dos colegas
e de alguns alunos em relação á questão. Na tentativa de aproximação com o
assunto uma das grandes dificuldades que percebi foi encontrar material sobre
Arte Contemporânea trabalhada no ensino fundamental. Dessa forma, a pesquisa, a
qual o projeto será aqui exposto, justifica-se
principalmente devido á escassez de publicações sobre o objeto de investigação,
pois, apesar de vários trabalhos
tratarem do assunto Ensino de
Arte Contemporânea na escola, poucos
deles enfocam o Ensino de Arte nas séries iniciais do Ensino Fundamental.
Com o objetivo de investigar, através de
intervenção na escola, o desenvolvimento de aulas que tem como conteúdo a Arte
Contemporânea, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, e as reações geradas
por esse processo, a pesquisa proposta pretende levar os estudantes
participantes, os professores e funcionários da escola a um contato com Arte
Contemporânea. Espera analisar, também, como se dá a recepção do assunto pelos
mesmos e suas implicações na comunidade escolar, a fim de verificar as
possibilidades de se trabalhar o tema nas séries iniciais.
A
RELEVÂNCIA DA EXPERIÊNCIA COM ARTE CONTEMPORÂNEA COM CRIANÇAS NA ESCOLA
Partindo desse estranhamento despertado
na comunidade escolar em geral ao trabalhar com Arte Contemporânea, é que a
pesquisa será desenvolvida, com propostas de aula baseadas em trabalhos de
artistas contemporâneos que serão registradas através de fotografias e da
coleta de depoimentos, tanto dos alunos que realizarão o trabalho quanto do
público (comunidade escolar), com a intenção de verificar como se dá a recepção
e que impactos são percebidos ao se trabalhar Arte Contemporânea com crianças
das séries iniciais do Ensino Fundamental em uma escola pública.
Apostando, do mesmo modo, na exploração
do desejo de descoberta latente na criança e entendendo a infância como um
momento propício para o estímulo inicial sobre o assunto, a pesquisa a ser
desenvolvida pretende levar os estudantes á um primeiro contato, e, posteriormente,
á uma vivência com a Arte Contemporânea. “A criança se exprime naturalmente,
tanto do ponto de vista verbal, como plástico ou corporal, e sempre motivada
pelo desejo da descoberta e por suas fantasias”. (FERRAZ e FUSARI, 1999, p.
55). E, a partir da expressão natural do infante, citada pelas autoras, analisar as implicações decorrentes
desse trabalho.
O ensino da arte é obrigatório nas
escolas desde a educação básica conforme o Art 26, Parágrafo 2º, da LDB Nº
9.394/1996. Mas antes da obrigatoriedade deve-se destacar a importância da arte
para o desenvolvimento cultural do estudante como também a relevância de que
esse processo aconteça desde a infância.
O Ensino de Arte Contemporânea na escola já foi tema de várias
pesquisas, porém poucas delas enfocam o Ensino de Arte nas séries iniciais do
Ensino Fundamental.
No artigo “Arte e metáforas
contemporâneas para pensar infância e educação”, Luciana Loponte discute a
relação entre arte, educação e infância, dizendo que a arte contemporânea tem
muito em comum com a infância: “A arte é feita de possibilidade, de invenção,
de criação, de ruptura, do imprevisível, do inesperado. A infância, também, é
puro acontecimento.” Loponte ressalta ainda, que os professores tem muito a
aprender com a vontade de criação impulsionada pela arte contemporânea, que a
aproximação com ela pode ampliar os modos de ver a arte e as imagens que nos
rodeiam.
Em artigo intitulado “O Ensino de Arte
Contemporânea em Escola do Município de São Lourenço do Sul”, Roberto Heiden
expõe um estudo de caso realizado por
ele sobre o Ensino de Arte
Contemporânea na escola. Na pesquisa por
ele desenvolvida são entrevistadas professoras de arte de uma escola pública do
município de São Lourenço do Sul. A partir das respostas das professoras e do
levantamento dos dados Heiden concluiu que nessa escola as professoras
trabalhavam com arte contemporânea ocasionalmente e, segundo elas, não
intensificavam os estudos sobre o tema devido, por exemplo, a falta de formação
na área e de um contato mais próximo com a arte contemporânea.
Em uma investigação feita pelo grupo de
pesquisa Mediação/Arte/Cultura/ Público (grupo de pesquisa do Programa de Pós –
graduação do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista) com
professores de arte e história sobre as imagens trabalhadas em suas aulas, um
dos aspectos analisados demonstrou que além da repetição das imagens
apresentadas nas aulas por diferentes professores raramente os docentes
pesquisados citaram a utilização de objetos artísticos, sobre isso a
coordenadora do grupo comenta:
A
rara citação de objetos pode ser atribuído, dentre outras causas, a uma excessiva
valorização da pintura por nossa cultura, (...) o que podemos evidenciar nos
livros de história da arte ou mesmo na rara apresentação de obras
contemporâneas. (MARTINS, 2006, p. 7-8).
A partir desse levantamento sobre o
assunto percebe-se que o Ensino de Arte Contemporânea nas séries iniciais do
Ensino Fundamental ainda não foi explorado com intensidade, aquilo que verifiquei
nas instituições em que atuo ratifica-se nas investigações supracitadas,
evidenciando a necessidade de pesquisas que estimulem o trabalho com arte
contemporânea nas escolas, apontando possibilidades para a realização desse
trabalho, e aproximando, o máximo possível, o tema do meio
escolar, que é o cerne da
questão, o lugar para onde as teorias sobre Ensino de Arte são dirigidas. Dessa maneira, esse tipo de pesquisa é
relevante tanto a partir da intervenção de pesquisadores na escola, como da
investigação de professores atuantes na rede de ensino sobre seu trabalho, e as
repercussões dele na escola.
Da mesma maneira a pesquisa defende o
contato com Arte Contemporânea desde
as séries iniciais na intenção de que
as crianças não criem preconceitos ou
receios quanto ao assunto, e se habituem a linguagem dessa arte desde
cedo. Ao falar sobre o ensino de arte
para crianças Martins, Guerra, e Picosque destacam como principal dever dos
educadores: “ampliar as possibilidades de pesquisa, valorizando a exploração
gráfica, plástica, tátil, sensorial, sonora, corporal, desafiando a criança com
projetos propostos a partir da observação atenta e sensível de sua própria
ação. (1998, p. 102).”
A arte contemporânea nos oferece essa
possibilidade, com uma variedade de técnicas, suportes, proposições, com obras
que convidam o espectador a participar, interagir, ou que propõe ações a serem realizadas
pelo público dependendo da participação dele o sentido do trabalho, ou mesmo
tratam de temas ou técnicas atuais. É de
extrema importância que essas oportunidades, proporcionadas pela arte de hoje, sejam
exploradas na sala de aula como forma de cultivar novos caminhos para o ensino
de arte na escola.
A intenção da proposta de pesquisa
exposta aqui é justamente oportunizar novas perspectivas com as crianças das
séries iniciais através de obras contemporâneas, elegendo para isso trabalhos
de artistas que exijam a interação do espectador, esperando levar a criança á
um envolvimento maior com a arte. Dessa maneira, com a participação, espera-se
propiciar a reflexão, por parte da criança, sobre sua performance, e, por
conseqüência, estimular a desconstrução de preconceitos por parte do corpo
docente e da comunidade escolar em geral através das provocações da arte nos alunos.
Outro aspecto importante da introdução
de trabalhos de artistas contemporâneos nas aulas é a identificação dos alunos
com a obra através dequestões atuais,
e, ainda, o entendimento de que a arte é
viva e acontece sempre, está acontecendo
ao seu redor, na esquina de sua casa em um grafite, em uma intervenção em uma praça, ou em um
museu no centro da cidade, para que não criem a idéia equivocada que a
arte limita-se a pintura e
escultura, e que está apenas nos museus,
como lembrança de algo que não ocorre
mais. Cabe aos arte/educadores a
tarefa de mudar conceitos como esse que estão presentes nas idéias das crianças
e adolescentes:
O educador é um mediador entre a arte e
o aprendiz, promovendo entre eles um encontro rico, instigante e sensível. Para
isso é importante: (...) Promover o acesso a artistas vivos, contemporâneos,
brasileiros, não só pintores, como também escultores, gravadores, (...)
(MARTINS, GUERRA, PICOSQUE; 1998, p. 141).
As autoras supracitadas enfatizam também
á importância da apresentação de artistas brasileiros, que é outro ponto a ser
aprofundado na investigação pretendida, que tem a intenção de fazer referência somente
á artistas contemporâneos brasileiros.
Pretendendo trabalhar outro aspecto importante que é o conhecimento e
a valorização de artistas nacionais, não como forma de
exaltação dos artistas brasileiros sobre de outras nacionalidades, mas como um
reconhecimento de que existem artistas brasileiros respeitados
internacionalmente, artistas que muitas vezes são reconhecidos primeiramente em
países estrangeiros para depois serem apreciados no Brasil (como os irmãos grafiteiros “Os Gêmeos”, por exemplo).
Nas escolas, os alunos estão acostumados
a ver obras de franceses, espanhóis, gregos, etc., mas poucas vezes apreciam
obras de artistas de seu próprio país, menos ainda contemporâneos: “Mas por que
a maioria dos artistas que nos mostram
já morreu? Será que não tem mais artistas hoje? E no Brasil? Tem artistas?”
(MARTINS, GUERRA, PICOSQUE; 1998, p. 103).
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Como este artigo defende um projeto de
pesquisa, a qual está em processo de desenvolvimento, não é possível ainda tecer
considerações conclusivas, apenas reafirmar a importância da investigação para
o ensino de arte na escola. Acredito que
os profissionais docentes em arte, têm muito ainda a explorar na Arte
Contemporânea até que esse assunto seja habitual na sala de aula, para isso,
deve-se compreender a importância dos seus aspectos para o ensino de arte na
escola. A partir disso, como lidar com a
abordagem da arte contemporânea com crianças na sala de aula? Como se dá a recepção e que impactos são
percebidos ao se trabalhar o assunto com crianças das séries iniciais do Ensino
Fundamental? Essas são algumas indagações colocadas na intenção de provocar outros educadores e é o que o projeto
aqui exposto almeja desvendar ao longo do processo de pesquisa.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL,
Ministério da Educação. Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei Darcy Ribeiro – Nº
9.394/1996.
DUARTE,
Paulo Sérgio. Arte Brasileira Contemporânea. São Paulo: Opus, 2008.
FERRAZ,
Maria Heloísa C. de T. & FUSARI, Maria F. de Rezende. Metodologia do
Ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 1999.
HEIDEN,
Roberto. O Ensino de Arte Contemporânea em Escola do Município
de São Lourenço do Sul. Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br/>
Acesso em 20 maio. 2011.
LOPONTE,
Luciana Gruppelli:
Arte e metáforas contemporâneas para pensar infância e educação. Revista Brasileira de Educação - Rio de Janeiro, v. 13, n.37, Jan/Abr. 2008.
Disponível em: <http://www.scielo.br/>. Acesso em: 24 junho. 2011.
MARTINS,
Mirian Celeste (coord.): Curadoria educativa: inventando conversas. Reflexão
e Ação –
Revista do Departamento de Educação/UNISC -
Universidade de Santa Cruz do Sul, v. 14, n.1, jan/jun. 2006,
p.9-27. Disponível em: <http://www.cvps.g12.br/>. Acesso em: 23 maio. 2011.
MARTINS,
Mirian Celeste, GUERRA, M. Teresinha, e PICOSQUE Gisa. Didática do ensino de
arte - A língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD,
1998.
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