terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A RELEVÂNCIA DE MATERIAIS DIDÁTICOS ADEQUADOS E DE QUALIDADE PARA O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM



Blog “Educação, Didática, Pedagogia e Andragogia”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel. Disponível em http://educacaodidaticapedagogiaeandragogia.blogspot.com.br/


APRESENTAÇÃO: CONCEITUAÇÃO EJUSTIFICATIVA

Os   materiais  didáticos,   se  bem  escolhidos  e  usados,   se  de   qualidade  e  adequados  ao  planejamento do  professor,   são   grandes   instrumentos   de   apoio   no   processo   de   ensino-aprendizagem.   No   caso brasileiro,   as  políticas  públicas  do  MEC  para   escolha,   compra  e  distribuição  de  materiais  didáticos aos   professores   e   escolas   sofreram  grandes   mudanças   na   última   década,   por   meio   dos   programas ministeriais   (PNLD,   PNBE,   PNLEM).   Para   o  Ensino  Fundamental,   atingiu-se   a   universalidade   de distribuição   de   livros   didáticos   de   Língua   Portuguesa   (inclusive   livros   de   alfabetização), Matemática,   Ciências,   História   e   Geografia   a   todos   os   alunos   e   escolas   do   território   nacional.
Outros materiais, como dicionários,  foram também distribuídos aos alunos de Ensino Fundamental. Para o Ensino Médio, iniciou-se,  em  2004, uma experiência de  distribuição parcial (para as regiões Norte e Nordeste) de livros de Língua Portuguesa e Matemática, que se pretendeu ser ampliada em  2005.  A  partir   de   1996,   todos   estes   materiais   passaram  a   receber   uma   avaliação   de   qualidade pedagógica   por   parte   do   Ministério,   em   convênio   com   conceituadas   Universidades   Públicas brasileiras.   Em   diversas   ocasiões,   foram   distribuídos   kits   de   livros   de   literatura   e   de   obras   de referência   e   de   divulgação   científica   a   alunos,   professores   e   escolas   da   Rede   Pública.   Isso,   sem dúvida, configurou os primórdios de uma política do livro e da leitura no Brasil.
Esses   foram  grandes   avanços  no  acesso  a  materiais   didáticos,   em  especial   considerando-se  que  as políticas  preservam  o  direito  de escolha  do  professor,   o  princípio  da  pluralidade  e da  diversidade e buscam   logísticas   que   façam   os   materiais   chegarem   aos   mais   distantes   pontos   do   Brasil,   país continente.   No   entanto,   as   políticas   ainda   se   restringem   à   compra   e   à   distribuição   de   livros impressos,   ignorando   ou   não   admitindo   outros   tipos   de   materiais,   em   outros   suportes   e   mídias.
Novas   tecnologias   da   informação   e   da   comunicação,   assim   como   outros   materiais      jogos, equipamentos   de   laboratório,   vídeos,   áudio      fazem-se   também   necessários   como   suportes   para processos   de   ensino-aprendizagem   na   contemporaneidade,   penetrada   por   múltiplas   linguagens, mídias e tecnologias.
Por   isso,   nesta   série,   vamos   discutir   com   professores   e   interessados,   no   campo   dessas   políticas públicas,   como   avaliar   e   selecionar   materiais   didáticos      impressos   ou   não      adequados   ao programa do professor e aos projetos de escola.  Além disso, enfocaremos o uso desses materiais em salas de aula, inclusive materiais disponíveis em mídia digital.

OBJETIVOS

São objetivos da série:

Ø Expor e discutir os programas brasileiros de política pública, destinados à compra e à distribuição de materiais didáticos, em especial o PNLD, o PNLEM e o PNBE;
Ø Discutir   critérios  de  avaliação  de  livros  e  de  outros   materiais  didáticos    tanto  em  relação  à  sua qualidade   como   em  relação   à   sua   adequação   ao   projeto   de   ensino   do   professor   e   ao   processo   de aprendizagem dos alunos –, visando a uma melhor seleção e uso dos materiais;
Ø Discutir   as   práticas   de   ensino   que   incluem   diversos   tipos   de   impressos      livros   didáticos, paradidáticos,   de   divulgação   científica,   literários,   obras   de   referência   (como   dicionários, enciclopédias,   livros   de   consulta   como   gramáticas,  Atlas   etc.),   jornais,   revistas,   mapas   etc.   –,   de maneira a otimizar a seleção e a utilização desses impressos;
Ø Discutir   as   práticas   de   ensino   que   incluem  outros   tipos   de   materiais      tais   como   laboratórios, jogos,   vídeos   e   áudios   –,   em   outros   suportes   e   linguagens,   de   maneira   a   otimizar   sua   seleção   e utilização;
Ø Discutir   as   práticas   de  ensino  que  incluem  outras   mídias   e  linguagens    radiofônica,   televisiva, digital –, de maneira a otimizar a seleção e a utilização desses meios e tecnologias.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Alain   Choppin   (1992)   distingue   quatro   grandes   tipos   de   livros   escolares,   organizados   de   acordo com  sua  função  no  processo  de  ensino-aprendizado:  (a)   os  manuais  ou  livros  didáticos,   quer   dizer, “utilitários  da   sala  de  aula”   (p.16),   obras  produzidas   com   o  objetivo  de  auxiliar   no  ensino  de  uma determinada   disciplina,   por   meio   da   apresentação   de   um   conjunto   extenso   de   conteúdos   do currículo,   de   acordo   com   uma   progressão,   sob  a   forma   de  unidades   ou   lições,   e   por  meio   de   uma organização que favorece tanto usos coletivos (em sala de aula), quanto individuais (em casa ou em sala   de   aula);   (b)   os   livros   paradidáticos   ou   para escolares,   obras   complementares   “que   têm   por função   resumir,   intensificar   ou   aprofundar”   (p.   17)   conteúdos   específicos   do   currículo   de   uma disciplina,   seja   por   meio   de   uma   utilização   individual   em  casa,   seja   por   meio   de   uma   utilização orientada pelo professor, na escola, como ocorre no Brasil. Na tradição brasileira, esse tipo de livro escolar   abarca,   prioritariamente,   obras  que  aprofundam  ou  enriquecem  um  conteúdo  específico  de uma  disciplina (o  tema  da escravidão  ou da  vida cotidiana no  Brasil  Colônia,   por  exemplo)  ou que se   voltam  para   a   formação   do  leitor  (como  os  títulos  de   literatura   infantil,   em  geral,   apresentados nos catálogos de editoras como obras “paradidáticas”); (c) os livros de referência, como dicionários, Atlas e gramáticas, destinados a servir de apoio aos aprendizados, ao longo da escolarização; (d) as edições   escolares   de   clássicos,   que   reúnem,   de   modo   integral   ou   sob   a   forma   de   excertos,   “as edições   de   obras   clássicas   (gregas,   latinas,   estrangeiras   ou   em   língua   materna)   abundantemente anotadas ou comentadas para o uso em sala de aula”(p. 16).
Como  se   vê,   a   classificação  de   Choppin   restringe-se   a   impressos  didáticos  no  suporte  livro.  Além desses,   constituem   também   materiais   impressos   em   circulação   em   salas   de   aula,   hoje,   os   da imprensa noticiosa (jornais, revistas), os livros de divulgação científica, os livros de literatura.  Além dos  impressos,   outros   materiais  e  linguagens  também  estão  disponíveis  em  muitas  escolas:   vídeos, áudios, jogos, equipamentos laboratoriais, acesso a mídias diversas – radiofônica, televisiva, digital.
Em  meio   a   esta   profusão   de   mídias,   tecnologias   e   artefatos,   o   mais   importante   parece   ser   saber selecionar e  utilizar, de maneira adequada às  intenções  didáticas e ao alunado, os  diversos recursos disponíveis. Para tanto, é imperativo saber utilizá-los, mas também analisá-los, avaliá-los. A política pública de compra e distribuição de materiais didáticos do MEC inclui hoje um processo de  avaliação  da  qualidade  pedagógica  dos  livros  e  das  obras  de  referência.   No  entanto,  tal   política ainda   não  inclui   outros   materiais,   em  outros   suportes   e   mídias,   e   não   incorpora   uma   formação   do professor para a avaliação da adequação dos livros e materiais a seu projeto de ensino, para seleção e uso adequados.
O   maior   programa   do   Ministério   para   a   distribuição   de   materiais   ao   Ensino   Fundamental   é   o PNLD   -   Programa   Nacional   do   Livro   Didático. Seus   objetivos   básicos   são   a   aquisição   e   a distribuição,  universal   e  gratuita,   de  livros  didáticos  para   os  alunos  das  escolas  públicas  do  Ensino Fundamental   brasileiro.  Realiza-se  por  meio do Fundo Nacional  de  Desenvolvimento  da Educação (FNDE),   autarquia   federal   vinculada   ao   MEC   e   responsável   pela   captação   de   recursos   para   o financiamento  de  programas  voltados  para   o  Ensino  Fundamental.  A  fim  de   assegurar   a  qualidade dos   livros   a   serem   adquiridos,   o   Programa   desenvolve,   desde   1996,   um   processo   de   avaliação pedagógica  das  obras  nele  inscritas,   coordenado  pela  COGEAM  (Coordenação  Geral   de Avaliação de   Materiais   Didáticos   e   Pedagógicos)   da   Secretaria   da   Educação   Básica   (SEB)  do   Ministério   da Educação.
O  PNLD,   tal   como   hoje   se   caracteriza,   é   o   resultado   de   diferentes   e   sucessivas   propostas   e   ações para definir as relações do Estado como livro didático.  Essas  relações  sofreram  um  conjunto  de  alterações  desde  a  criação  do  Ministério  da  Educação,  na década de 1930. Um marco significativo, porém, na história recente dessa relação, foi definido pelo Decreto-Lei     91.542,  de  1985,  que  estabeleceu  e  fixou  parte  das  características  atuais  do  PNLD: adoção de livros reutilizáveis (exceto para a 1ª série), escolha do livro pelo conjunto de professores, sua   distribuição  gratuita   às   escolas   e  sua   aquisição  com   recursos  do   Governo   Federal.
Assumindo essas   características,   o   Programa   teve   seu   desenvolvimento,   desde   então,   condicionado,   dentre outros   fatores,   pelo   modo   como   respondeu   a   dois   problemas   centrais:   a   questão   da   qualidade   dos livros   que   eram   adquiridos   e   a   das   condições   políticas   e   operacionais   do   conjunto   de   processos envolvidos na escolha, aquisição e distribuição desses livros.
O Ministério da Educação possui também um segundo programa, atualmente suspenso, que também exerce   um   forte   impacto   na   produção,   circulação   e   uso   de   livros   escolares.   Trata-se   do   Programa Nacional   da   Biblioteca   na   Escola   (PNBE),   por   meio   do   qual   se   adquirem  e   se   distribuem  livros paradidáticos,   de   literatura   e   obras   de   referência,   para   os   alunos,   professores   e   para   bibliotecas escolares da rede pública de Ensino Fundamental.
Em referência à classificação de Choppin (1992), também estão excluídos da compra e distribuição do Ministério outros materiais que não impressos didáticos no suporte livro e cópias de artefatos em outras linguagens e mídias (satélites). Em face  desta  oferta de  materiais,  como escolhem  os  professores? Por que existe um descompasso entre   a   avaliação   de   qualidade   do   Ministério   e   as   escolhas   dos   professores?   Quais   os   critérios utilizados pelos docentes para avaliar as  obras que  selecionam? Como complementam os materiais impressos   oferecidos   com   outros   recursos?   Como   avaliam   e   selecionam   esses   outros   recursos? Como   utilizam   os   impressos   e   outros   materiais   em   suas   práticas   de   sala   de   aula? Essas serão as perguntas que discutiremos na série Materiais didáticos: escolha e uso.

PGM1 – A POLÍTICA DE MATERIAIS DIDÁTICOS, DO LIVRO E DA LEITURA NO BRASIL

Este   programa   visa   discutir   os   programas   brasileiros   de   política   pública   destinados   à   compra   e   à distribuição   de   materiais   didáticos,   em   especial   o   PNLD,   o   PNLEM  e   o   PNBE.   Como   se   trata, nesses   programas,   de   compra   e   distribuição   de   impressos   didáticos   no   suporte   livro,   trata-se também  de   uma   discussão   da   política   federal   para   o   livro   e   a   leitura   no   Brasil.   Enfocar-se-ão   os avanços   da   política   na   última   década,   mas   também  seus   problemas   e   pontos   de   estrangulamento.
Como   São   Paulo   é   o   único   estado   da   federação   com   compra   e   distribuição   descentralizadas   nos programas,   adotando   uma   política   de   escolha   e   distribuição   diferenciada   do   livro   escolar,   este estado far-se-á representar para expor e discutir seus mecanismos.

PGM2 – AVALIAR PARA MELHOR USAR: AVALIAÇÃO E SELEÇÃO DE MATERIAIS E LIVROS DIDÁTICOS

Este  programa  visa  discutir   critérios  de  avaliação  de  livros  e   de  outros   materiais   didáticos    tanto em relação à sua qualidade como em relação à sua adequação ao projeto de ensino do professor e ao processo de aprendizagem dos alunos –, visando a uma melhor seleção e uso dos materiais.

PGM3 – LIVROS EM SALA DE AULA – MODOS DE USAR

Este   programa   visa   discutir   as   práticas   de   ensino   que   incluem   diversos   tipos   de   livros      livros didáticos,   paradidáticos,   de  divulgação  científica,   literários,   obras  de  referência  (como  dicionários, enciclopédias,   livros  de  consulta  como  gramáticas,  Atlas  etc.)   –,  de  maneira   a  otimizar   a  seleção  e utilização desses impressos em sala de aula.

PGM4 – IMPRESSOS E OUTROS MATERIAIS DIDÁTICOS EM SALA DE AULA

Este   programa   visa   discutir   as   práticas   de   ensino   que   incluem  outros   impressos   e   outros   tipos   de materiais      tais   como   jornais,   revistas,   mapas,   laboratórios,   jogos,   vídeos   e   áudios–,   em   outros suportes e linguagens, de maneira a otimizar sua seleção e utilização.

PGM5 – OUTRAS MÍDIAS E LINGUAGENS NA ESCOLA

Este   programa   visa   discutir   as   práticas   de   ensino   que   incluem   outras   mídias   e   linguagens   – radiofônica,   televisiva,   digital   –,   de   maneira   a   otimizar   a   seleção   e   utilização   desses   meios   e tecnologias. Serão apreciadas experiências específicas de produção de material didático digital e em vídeo  e  áudio,  como  apoio  de  processos  de  educação  a  distância,   como  é  o  caso  do  Ensino  Médio em   Rede,   PNUD/SEE-SP/Rede   do   Saber   e   do   Programa   Rived   (Proinfo/SEED/MEC),   na experiência da Fábrica Virtual.

BIBLIOGRAFIA, VIDEOGRAFIA E LINKS NA INTERNET

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VÍDEOSE PROGRAMAS DE TV

Teleconferência   sobre   O  Programa   Nacional   do   Livro   Didático   2002,   Brasília,   DF:   MEC/SEF, 16/05/2001.
Vídeo   Educativo   Interação   em  Sala   de  Aula   e   Ensino-Aprendizagem,   TV -PUC/PECFORUNI-SEE-SP , 01/2002.
Programa   Salto   para   o   Futuro,   Programa   01      Educação   e   Livros  Didáticos   da   Série   Materiais Pedagógicos, TV Escola, TVEBRASIL, RJ, 25/10/2002.
Vídeo   Educativo   Práticas   de   leitura:   é   preciso   mudar?-   Fundação   V anzolini/Rede   do   Saber-Ensino Médio em Rede-SEE-SP , 09/2004.

LINKs


A POLÍTICA DE LIVROS ESCOLARES NO BRASIL

A partir dadécadade1980, observam-se, com maior ênfase, diferentes ações da sociedade civil e de órgãos governamentais para o estabelecimento de políticas públicas para a leitura no Brasil.  Apesar disso, uma análise das ações governamentais evidencia uma atenção permanente – embora às vezes mais, às vezes menos pronunciada e sistemática – para o estabelecimento de políticas para o livro e, sobretudo, para o livro escolar .
Em   razão   dessa   atenção   quase   exclusiva   para   com   o   livro   escolar ,   este   texto   se   restringirá   à apresentação   e   à   discussão   mais   geral   das   políticas   públicas   para   esse   gênero   de   livro, especialmente   para   os   manuais   didáticos.  Apesar   de   os   diferentes   entes   da   Federação      estados   e municípios      desenvolverem  políticas   locais   para   dotar   as   escolas   de   materiais   para   o   ensino,   a dispersão   de   informações   tornaria   muito   difícil      senão   impossível      a   realização   de   um   balanço dessas políticas. Por essa razão, o artigo se restringirá às políticas desenvolvidas no âmbito federal e na   esfera   do   Ministério   da   Educação.   O   principal   programa   em   torno   do   qual   se   organiza   essa política  é  o  PNLD  -   Programa  Nacional   do  Livro  Didático.  Esse  programa  será   o  objeto  de  análise deste texto.

O PNLD

O Programa Nacional  do Livro Didático é desenvolvido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e pela Secretaria de Educação Fundamental (SEF). Os dois órgãos são ligados ao Ministério da Educação (MEC).
Embora   tenha   sido   criado   em   1985,   suas   características   se   alteraram   a   partir   de   1996.   Suas principais   finalidades,   hoje,   são   a   avaliação,   a   aquisição   e   a   distribuição   universal   e   gratuita   de livros didáticos para o Ensino Fundamental público brasileiro, em seus dois segmentos: o de 1ª a 4ª e  o  de  5ª a  8ª séries.   Para   o  primeiro   segmento,  são  avaliados,   adquiridos  e  distribuídos  títulos  de Alfabetização, Ciências, Estudos Sociais4, Matemática e Português, Ciências, História, Matemática e   Português.   A   aquisição   e   distribuição   dos   livros   são   feitas   de   acordo   com   a   escolha   dos professores e das escolas, a partir do universo definido pela avaliação.
A instituição desse processo de avaliação prévia de livros ocorreu em 1996, para a distribuição a ser realizada em 1997. Essa avaliação se orientou, desde seu início, por critérios de natureza conceitual (as   obras   devem   ser   isentas   de   erros   ou   de   indução   a   erros)   e   política   (devem   ser   isentas   de preconceito,  discriminação,  estereótipos  e  de  proselitismo  político  e  religioso).  Com  a  distribuição de  livros  para   o  ano  de  1999,  incluiu-se  um  terceiro   critério,  de  natureza  metodológica,   de  acordo com  o  qual   as  obras  devem  propiciar   situações  de  ensino-aprendizado  adequadas,   coerentes,   e  que envolvam   o   desenvolvimento   e   o   emprego   de   diferentes   procedimentos   cognitivos   (como   a observação,   a   análise,   a   elaboração   de   hipóteses,   a   memorização).   Realizada,   inicialmente,   pela Secretaria de Ensino Fundamental (SEF – atualmente Secretaria de Educação Básica - SEB), com a coordenação   de   docentes   universitários   e   contando   com   equipes   ligadas   a   essas   instituições,   a avaliação   vem   sendo   desenvolvida,   desde   2001,   sob   responsabilidade   direta   de   Universidades públicas, sob supervisão dessa Secretaria do Ministério.
Com  base   na   avaliação,   os   livros   receberam,   até   o   PNLD  2005,   menções   (até   2003   representadas por   estrelas),   que   iam   das   categorias   Recomendado   com   Distinção   (três   estrelas),   Recomendado (duas  estrelas)   e  Recomendado  com  Ressalvas  (uma  estrela)   às  categorias  Não-Recomendado  (não representada   por   qualquer   estrela   e   utilizada   apenas   até   a   inclusão   dos   critérios   de   natureza metodológica)   e   Excluído   (para   títulos   que   não   podem  ser   escolhidos   pelas   escolas,   em  razão   de apresentar em erros conceituais, insuficiência ou incoerência metodológica, ou, ainda, preconceitos e diferentes formas de proselitismo).
Com   base   nessa   avaliação,   a   SEB   elabora   um   Guia   de   Livros   Didáticos   (BRASIL,   1996,   1997, 1998,   2000,   2001,   2002,   2005),   coletânea   de   resenhas   das   obras   recomendadas   a   escolas   e   redes públicas   de  ensino  para   realização,  por  esses  agentes,   da  escolha  dos  livros  a  serem  utilizados.  As obras   pertencentes   à   categoria   dos   Excluídos   não   podem   ser   solicitadas   pelos   docentes   e   não constam do Guia.
As   solicitações   de   livros   e   sua   avaliação   são   realizadas   de   acordo   com   um   cronograma   de atendimento, de acordo com o qual se alterna a aquisição de  livros para cada um dos segmentos do Ensino   Fundamental;   cada   atendimento   é   identificado   por   meio   do   ano   em  que   o   livro   escolhido passa a ser utilizado nas escolas (PNLD 1997, 1998, 1999, 2001, 2002, 2003, 2005). Como, a partir do PNLD 1998, os livros passaram a ser utilizados pelas escolas durante três anos, só se realiza um atendimento   universal      isto   é,   para   o   conjunto   dos   alunos   de   um   mesmo   segmento      a   cada intervalo   de   vida   útil   dos   livros.   Entre   esse   intervalo,   realiza-se,   anualmente,   um   atendimento parcial,   voltado  para   a   reposição   de   livros  de  1a   série   e  de  Alfabetização  (sempre   repostos  a   cada ano,   por   serem   livros   consumíveis)   e   para   a   complementação   de   títulos   (quando   necessária   em função do crescimento da matrícula).  Apenas no ano de atendimento universal, as escolas realizam a escolha   do   título   a   ser   utilizado   e,   desse   modo,  a   complementação  de   livros  repete   as   solicitações feitas nesses anos.  A exceção a essa regra ocorreu, até 2003, na reposição de livros de 1ª série e de Alfabetização: a cada ano, puderam ser escolhidos novos livros.

O PNLD E SUAS REPERCUSSÕES NA PRODUÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO

A  instituição, em  1996, da avaliação prévia dos  livros a serem escolhidos pelos docentes gerou um conjunto de fortes conflitos – na esfera jornalística e na esfera jurídica – entre editores e autores, de um  lado,  e  o  MEC,  de  outro.   Os  dados  relativos  à  exclusão  e  à  não-recomendação  de  títulos,   bem como   sobre   as   relações   de   forte   dependência   do   setor   editorial   em   relação   às   compras   públicas, evidenciam o contexto dessesconflitos5.
Em primeiro lugar, os dados de exclusão e não-recomendação: com a instituição da avaliação, editar livros didáticos tornou-se uma atividade arriscada, já que a avaliação tornou-se um forte filtro entre os   produtores   do   livro   e   seu   mercado.   Para   os   atendimentos   universais   para   o   ensino   de   1ª a 4ª série,   foram  excluídos  ou   não-recomendados,   nos   PNLD  1997   e   1998,   respectivamente   77,56%   e  63,22%   do   total   de   títulos   avaliados;   no   PNLD  2001,   quando      não   se   utilizava   a   categoria   não-recomendado, o percentual de obras excluídas foi de 43,59%. Para os atendimentos universais de 5ª a 8ª séries,   foram   excluídos,   nos   PNLD   1999   e   2002,   respectivamente   50,23%   e   37,20%.   Os editores passaram a encontrar , portanto, na avaliação, uma forte barreira para a venda de seus livros para o Governo Federal.
Essa barreira, em segundo lugar , se dá num quadro de forte dependência dos editores em relação às compras   públicas.   Os   dados   sobre   o   setor   editorial   brasileiro   mostram   que   ele   está   voltado, majoritariamente,   ao   longo   da   década   de   90,   para   a   produção   de   livros   destinados   ao   mercado escolar   e   que   essa   tendência   se   acentuou   com   as   alterações   imprimidas   no   PNLD,   no   período:

(...)   se,   em  1993,   o   subsetor   de   didáticos   representava   54%   da   produção   de   exemplares,   em  1996 representou   74%.   O  salto   maior   se   produziu   entre   1995   e   1996,   com   um   crescimento   de   44%   da produção de exemplares (CERLALC, 1998, p.7).

No  interior  desse  quadro  de  dependência  do  setor  editorial   em  relação  ao  subsetor  de  didáticos,   as compras realizadas pelo MEC são vitais:

Na  distribuição do percentual de exemplares vendidos  por canais de comercialização, as vendas ao FNDE   corresponderam,   em   1998,   a   32%.   Entre   1997,   ano   em   que   se   iniciou   o   atendimento   às escolas   de   1a   a   4a   séries   com   base   no   processo   de   avaliação   pedagógica,   contemplando   todos   os componentes curriculares, e 1998, o número de exemplares vendidos cresceu 27% e, o faturamento, 50% (Batista, 2001, p. 39).
É  por essa razão que o relatório anual que monitora a produção editorial brasileira conclui que,  em 1998,   apesar   de   o   subsetor   ter   assistido   a   um   crescimento   de   55%   em  relação   ao   ano   anterior,   “o livro  didático  parece  depender   cada  vez  mais   das  compras  do  Governo”   (Fundação  João  Pinheiro, 1999,   p.   5),   pois   a   recessão   por   que   passa   a   indústria   editorial   teria   afetado   a   venda   de   livros didáticos   nos   canais   tradicionais,   em   função   da   migração   de   alunos   das   escolas   privadas   para públicas   e   do   crescimento   da   venda   de   apostilas   e   projetos   pedagógicos   de   grandes   grupos educacionais.
Como se comportou o subsetor de didáticos no contexto das mudanças da política do Estado para o livro  didático   e   num   quadro   de   fortes   relações   de   dependência   das   compras   governamentais?  Que alterações podem ser observadas em suas estratégias? Que permanências?
Estudos  em  andamento   (Batista   et   al,   2003)  mostram  que,   por  exemplo,  para   os   livros  de   5ª a 8ª séries, ocorre um conjunto de alterações, se se compara a produção avaliada no PNLD 1999 e 2002. Em  primeiro   lugar ,   alterações  no  volume  geral   da  produção,  que  decresce  de  438  para   414  títulos, bem   como   no   volume   da   maior   parte   das   áreas   de   ensino:   no   PNLD   2002,   em   História,   a participação   diminui   6,25   pontos   percentuais,   e,   de   modo   menos   acentuado,   em   Geografia,   com 3,19;   em  Matemática,   a   participação  apresenta   uma   diminuição  de   apenas   0,5   ponto  percentual,   o que   parece   indicar   antes   uma   estabilidade;   surpreendentemente,   a   representação   de   títulos   de Português   e   de   Ciências   aumenta   no   quadro   desse   padrão   mais   geral   de   queda      na   primeira disciplina, a participação aumenta7,38 pontos percentuais, e na segunda, 2,55.
Os mesmos estudos mostram, ainda exemplificando, que a retração observada no  volume de  títulos se  deve,   em  grande  parte,   à  não  reinscrição  de   obras   avaliadas   no  PNLD  1999  e   a  uma  acentuada renovação   dos   títulos   apresentados   pelas   editoras.   Dos   414   livros   avaliados   no   PNLD   2002,   230 foram   apresentados   pela   primeira   vez,   correspondendo   a   55,56%   do   universo.   Essa   acentuada renovação   ocorre   em   todas   as   disciplinas   e   parece   caracterizar   uma   estratégia,   por   parte   das editoras,   decorrente   da   exigência,   no   PNLD   2002,   de   que   as   obras   excluídas   do   processo   de avaliação   no   PNLD   1999   sofressem   alterações   substantivas   para   que   sua   inscrição   pudesse   ser aceita.  Assim,   as   editoras,   na   verdade,   aumentaram  sua   produção,   mas   esse   aumento   se   fez   pela ampliação da oferta de novos títulos e da retirada, do mercado governamental, de títulos antigos.
Correspondentemente   à   renovação   de   títulos,   ocorrem   expressivos   percentuais   de   renovação   de autores:   do   total   que   tiveram  obras   inscritas   em  2002,   45,85%   participaram  pela   primeira   vez   da avaliação. É também expressiva a diminuição da participação de autores de obras inscritas em 1999: 42,78%. Se novos são os autores, ao que parece, novos são também os processos de autoria, que se tornam  mais   fortemente   coletivos,   mesmo   em  áreas,   como   História   e   Matemática,   marcadas   pela autoria individual.
Por  fim,  um  último exemplo dessas alterações que precisam ser compreendidas.  No PNLD  1999, a autoria  de  livros  didáticos  se  mostrou  uma  atividade  marcantemente  masculina:  39,8%  dos  autores dos   exemplares   avaliados   são   do   sexo   feminino,   contra   56,34%   do   masculino.   Essa   proporção   se manifesta   em  todas   as   disciplinas,   com   exceção   de   Português,   em  que   a   representação   feminina   é em muito superior à masculina (64,81% contra 35,19%).
Nas demais disciplinas, a concentração de autores do sexo masculino é maior em Matemática (77,04%), História (62,5%), Geografia (60,83%) e Ciências (57,05%). O padrão geral apreendido com os dados do PNLD 1999 se altera expressivamente em 2002.  Ainda que   com   uma   pequena   margem   de   diferença,   passam   a   predominar   autores   do   sexo   feminino (50,24%).  Isto se  dá mesmo  com  a manutenção  da predominância  de  autores  do sexo masculino (e com aumento) nas áreas de  Ciências  (62,5%), Geografia  (62,96%)  e  com  um  acréscimo, ainda  que pouco  expressivo,   da  representação  masculina  na   área  de   Português   (36,1 1%).
Contribuem  para   o decréscimo geral da autoria masculina as áreas de História (51,43% contra 62,5% em 1999) e, mais importante, a de Matemática(43,51% contra 77,04%). Assim, as relações complexas entre o setor editorial e as políticas públicas, das quais o PNLD é um instrumento, geraram um conjunto de repercussões no modo de produzir o livro: como compreender essas alterações? De que modo elas se manifestam na própria concepção do livro  didático, em seus procedimentos discursivos e pedagógicos?

LIVRO DIDÁTICO E CURRÍCULO

O  livro  didático está  presente cotidianamente na  sala de aula e constitui  um  dos  elementos básicos da  organização  do  trabalho  docente.  A  realização  da  avaliação  terminou  por  resultar   numa  política do   Estado   de   intervenção   não   apenas   no   campo  editorial   e  de   controle   de   sua   produção,   mas,   por meio delas, de intervenção no currículo e de seu controle.
Embora durante muito  tempo  tomados como processos neutros e desinteressados,  entende-se,   hoje, que   os   processos   de   construção   curricular   resultam,   sempre,   de   relações   de   luta   e   de   força   entre diferentes grupos e agentes sociais para a definição dos conteúdos legítimos de ensino e das formas legítimas de ensiná-los, ou, em  outros termos, para uma definição de currículo mais de acordo com os   interesses   desses   grupos   e   agentes.   Essas   lutas   se   manifestam,   desse   modo,   em   relação   ao processo  por meio do qual   se  seleciona  (e  se exclui)  aquilo que deve  ser  ensinado. Manifestam-se, também,   do   mesmo   modo,   em  relação   à   sua   transposição   didática,   quer   dizer ,   ao   modo   pelo   qual eles   podem   se   tornar   “efetivamente   transmissíveis,   efetivamente   assimiláveis   para   as   jovens gerações” (Forquin, 1992, p. 23).
Por   apresentar   tanto   uma   seleção   de   conteúdos   quanto   uma   proposta   de   transposição   didática,   os livros  didáticos  passaram a ser,   a  partir  do  momento  em  que  o  Estado, progressivamente,   ao  longo do  século  XIX,   se  ocupa  da  instrução,  construindo  seus  sistemas  de  ensino,  um  objeto  de  especial atenção,   dotado   de   mecanismos   específicos   para   controle   de   sua   produção,   escolha   e   uso,   para controle, portanto, daquilo que se ensina e do modo pelo qual se ensina.
A  avaliação  de   livros  didáticos,   instituída   em  1996,  integra,   portanto,  o   conjunto  dos  mecanismos por   meio   do   qual   o   Estado   procura   exercer   o   controle   do   currículo.   Para   isso,   ela   dispõe   de   três instrumentos principais.  Em  primeiro   lugar ,   dos  critérios  que  a  sustentam,   que  incidem  sobre  as  duas  dimensões   principais do   currículo:   de   um   lado,   sobre   a   seleção   de   conteúdos,   por   meio   dos   critérios   de   natureza conceitual   e   política;   de   outro,   sobre   a   transposição   didática,   por   meio   dos   critérios   de   natureza metodológica.
Em segundo  lugar , para se  legitimar , essa avaliação precisa sustentar sua autoridade não apenas em razões de natureza política, mas também de natureza técnica.  Assim, a avaliação precisa contar com um   corpo   de   especialistas   dotados   de   um   capital   de   autoridade   capaz   de   não   apenas   amparar tecnicamente   a   avaliação,   como,   também,   amparando-a,   legitimá-la.   A  partir   de   1996,   o   Estado recrutou   esse  corpo   de   especialistas   entre   docentes   universitários,   especializados  quer   nos  campos de conhecimento relacionados às disciplinas escolares, quer nas áreas de ensino dessas disciplinas.
Em terceiro lugar , para atuar junto ao professor – que escolhe e usa o livro – o Estado elegeu como instrumento   básico,   a   elaboração   e   a   divulgação,   nas   escolas,   do   Guia   do   livro   didático,   com   as resenhas   dos   livros   recomendados,   que   vinham   caracterizados   por   menções   fixadas,   como      se indicou, por estrelas.
Como evidenciam os indicadores discutidos mais acima, ao que parece, mesmo no quadro das fortes relações  de  conflito  entre   o  Estado  e  seus  especialistas,   de  um  lado,  e  autores  e  editores,   de  outro, essa   política   de   intervenção   no   currículo   parece   ter   estreitado   o   controle   da   produção   editorial.   É necessário, como já se indicou, conhecer se a definição do currículo apresentada pelos manuais está mais   de   acordo   com   as   expectativas   do   Estado   e   dos   especialistas.   Mas   é   necessário   conhecer também  se  estará   mais  de  acordo  com  o  interesse  de  um  outro   grupo  de  agentes   que  participa  das lutas pela construção do currículo: os professores e os educadores.

OS LIVROS, OS PROFESSORES, SUAS ESCOLHAS

Os dados das solicitações de livros que são encaminhadas pelas escolas ao FNDE, nos PNLD 1998 e 2001, mostram que os professores possuem expectativas e interesses bastante  diversos no que  diz respeito ao  livro  didático, aos conteúdos que seleciona,  aos procedimentos de  transposição  didática que põe em prática.
Para o conjunto das solicitações feitas no período, os principais padrões apreendidos pela análise se identificam   a:

(i) uma escolha sistemática de obras que obtiveram na avaliação as menções mais baixas;
(ii)   uma   diminuição   da   escolha,   a   partir   de   2001,   de   títulos   que   obtiveram  a   menção   RD,   assim como um aumento das obras REC;
(iii) uma acentuada concentração das solicitações em torno de um conjunto reduzido de títulos;
(iv) uma grande renovação, entre os dois atendimentos, dos títulos mais solicitados;
(v) uma acentuada concentração das solicitações em torno de um conjunto reduzido de editoras.

Tendo   em  vista   o  item  (i),   as   escolas   tenderam  a   solicitar ,   tanto  em  1998   quanto  em  2001,  títulos que   obtiveram   na   avaliação   as   menções   mais   baixas,   sejam   elas   NR   ou   RR.   O   volume   das solicitações   de   obras   assim  classificadas   manteve-se   estável   em  todo   o   período.  A  solicitação   de títulos NR predominou enquanto a categoria foi utilizada. Com sua extinção, a solicitação de RR se tornou majoritária, o que indica um processo de migração, para a categoria, da preferência por NR.
No que diz respeito a (ii), observa-se, no período, uma redução da solicitação de títulos RD, situada em torno de 4.49 pontos percentuais, acompanhada de um aumento na solicitação de REC, em torno de   5.51   pontos.  Ao   que   tudo   indica,   talvez   tenha   ocorrido,   também   na   escolha   de   livros   melhor avaliados,   um   processo   de   migração   das   preferências   da   primeira   categoria   para   a   segunda, decorrente,   ao   que   parece,   de   uma   avaliação   negativa   dos   RD.   Assim,   é   preciso   supor   que   a categoria teria passado a exercer um efeito negativo na escolha.
Tendo   em  vista   o   item  (iii),   as   preferências   das   escolas   tendem  a   ser   concentradas   num   conjunto reduzido de títulos: em 1998, apenas 3.45% do universo de títulos sobre o qual se exerceu a escolha correspondem  a   cerca   de   25%   do   total   de   solicitações;   em  2001,   embora   essa   concentração   tenha diminuído   (1.98   pontos   percentuais),   a   escolha   se   exerceu   ainda,   predominantemente,   sobre   um conjunto limitado de títulos: 5.43% dos títulos do universo correspondema25% das solicitações.
No que diz respeito a (iv), observa-se que os títulos mais solicitados e sobre os quais se concentram as escolhas  tendem a se modificar entre um e  outro atendimento. Os  livros preferidos em 2001 não são   os   mesmos   preferidos   em   1998.   Aqueles   preferidos   nesse   último   atendimento   tendem   a apresentar uma redução expressiva no atendimento de2001.
Tendo em vista do item(v), verifica-se que as solicitações tendem a se concentrar, em todo o período, em  títulos  de  um  conjunto  reduzido  de  quatro   editoras    FTD,   Scipione,   Ática  e  Brasil,   em  ordem decrescente de solicitações –  que,  sozinhas,  respondem  por  cerca de  metade  dos  pedidos.   Nos  dois atendimentos, a concentração se mantém, embora varie a representação de algumas das editoras: em 1998,  FTD,   Scipione,   Nacional   e  Ática;   em  2001,  FTD,   Saraiva,   Ática  e  IBEP .  As  editoras  FTD  e Ática   são   representadas   na   faixa   dos   mais   solicitados   nos   dois   atendimentos,   e   a   primeira   editora ocupa sempre a primeira posição na escala dos mais solicitados.
Os padrões gerais apreendidos, entretanto, tendem a apresentar diferenciações. Em primeiro lugar, a análise do comportamento das solicitações por área de ensino mostra que:

(vi) todas as áreas, com exceção da área de Matemática, tendem a se orientar por um mesmo padrão geral   de   escolhas,   organizado   em  torno   da   solicitação   de   títulos   que   receberam  as   menções   mais baixas;
(vii)   a   diminuição   apreendida   na   solicitação   de   títulos   RD   se   verifica   nas   áreas   de   Português   e Ciências;  a área de  Alfabetização, que não possui  títulos RD,  apresenta uma redução na escolha de obras REC;
(viii)   a   alta   concentração   de   títulos   observada   se   manifesta   nas   áreas   de   Matemática,   Ciências   e Alfabetização;  Estudos  Sociais  e,   particularmente,   Português,   são  áreas  que  manifestam  antes  uma grande dispersão das escolhas em relação aos títulos;

No   que   diz   respeito   ao   item   (vi),   ao   contrário   das   demais   áreas,   a   de   Matemática   apresenta solicitações nas quais predominam os livros que foram mais bem avaliados, sejam eles RD ou REC. Num   contínuo   de   posições   em  relação   à   escolha   de   obras   que   obtiveram  as   recomendações   mais baixas, as áreas assim se situam:

GRÁFICO1 – Posições das áreas de ensino em relação à escolha de títulos com recomendações mais baixas
Na   evolução   das   escolhas   por   área,   Matemática,   Ciências   e   Estudos   Sociais   apresentam,   como   é possível   observar   por   meio   do   GRÁFICO   1,   um   padrão   de   diminuição   da   solicitação   de   títulos menos  recomendados.   Português  e Alfabetização,  ao  contrário,  apresentam  um  padrão  de  aumento de pedidos desses tipos de títulos. Tendo   em  vista   o   item  (vii),   observa-se   que,   ao   que   parece,   o   efeito   negativo   da   menção   RD   se manifesta apenas para as áreas de Ciências e Português.  A área de  Alfabetização, que não ofereceu à escolha obras RD, apresenta o mesmo tipo de redução na categoria mais alta oferecida, a dos REC. Diferentemente, a área de Matemática apresenta um crescimento na demanda por livros RD,  e a de Estudos Sociais, certa estabilidade nessa demanda, sempre caracterizada como reduzida em relação às solicitações de  títulos com as  outras classificações;  assim,  um efeito negativo das menções mais altas   se   manifestaria   apenas   nas   áreas   de   Português,   Ciências   e   Alfabetização.   Essa   evolução   é representada por meio do GRÁFICO2, em seguida:

GRÁFICO2 – Comparação entre o volume de solicitações de títulos em 1990 e 2001, por área de ensino (*Títulos Recomendados)

Em relação a (viii), observa-se que as escolhas de livros de Português e Estudos Sociais tendem a se exercer sobre um conjunto mais  diversificado de  títulos que as demais áreas.  Estas,   principalmente as   áreas   de   Matemática   e   Ciências,   tenderam  a   ter   suas   solicitações   caracterizadas,   em  2001,   por uma grande concentração de títulos. Em 2001, embora esse padrão mais geral tenda a se manifestar , as  duas  primeiras  áreas,   assim,  como  a área  de Alfabetização,  tenderam a aumentar  a  concentração de solicitações, enquanto as duas últimas tenderam a diminuir essa concentração.
A análise do comportamento das solicitações por série, em segundo lugar , mostra que:

(ix) tanto em relação às menções quanto em relação à concentração da solicitação de títulos, a série a que se destina a obra parece ser um fator pouco expressivo; apesar disso,
(x)  observa-se que,   em relação  às menções,  a 2a  e,   particularmente,   a 1a série  tendem a apresentar um   padrão   de   escolha   diferenciado  das   demais   séries,   caracterizado   pela  maior  representação,   nas solicitações, de títulos melhor recomendados.

Esses   padrões   de   preferência  revelam,   assim,   a  existência   de   um   desacordo,   no   que   diz   respeito   à definição   de   um   livro   e   de   um   currículo   de   qualidade,   entre   as   escolhas   dos   docentes   e   a classificação  das  obras  pela  avaliação  ministerial.   Quais  são  os  critérios  de  avaliação  que  utilizam os professores? Em que se  diferenciam dos  utilizados pela avaliação ministerial? Em que medida e por  que  os  livros  RD  passaram  a  ter  um  apelo  negativo  para  os  docentes?  Que  fatores  e  condições determinam   esse   descompasso?   Que   fatores   fazem   com   que,   tendo   um   conjunto   bastante diferenciado de opções de títulos e editoras, as escolas terminem fazendo suas escolhas em torno de número   excessivamente   reduzido   de   títulos   e   editoras?   De   que   modo   esses   fatores   intervêm   no processo mesmo de escolha? Que controle os professores querem exercer sobre o currículo de suas disciplinas? Que controle querem exercer sobre o ensino de Português e da aprendizagem inicial da leitura e da escrita?
São   poucos   os   elementos   disponíveis   para,   a   partir   dos   padrões   apreendidos,   levantar   hipóteses adequadas   sobre   suas   motivações.   São   estudos   de   natureza   qualitativa   sobre   os   livros,   sobre   seus processos de escolha, de avaliação e de produção que permitirão fornecer elementos para interpretar esses padrões assim como problematizá-los.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

BATISTA,   Antônio  Augusto Gomes.  Recomendações para uma  política  pública de  livros  didáticos. Brasília:Ministério da Educação, 2001.
BATISTA,  Antônio Augusto  Gomes  et  al.  Produzindo  livros  didáticos  em  tempos de mudança.  (no prelo).
BRASIL.   Guia  de  livros  didáticos;   1a  a  4a  séries    PNLD  1997.  Brasília:   Ministério  da  Educação, 1996.
BRASIL.   Guia  de  livros  didáticos;   1a  a  4a  séries    PNLD  1998.  Brasília:   Ministério  da  Educação, 1997.
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BRASIL.   Guia  de  livros  didáticos;   1a  a  4a  séries    PNLD  2004.  Brasília:   Ministério  da  Educação, 2003. www.fnde.gov.br/programas/livrodidatico.
FORQUIN,   Jean-Claude.   Saberes   escolares,   imperativos   didáticos   e   dinâmicas   sociais.   Teoria   e Educação, Porto  Alegre, n.5, p.28-49, 1992.
MUNAKA TA, K. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. 1997. Tese (Doutorado em História e Filosofia da Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 1997.

MATERIAL ADEQUADO, ESCOLHA QUALIFICADA, USO CRÍTICO

1. Uma provocação

O título deste texto — material adequado, escolha qualificada, uso crítico — talvez seja uma grande obviedade.   Afinal,   todo   e   qualquer   professor,   quando   pensa   em   materiais   didáticos,   logo   elege objetivos desse tipo, mesmo que não os formule exatamente assim. Por isso mesmo, esse título pode ser   entendido   também  como   uma   provocação,   diante   da   qual   perguntaríamos,   ironicamente:   “Só isso? Fácil, não? E como é que se chega lá?”
Sem  recusar   o  que     de  óbvio    e,   principalmente,   de  anseio  comum     nessas  três  expressões, vale  a  pena  assumir   a  provocação.  Não  porque  seja  possível   responder   de  uma  vez  a  todas  as  três questões,   que  permanecerão  sempre   desafiadoras,   mas  porque  o  cotidiano  de  nossas  escolas   pede, com  urgência,   uma reflexão a  respeito.  Um  dia,  certamente “chegaremos  lá”.  Não porque  haja,  em assuntos   como   este,   um   ponto   fixo   e   predeterminado   a   ser   alcançado,   mas   porque,   em   algum momento  da  reflexão,  perceberemos  ter   atingido  um  novo  patamar .   E  a  cada  passo  teremos  diante de nós outros horizontes.

2. O que torna um material didático?

Qualquer   instrumento   que   utilizemos   para   fins   de   ensino/aprendizagem  é   um   material   didático.  A caneta   que  o  professor  aponta  para   os  alunos,   para   exemplificar   o  que  seria  um  referente  possível para a palavra  caneta,  funciona,   nessa hora,   como  material  didático. Assim como o  globo  terrestre, em   que   a   professora   de   Geografia   indica,   circulando   com   o   dedo,   a   localização   exata   da   Nova Guiné. Ou a prancha em tamanho gigante que, pendurada na parede da sala, mostra de que órgãos o aparelho  digestivo se compõe,  o que,   por sua vez,  está explicado em detalhes no  livro de  Ciências. A diferença entre cada um desses recursos é apenas o grau de especialização: a caneta não foi criada para   servir   de   exemplo   para   a   noção   de   referente,   mas,   em  graus   crescentes   de   especialização    intencionalidade didáticas, o globo, a prancha e o livro, sim.
Assim,     uma  quantidade  e  uma  diversidade  literalmente  indeterminadas   de  materiais   didáticos  à nossa   disposição.   Quanto   menos   especializados   eles   forem,   maior   o   grau   de   elaboração   e   de intencionalidade   pedagógica   do   professor.   E   vice-versa.   Em   ambas   as   alternativas,   quanto   mais adequado   estiver   o   material,   em   relação   à   situação   de   ensino/aprendizagem   em   que   se   insere, melhor o seu rendimento didático.
Portanto, os potenciais e os limites de cada material não estão apenas no seu grau de especialização, mas também:
• na formação intelectual e pedagógica, na criatividade didática e mesmo na presença de espírito de cada professor;
• no perfil sociocultural e escolar dos aprendizes;
• nas características da escola e de seu projeto pedagógico particular;
• nas diferentes situações de ensino/aprendizagem em que se recorre a esse material.

Uma conseqüência necessária dessa  tese é a seguinte:  por melhor e mais especializado que seja um material,   parte   significativa   de   seu   caráter   didático   decorre   dos   usos   que   professor   e   aluno, envolvidos   numa   situação   de   ensino/aprendizagem   particular ,   fazem   dele.   Podemos   dizer ,   então, que   a   eficácia   desses   recursos   resulta   da   correta   formulação   de   uma   equação   entre   o   seu   grau   de especialização, o perfil dos sujeitos envolvidos e as características da situação.
Nesse sentido, convém lembrar que um material didático, qualquer que ele seja, deve desempenhar, no exercício de suas funções, determinados papéis:

• Propiciar e  orientar uma  interação adequada entre o professor e o aluno, em  torno do  objeto a ser assimilado   (a   compreensão   de   um   texto,   um   conceito,   um   tipo   de   raciocínio,   um   modo   de   fazer etc.).
• Independentemente de seu grau de especialização, a primeira função de um material que possamos qualificar como didático é a de favorecer uma interlocução pedagogicamente eficaz entre os sujeitos envolvidos  no  processo,  de  forma  que  a  apresentação,  o  reconhecimento  e  a  assimilação  do  objeto possam se dar  por meio do  diálogo, exatamente como no exemplo da construção coletiva da noção de referente possível para uma determina da palavra.
   Promover   uma   aproximação   adequada   dos   sujeitos,   e   em   especial   do   aprendiz,   em   relação   ao objeto.
   Também   independentemente   de   seu   grau   de   especialização,   um   material   didático   adequado   é aquele   que   permite   aos   sujeitos   uma   representação   ao   mesmo   tempo   possível   para   o   nível   e   o momento do processo de ensino/aprendizagem e aceitável para os saberes de referência socialmente legitimados.   É   a   essa   operação,   às   vezes   bastante   delicada,   que   se   convencionou   chamar   de transposição didática. De sua qualidade depende a correção conceitual do instrumento.
   Colaborar   significativamente   para   que   os   sujeitos   envolvidos   atinjam  os   objetivos   estabelecidos para a situação em questão.

Para   cumprir   integralmente   suas   funções,   um   material   adequado   à   situação   em  que   se   insere   não pode desconhecer os objetivos em tela. Se o objetivo for , por exemplo, levar o aprendiz a inferir um princípio  científico,  um  texto  que  apenas  o  explique,   por  maiores  que  sejam  as  suas  possibilidades de   instaurar   um   diálogo   entre   o   professor   e   o   aluno,   e   por   mais   correto   que   ele   seja,   do   ponto   de vista  da   transposição  didática,   não  é   o   mais   adequado   para   a   consecução  dos  objetivos  propostos.
Uma  boa  experiência  laboratorial,   ou  um  conjunto  de  atividades  que  apresentasse  indutivamente  a matéria, certamente seriam mais indicados.
A  qualidade   de   um   material   didático   pode   definir-se,   portanto,   por   sua   capacidade   de   exercer simultaneamente  — e  nos  níveis desejados —  essas  funções.  Por  outro  lado, na medida  em  que  há formas muito variadas de fazê-lo, podemos estabelecer uma distinção básica entre eles, com base no tipo   de   linguagem   a   que   recorrem.   De   forma   geral,   os   materiais   didáticos,   ou   apostam predominantemente nos  poderes da palavra,  falada ou escrita,   ou  investem  mais significativamente nas   possibilidades   das   linguagens   não   verbais;   e,   entre   elas,   os   recursos   audiovisuais   são   os   mais freqüentes.  Apesar de sua obviedade, esse dado merece alguma consideração.
Em   diferentes   áreas   das   Ciências   Humanas,   é   comum   os   especialistas   afirmarem   que   uma   das marcas   mais   características   da   contemporaneidade  seria   o   rápido  desenvolvimento  de  uma   cultura da   imagem   (ou,   mais   amplamente,   do   audiovisual),   num   convívio   às   vezes   conflituoso   com   as tradições próprias da cultura da escrita. Nesse debate, não se trata, apenas, de saber qual é o tipo de comunicação   predominante   hoje,   mas,   principalmente,   de   saber   como   vivemos   em   sociedade   e como  funcionamos  como  cultura.  Afinal,   não    a  escola  faz  parte   de  uma   sociedade  determinada como   o   próprio   processo   de   ensino/aprendizagem   se   desenvolve   numa   cultura   específica, mobilizando seus recursos de expressão e comunicação. De forma que aprendemos e ensinamos de formas muito diferentes, sempre parcialmente determinadas pela cultura em que vivemos.
Nos  dias que correm,   ninguém nega que a escrita continue exercendo com  vigor suas reconhecidas funções   sociais   e,   ainda,   que   contribua,   de   formas   diversas,   mas   sempre   significativas,   para   a compreensão   e   mesmo   o   desenvolvimento   das   imagens   e   sons   que   povoam   o   cotidiano contemporâneo.   Para   nos   convencermos   disso,   basta   lembrar-se do   papel   das   legendas   e   de   muitos outros   tipos   de   texto,   como   os   comentários   e   as   explicações,   para   o   adequado   funcionamento   da maior   parte   das   linguagens   ditas   “não   verbais”.
No   entanto,   muitos   estudiosos   argumentam  que   o predomínio  do  audiovisual     seria  uma  realidade  cultural,   especialmente  depois  que  a  informática e, em particular, a Internet, tornaram-se parte indissociável de nossos mecanismos de comunicação. E  esse predomínio  se  expressaria não  só pelo  grande número  de atividades  socialmente  relevantes, nas mais  diferentes esferas,  que recorrem ao audiovisual,  como pelo papel  intelectual e afetivo que imagens e sons desempenham, em nossa cultura, na formação de atitudes e opiniões.
No   que   diz   respeito   a   essa   “guerra   das   linguagens”,   a   escola   tem  se   caracterizado   por   certa perplexidade,   quando   não   por   um   impasse.   De   um   lado,   a   escola   reconhece   a   força   cultural   e   as possibilidades   pedagógicas   do   audiovisual;   de   outro   lado,   as   formas   escolares   de   ensino   e aprendizagem mais bem estabelecidas e mais prestigiadas devem-se à cultura da escrita e a seu bom funcionamento.  A  tal   ponto   que   a   competência   em  leitura   e   produção   de   textos  é     e   continuará  sendo      uma   das   principais   condições   para   o   desenvolvimento   da   autonomia   nos   estudos.
Entretanto,  muitas  outras  formas  de  aprender   e  ensinar ,   assim  como  muitos  outros  usos  da  própria da   escrita,   têm   se   desenvolvido   no   contexto   da   cultura   do   audiovisual,   embora      freqüentem   a escola marginalmente.  Um quadro como esse sugere uma constante perda de oportunidades didático-pedagógicas por parte da   escola   e   até   mesmo,   em   alguns   aspectos,   certo   descompasso   cultural.   Nesse   sentido, incorporar   o  audiovisual   aos  recursos  didáticos  regulares  pode  dar   mais  atualidade  e  autenticidade cultural   às   situações   e   processos   escolares   de   aprendizagem.  Além   disso,   pode   colaborar   para   a integração   da   cultura   em   que   o   aprendiz   está   necessariamente   imerso,   e   com   a   qual   tem familiaridade,  à cultura  escolar,  facilitando  o  diálogo  e  a  interação entre  os  sujeitos do  processo  de ensino/aprendizagem.   Até   porque,   fora   da   escola,   também   é   nessa   cultura   que   o   professor   se movimenta.
Assim,   no   esforço   de   atingir   seus   objetivos,   a   escola   deve   apostar   ao   mesmo   tempo   nos   valiosos recursos da escrita e nas formas de aprender e ensinar surgidas no contexto das mídias audiovisuais. E,   no   caso   do   indispensável   recurso   à   escrita,   interessam   tanto   as   formas      estabelecidas   pela tradição     os   livros,   didáticos   ou   não,   os   jornais   e   revistas   etc.     quanto   as   que   a   cultura   da imagem   e   do   som      à   luz.   Este   é   o   caso   da   escrita   digital,   ou   seja,   aquela   que   vem   se desenvolvendo nos meios eletrônicos de comunicação e,  em particular,  na  Internet.  Consultar sites, manter blogs,  participar de grupos de discussão, fazer cursos  por  via eletrônica,  e assim  por  diante, são   formas   possíveis   de   aprender   e   ensinar;   são,   também,   excelentes   recursos   de   promoção   e diversificação  do  letramento.  E  muitas   delas   podem  ser   eficazmente  integradas   ao  arsenal   escolar, desde   que   preencham  adequadamente   as   funções   didáticas      referidas   e   que   se   promovam,   entre elas e as formas mais tradicionais, diálogos em que um recurso enriqueça o outro.

3. Materiais didáticos no Brasil de hoje: excesso ou escassez?

Se  pensarmos  na  quantidade  e  na  variedade  de  materiais  didáticos  especializados  que  o  mercado  é capaz   de   pôr   à   nossa   disposição,   mesmo   no   caso   do   Brasil,   em   que   as   opções   são   em   menor número,   seremos  obrigados  a   constatar   a  pobreza   de  nossas   escolas   públicas.   Quantas   dispõem  de globos terrestres, laboratórios equipados, pranchas de anatomia, material dourado etc.? Quantas têm bibliotecas   bem  aparelhadas?  Em  quantas  é  possível   acessar   sites  de  interesse  pedagógico  em  sala de aula, usar apresentações de multimídia, ou mesmo passar um vídeo? Apesar   desse   quadro   de  evidente  escassez,   em  muitos  casos  nos  deparamos  com   um   excesso,   por mais   paradoxal   que   isto   pareça.
Em   muitas   escolas,   livros   didáticos   não   utilizados   lotam   o almoxarifado; minidicionários  distribuídos pelo  PNLD permanecem ou sem dono ou sem  qualquer uso efetivo em sala de aula; coleções do PNBE estão trancadas em estantes, programas e vídeos da TV Escola passam despercebidos ou, gravados em fitas, continuam intactos.
Evidentemente, há explicações possíveis para cada um desses casos.  Algumas vezes, a subutilização de um recurso se deve à falta de outro, como acontece com escolas que recebem coleções de vídeos, por   exemplo,  e   a   aparelhagem  necessária   não   existe   ou  não  está   em  condições   de   uso.  Em  outros casos,   o   desperdício   do   material   disponível   se   deve   às   dificuldades   inerentes   ao   uso   coletivo: articular   os   diferentes   programas   em   andamento,   as   turmas   a   serem   beneficiadas,   os   horários possíveis   etc.   Seja   como   for ,   temos   diante   de   nós   um   quadro   em   que,   muitas   vezes,   a   escassez convive   com   o   desperdício.   O   que   agrava   as      precárias   condições   de   trabalho   do   professor   e penaliza o aluno.
É   certo   que   boa   parte   dessas   dificuldades   extrapola   o   âmbito   de   cada   escola,   e      pode   ser solucionada   a   médio   e   longo   prazos,   no   contexto   de   políticas   públicas   adequadas   e   continuadas. Entretanto,   um   dos   motivos   dessa   situação   adversa   é   de   responsabilidade   da   própria   instituição escolar.   E   está   na   ausência   de   um   planejamento   didático   efetivo,   tanto   de   cada   disciplina   em particular,   quanto   do   conjunto   da   escola.  Afinal,   os   recursos   didáticos,   assim  como   os   espaços   e mesmo os horários a serem mobilizados para  seu uso, precisam ser combinados e partilhados entre os interessados.
É  no  contexto  do  planejamento  que  os  professores   e  demais   educadores  que  participam  da  equipe escolar podem integrar ao trabalho pedagógico uma reflexão sobre o material didático e o seu papel no processo de ensino/aprendizagem. Num fórum como este, é possível:

   Levantar   os   recursos   efetivamente   disponíveis:   a)   na   própria   escola;   b)   em   espaços   públicos complementares (TV Escola, TV Educativa, bibliotecas públicas próximas, programas oficiais etc.); c)   em   instituições   não   governamentais   que   prestam   serviços   educacionais   de   livre   acesso,   como sites, programas de voluntariado etc.;
  Avaliar   o  potencial   pedagógico   e   didático   de  cada   um   deles:   a)   no  que   diz   respeito  aos  tipos   de interlocução  que  favoreçam entre  os  sujeitos,   da  qualidade  da  transposição  didática  realizada e dos objetivos   perseguidos   e   b)   em   termos   de   sua   orientação   predominante   para   a   escrita   ou   para   o audiovisual;
   Selecionar   os  materiais   mais   adequados,   do  ponto  de   vista  do  projeto  pedagógico  da   escola,   dos perfis  de  alunos  e  professores  e  das  características  das  situações  escolares  de  ensino/aprendizagem mais freqüentes;
   Programar   e,   portanto,   otimizar   o   uso   de   cada   recurso,   de   forma   a,   por   exemplo,   incluir   a freqüência  regular   à  biblioteca  pública  como  estratégia  de  letramento,  ou  programar   a  exibição  de vídeos ou programas educativos em sintonia como cumprimento dos conteúdos curriculares.

4. O livro didático

Ao   que   tudo   indica,   o   desperdício   mais   freqüente,   no   momento,   é   o   de   diferentes   tipos   de impressos.   Até   porque   são   eles   os   mais   visados   pelas   políticas   públicas   voltadas   para   recursos didáticos e, por conseguinte, são eles os mais presentes em nossas escolas.
Materiais   estratégicos   para   a   diversificação   e   o   desenvolvimento   do   letramento   do   aluno,   como revistas   e   jornais   doados   por   editoras,   além   dos   próprios   livros   do   PNBE   e   dos   minidicionários distribuídos  pelo  PNLD,   são,  muitas   vezes,   subutilizados.   E  mesmo   o   LD  chega   a   ser   descartado.
Nesse último caso, o desuso parece dever-se, quase sempre, a escolhas mal sucedidas, seja porque o livro recebido não era o da primeira opção, seja porque, mesmo correspondendo ao título solicitado, revelou-se  em  desacordo  com  realidade  da  escola  ou  as  expectativas   dos  professores.   Há,   ainda,   o caso   das   escolas   que   dispensam  o   livro   didático   porque   preferem  elaborar   impressos   alternativos, mas, ainda assim, receberam obras que não chegaram a solicitar.
Considerando-se   esta   situação   particular,   o   LD,   se   considerado   no   contexto   do   planejamento escolar,   é  uma  peça  central   tanto  para   a  reflexão  sobre  o  lugar   dos  materiais  didáticos  no  processo  de ensino/aprendizagem quanto para evitar o desperdício em meio à escassez.  A escolha qualificada do LD — ou seja: organizada,  envolvendo toda a equipe escolar e  orientada por critérios explícitos — pode, então, constituir-se numa referência e, em alguns aspectos, num modelo, da discussão a ser feita sobre os demais materiais.
Nessa direção, uma primeira pauta para esse debate poderia incluir ao menos as seguintes questões:

   Quais   as   características   comuns  do  livro,   como   material   didático,  em  relação  às   diferentes   áreas em que a escola atua?
Em qualquer  disciplina,  o LD é o material  didático mais  orientado pela e para a escrita.  A proposta de   ensino   que   ele   apresenta   é   global   (para   toda   uma   série,   ciclo   ou   segmento   do   ensino fundamental),   com  objetivos,   conteúdos,   textos  e  atividades  formulados  num  discurso  escrito.  Seja qual  for o uso que dele se faça em sala de aula, será preciso que professores e alunos  interajam,  na execução  total   ou  parcial   dessa  proposta  pedagógica,   por  meio  da  leitura  (as  lições  ou  unidades)   e da   escrita   (exercícios   e   atividades).   Nesse   sentido,   o   LD   é   um   poderoso   recurso   de   letramento, talvez o principal, entre os disponíveis na escola.

• Quais as características dos livros oferecidos pelo PNLD? Desde   que   começaram  a   ser   avaliados   pelo   MEC,   pode-se   dizer   que   os   LD   presentes   em  nossas escolas   públicas,   para   além  de   não   apresentarem  erros   ou   indução  a   erros   conceituais   graves   nem  preconceitos  discriminatórios,   não  apresentam  contradições  entre   os  seus  fundamentos  teóricos,   de um lado, e, de outro, seus conteúdos, textos e atividades. Portanto, cada LD recomendado pelo Guia corresponde  a  uma  proposta  de  ensino/aprendizagem  que,   do  ponto  de  vista  dos  atuais  paradigmas científicos,   é   ou   aceitável   ou,   mesmo,   próxima   do   que   se   poderia   considerar,   no   momento,   como ideal.  Entretanto,  é preciso  lembrar que  a  avaliação  do MEC  baseia-se em critérios  cujo  escopo,  bastante amplo,   é   a   Educação   Nacional,   e   cujos   critérios   são   abstratos   e   gerais,   ou   seja,   independentes   de contextos e realidades  particulares.  Assim,  entre  a Avaliação  oficial,   de um  lado, e a  realidade e as demandas da sua escola, de outro, vai uma certa distância, que só processo adequado de escolha do LD será capaz de vencer.

• Co-avaliar/selecionar os livros disponíveis no PNLD? Consistindo   num   confronto   entre   as   possibilidades   abertas   pelo   Guia   e   o   projeto   didático-pedagógico   da   escola   e   da (s)   disciplina(s)   em   questão,   esse   processo   de   escolha   pressupõe   uma segunda   avaliação   dos   LD;   agora,   efetuada   pela   própria   escola.   Para   isso,   é   fundamental   elaborar critérios  explícitos,   que  levem  em  conta  os  objetivos  gerais   e   específicos  do  Ensino  Fundamental, assim como as características particulares da escola e o seu próprio projeto didático-pedagógico. Uma   vez   elaborados   os   critérios,   a   discussão      será   produtiva   se   envolver   toda   a   comunidade. Portanto,   será   preciso   organizar   a   equipe   escolar   para   o   processo   de   escolha,   de   forma   a   incluir todos os educadores diretamente responsáveis pelo ensino. E o primeiro passo pode consistir em ler cuidadosamente   as   resenhas   do   Guia,   para   conhecer-se   toda   a   gama   de   opções   à   disposição   da escola.   Sempre   que   possível,   será   útil   examinar   exemplares   disponíveis,   além   de   ouvir   os depoimentos de professores que tenham alguma experiência com qualquer dos livros recomendados pelo Guia.

• Contra ou a favor do LD? Contra ou a favor do material alternativo? Uma escola pode, evidentemente, optar por materiais alternativos ao LD. Entretanto, considerando-se   as   conseqüências   possíveis,   uma   decisão   como   essa   deve   resultar   de   um   processo   bastante amadurecido  de  discussão,  em  que  as  vantagens  e  desvantagens  de  uma  e  de  outra   escolhas  sejam muito bem pesadas. Além   de   certificar-se   de   que   as   alternativas   em   vista   são   efetivamente   viáveis,   a   escola   deve procurar   garantir   que   os   ganhos   do   processo   alternativo   (apostilas   próprias,   paradidáticos   etc.) ultrapassem  ou ao menos  compensem as  perdas  evidentes.  Entre  estas,  a  qualidade  da  transposição didática   e   a   ausência   de   material   de   uso   direto   e   pessoal   pelo   próprio   aluno   não   devem   ser menosprezadas.

• Como usar o LD (ou o material elaborado pela própria escola)? Embora   esse   tema   seja   abordado   nos   próximos   programas   desta   série,   não   é   demais   lembrar   a necessidade,   como   condição   para   o   uso   crítico,   de   confrontar-se   a   proposta   pedagógica   implicada no LD e a da escola, a da disciplina em questão e, no  limite, a do(s) professor (es) responsável(eis).

Além disso, na medida em que o uso do LD freqüentemente corre os riscos do dirigismo (quando se torna o  único responsável pela condução da matéria) e da  ilusão de completude (quando concebido como critério exclusivo de verdade e como encerrando tudo que é necessário ensinar numa série ou ciclo),   o   seu   uso   crítico   pressupõe   uma   estreita   articulação   com   outros   materiais   didáticos.   Em particular,  os minidicionários do  próprio PNLD e os  livros  distribuídos pelo PNBE são um recurso imediatamente  à  mão, sem  nos esquecermos  das  demais  possibilidades  que  cada  escola certamente oferece.
Por fim, podemos dizer que o processo de escolha qualificada do LD é uma excelente oportunidade para que a escola  discuta o papel  da  leitura no ensino/aprendizagem de cada área ou  disciplina.  Na medida   em   que   recorra   ao   LD   como   principal   instrumento   didático,   a   equipe   docente   pode estabelecer   metas   comuns  de  letramento  e  de  desenvolvimento  da  competência  leitora  dos  alunos.
Trata-se de uma excelente  oportunidade,   portanto, para programarem-se atividades de  leitura como objetos efetivos de ensino/aprendizagem, constitutivos de todas e de cada uma das disciplinas.  Em resumo, e à guisa de conclusão, podemos dizer que só o planejamento escolar e o planejamento pessoal de cada professor, na medida em que incluam uma discussão sistemática sobre os materiais didáticos,   podem  nos  dizer ,   a  cada  momento  e  a  cada  situação,  qual   é  o  material   (mais)   adequado, quais são osparâmetroseosprocedimentosapropriadosparaumaescolhaqualificada, e que valores pedagógicos definem e favorecem o uso crítico.

BIBLIOGRAFIA

LAJOLO, Marisa & ZILBERMAN,  Regina.  A leitura rarefeita:  leitura e  livro no Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1991.
RANGEL,   Egon   de   Oliveira.   O   livro:   condições   de   produção   e   efeitos   de   sentido.   São   Paulo, Litteris, 1994.
RANGEL, Egon de Oliveira. Para não esquecer: de que se lembrar, na hora de escolher um livro do Guia?Brasília, COMDIPE/SEF/MEC, 2002.
RANGEL,   Egon   de   Oliveira.   Sobre   sujeitos,   situações   e   materiais   didáticos   no   processo   de ensino/aprendizagem. Disponível no site www.tvebrasil.com.br/salto.




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