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“Educação, Didática, Pedagogia e Andragogia”, de autoria de Superdotado Álaze
Gabriel. Disponível em http://educacaodidaticapedagogiaeandragogia.blogspot.com.br/
1.
INTRODUÇÃO
A pesquisa teve como objetivo responder
a questionamentos e anseios sobre a utilização de materiais didáticos pelos
professores da educação básica. Os professores se perguntam: o que é uma boa
aula? Até que ponto o uso de materiais didáticos pode auxiliar no processo do
aprender? Como o material didático pode mediar a aprendizagem dos alunos?
Compreende-se que quando o professor se
apropria, desenvolve e adapta o material didático e o utiliza adaptando ao
contexto dos alunos a aula resulta mais produtiva para o professor e para o
aluno. Por isso, ao planejar, o docente observa possibilidades de uso destes,
quer seja um filme, uma maquete, um jogo, ou mesmo um livro e, vai combinando
estes em ação educativa visando o desenvolvimento de seus alunos e de seu próprio estilo de pedagogia.
No contexto educativo é fundamental
estabelecer a estreita correlação entre os materiais didáticos, a criatividade
e os objetivos educacionais. Nesta direção percebe-se que há muito ainda o que se fazer no que se
refere a constituição de maior correlação entre o sistema de ensino, dimensão
macro, possibilita a adota materiais didáticos padronizados e o contexto da sala de aula, sua dimensão
micro.
Foi pensando nesta problemática que
nasceram algumas atividades de pesquisa, ensino e extensão, que foram desenvolvidas em
cursos de licenciatura e na Pós-Graduação da UFSM. Estas atividades vividas provocaram
na proponente do projeto e no grupo de pesquisa envolvido outras inquietações e
reflexões. Contribuíram também, para a realização desta pesquisa e, se
apresenta neste artigo, as provocações enfrentadas nas atividades de docência
das disciplinas de: a) currículo, teoria e história; b) didática nos cursos de licenciatura; c) metodologia do
ensino superior; d) estágio curricular supervisionado
no curso de pedagogia; e) contextos educativos.
Nas atividades de extensão universitária
realizadas (Oficinas de Didática e de Aquisição
de Habilidades básicas em pesquisa) evidenciamos que foram muito significativas
e apontaram uma desqualificação em relação ao objeto da prática educacional, a
aprendizagem. Outro problema evidenciado foi a carência de constructos teóricos para abordar essas questões.
A pesquisa auxilia na reflexão sobre a
apropriação de princípios didáticos no exercício
da mesma. Ou seja, o desenvolvimento que a própria disciplina de didática já possibilitou ao longo do tempo ainda não está
incorporado no fazer docente, na construção da aula, no foco da aprendizagem do aluno e no
desenvolvimento integral da pessoa aprendiz.
Logo, há necessidade de avanços no campo da didática, pois a docência nos cursos
de licenciatura e de bacharelado desenvolve a atividade desconsiderando seus conhecimentos
e saberes específicos no âmbito do trabalho pedagógico do exercício docente.
Não se trata de considerar que a
didática seja a tábua de salvação, contudo, desconhecer seus pressupostos na atividade
docente e não incorporar os avanços que
cada abordagem já proporcionou significa reduzi-la a um campo no qual a
preocupação formativa ainda não seja o
foco principal. Portanto, a pesquisa aponta para a necessidade de um
desenvolvimento docente no campo de seu exercício profissional. Por isso, a utilização
de estratégias de ensino (ANASTASIOU e ALVES, 2004) assim como a elaboração,
organização e utilização de materiais didáticos caracterizam uma necessidade de
recolocar a tarefa da docência na efetiva prática do exercício docente do
professor.
Compreendeu-se que uma das questões
ainda difíceis de serem trabalhadas, que
geram preocupações na formação de
professores, muito embora aparentemente simples, diz respeito às questões de
desenvolvimento e organização de materiais didáticos apropriados ao processo de
ensino-aprendizagem. Para o curso de pedagogia esse projeto serviu como
temática interdisciplinar, pois instigou os acadêmicos a pensarem os processos
educativos para além das fronteiras dos saberes disciplinares e a antecipar o
contato com o ambiente escolar polissêmico, contraditório, por isso rico e
desafiador.Assim, pensar o processo educativo não apenas como formação
pedagógica restrita, mas compreender o
conjunto complexo das suas relações implícitas.
As ações “extra muro” que se empreende,
mostraram que educar não é só transmitir conhecimento, mas multiplicá-lo,
socializá-lo. Pois, à medida que a comunidade, onde o estudante está inserido,
percebe esta interação da universidade com as escolas, o que inclui educandos,
educadores, diretores, pais, funcionários, ela também passa a interagir
conosco. Acredita-se que a pesquisa intensificou e qualificou o relacionamento
entre a comunidade acadêmica da UFSM e a comunidade da rede escolar.
O projeto de pesquisa, ensino e extensão
“Dialogando com a escola: Interfaces entre materiais didáticos e a construção
do conhecimento histórico” teve como tema o uso de materiais didáticos e suas
relações com a aprendizagem escolar, oportunizando também a produção de
materiais didáticos e a pesquisa da prática docente.
A história do ensino é um campo
complexo, que não pode se resumir a formalidade dos programas curriculares e
dos livros escolares. Suas múltiplas relações com as várias dimensões da
sociedade, sua posição como instrumento científico, político, cultural, indica
a riqueza de possibilidades para o seu estudo e o quanto ainda há para
investigar.
Este campo de estudos, sobre o uso de
materiais didáticos, necessitou de várias teorias que o sustentassem e
colaborassem para desenvolver o projeto, em vista da dificuldade decorrente de
uma base conceitual delimitada. Em função disto, tornou-se necessário ampliar o
universo teórico, buscando assim referenciais na área das diversas
licenciaturas, como uma temática interdisciplinar.
Na prática das disciplinas e do ensino,
os alunos se deparam com dificuldades e
dúvidas intrínsecas ao meio escolar durante décadas. As abordagens pedagógicas
têm sofrido críticas severas com relação ao seu método de ensino, contudo, a
atividade docente centra-se no processo de ensino-aprendizagem. Com isso, os
futuros professores se sentem cada vez mais pressionados, solicitados e
desafiados pelas contingências da escola atual. É preciso revitalizar a escola
e com isso cresce a importância da Didática: é ela que permite a renovação da
concepção do ensinar-aprender bem como possibilita novas modalidades
contemporâneas que podem dar conta dos, sempre presentes, desafios educativos.
A intenção de desenvolver a pesquisa se
sintetizou em quatro razões principais. A primeira pela necessidade de estudos sistemáticos da
área sobre a temática “materiais didáticos” organizando um projeto amplo que
possibilite o desenvolvimento de um trabalho conjunto com os acadêmicos e
docentes. O segundo, devido à
importância de estudos sistematizados, da realidade escolar e do diálogo ou
interface que a academia pode propiciar sejam eles práticos ou teóricos sobre a
Didática e sua importância no desempenho
escolar tendo em visto que as técnicas poderão ser criadas, testadas e
discutidas em ambientes motivadores. O
terceiro porque existem vários
professores tanto nos contextos escolares quanto acadêmicos que se dedicam ao
desenvolvimento de competências relativas à docência e que podem contribuir
imensamente para as reflexões e os debates formativos do professor nos cursos
de graduação da UFSM. E, o quarto que,
este projeto assumiu as tarefas de ensino, pesquisa e extensão e pode promover
discussões e problematizações da didática e do estágio na formação de
professores.
2.
O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM E OS MATERIAIS DIDÁTICOS
O presente trabalho se insere no
contexto de estudos realizados numa perspectiva de que o profissional professor
é de extrema importância para o futuro da nossa sociedade. Desta forma, depende
de sua formação didática o modo ou modelo operativo que utilizará na construção
de sua prática nos processos que utiliza para a organização das situações de
aprendizagem dos alunos, percebendo-se assim, a importância da Didática.
Consideramos em primeiro lugar, que o
processo de ensino – objeto de estudo da Didática – não pode ser tratado como
atividade restrita ao espaço de sala de aula. O trabalho docente é uma das
modalidades específicas da prática educativa mais ampla que ocorre na
sociedade. Para compreendermos a importância do ensino na formação humana, é
preciso considerá-lo no conjunto das tarefas educativas exigidas pela vida em
sociedade. A ciência que investiga a teoria e prática da educação nos seus
vínculos com a prática social global é a Pedagogia. Sendo a Didática uma
disciplina que estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do
processo de ensino tendo em vista finalidades educacionais, que são sempre
sociais, ela se fundamenta na Pedagogia;é, assim, uma disciplina pedagógica
(LIBÂNEO, 1994, p.15-16).
De maneira geral, a didática é uma área
de aplicação da pedagogia cujo objetivo fundamental é ocupar-se, conforme
Perrenoud (2000), do estudo da organização e direção de situações de
aprendizagem. Isso implica no estudo de estratégias de ensino, questões
relativas a metodologias de ensino situado em um espaço educativo complexo.
Assim, conforme Anastasiou e Alves
(2004) surgiu o termo ensinagem, que indica a superação da visão fragmentada do
processo de ensino e aprendizagem, pois essa é uma “prática social complexa
efetivada entre os sujeitos, professor e aluno, englobando tanto a ação de
ensinar quanto a de aprender em um processo contratual de parceria deliberada e
consciente para o enfrentamento na construção do conhecimento escolar,
decorrente de ações efetivadas na sala de aula e fora dela” (p. 14). Pode-se
dizer que ela funciona como elemento transformador da teoria na prática.
A didática se correlaciona com certo número
de variáveis que são a sua moldura (sistematicamente compreendida) a posição
relacional dos sujeitos em didática, os saberes, as características dos
destinatários, a eficácia dos instrumentos, bem como todas as ulteriores
variáveis das modalidades relacionais e comunicativas (IORI, 2004, p. 28).
Segundo Candau (1984), na atualidade a
perspectiva fundamental da didática é assumir a multifuncionalidade do processo
de ensino-aprendizagem e articular suas
três dimensões: técnica, humana e político-social no centro configurador de sua
temática. O papel da Didática na formação de professores foi também estudado
por Cipriano Luckesi (1991), e alguns conceitos que seguem são um resumo de seu
pensamento sobre o tema. A didática, para assumir um papel significativo na
formação do educador, não poderá reduzir e dedicar-se somente ao ensino de
meios e mecanismos pelos quais desenvolve um processo de ensino-aprendizagem. E
sim, deverá ser um modo crítico de desenvolver uma prática educativa forjadora
de um projeto histórico, que não será feito tão somente pelo educador, mas, por
ele conjuntamente com o educando e outros membros dos diversos setores da
sociedade.
A didática deve servir como mecanismo de
tradução prática, no exercício educativo, de decisões filosóficas, políticas e
epistemológicas de um projeto histórico de desenvolvimento do povo. Ao exercer
seu papel específico estará apresentando-se como o mecanismo tradutor de
posturas teóricas em práticas educativas.
Assim, segundo Candau (1984), a didática
ao longo da história foi desenvolvida de modo linear em suas dimensões técnica,
humanista e político social. Para ingressar no paradigma da didática
fundamental ela deve reafirmar essas suas três dimensões tendo como
possibilidade de desenvolver-se em sentido dialético e conjunto entre suas
dimensões constitutivas. Desta forma, não se trata de negar a dimensão técnica,
mas aliar esta à dimensão humana e político-social.
Segundo Garcia (1994), no
desenvolvimento profissional de professores deve-se considerar que estes são
também pessoas. Assim, nesta pesquisa, considera-se como elemento importante a
dimensão da subjetividade, pois, não basta considerar a existência ou
inexistência de princípios teóricos e práticos da ação docente, bem como os
contextos históricos nos quais se configuraram e se desenvolvem. Precisa-se
considerar que os professores possuem condições de desenvolverem seus próprios
significados a respeito dos processos de desenvolvimento profissional.
Além disso, compreende-se que o foco dos
processos de organização, planejamento e desenvolvimento de materiais didáticos
devem estar pautados sobre a compreensão da aprendizagem humana. Esta é um
fenômeno que decorre de como o sujeito apreende o mundo que o cerca. Por isso,
a aprendizagem é humana e social, mas se processa nos indivíduos de modo
diferente em virtude dos modos pelos quais as experiências humanas são vividas
nos contextos educacionais (PAIN, 1985). Para essa autora, a aprendizagem
humana se processa por meio de códigos, sinais. Ou seja, os professores, no
processo de organização das aprendizagens para os alunos são mediadores de
sinais, de símbolos, de códigos, por isso, os materiais didáticos seriam os
portadores de códigos ou ainda os facilitares dos códigos a serem apropriados
pelos alunos. Desta forma, não são os professores que transmitem conhecimentos,
mas por meio de toda a estruturação didática facilitam a apreensão dos códigos
e, para isso, devem se utilizar de métodos que possibilitam a apreensão do
conhecimento pelos alunos.
Para desenvolver esse processo de
facilitação dos códigos do universo do saber humano é preciso que o professor
conheça como funcionam os códigos, assim como os modos de serem apreendidos
pelos estudantes. Ou seja, é preciso que o professor domine não apenas o
universo dos símbolos que compõe o saber de sua área, mas também como se pode
facilitar o acesso e a apreensão dos códigos. Além disso, precisa conhecer como
se processa a apreensão do conhecimento pelo ser humano, isto é, compreender
como uma pessoa apreende, como funcionam os processos de aquisição do
conhecimento e que variáveis interferem neste apreender. Esse repertório de
saberes pedagógicos devem ser partes constitutivas dos saberes profissionais
docentes.
As aprendizagens dizem respeito a uma forma
de apropriação específica relativa a cada sujeito. Cada aluno faz a apreensão
do conhecimento, não é possível o outro apreender pelo aprendiz, a aprendizagem
requer a premissa da sujeição, isto é, de estar em abertura, em humildade em
situação intencional e voluntária de apreender. O processo de sujeição
significa que é o sujeito que se põem como protagonista histórico da ação que
exerce sobre si mesmo. Ele se coloca no lugar de apreender, na condição de
encontrar uma novidade que irá ser internalizada e que transformará sua
interioridade. Autores como Masseto (apud VASCONCELOS, 2000) entendem que a
aprendizagem é pessoal, diz respeito à pessoa e envolve a pessoa em sua
totalidade de aprendiz. Pain (1985) diz
que para a aprendizagem ocorrer ela está relacionada às estruturas do sujeito.
Ela se dá em um lugar, que é o sujeito e
esse constituído por suas estruturas têm
a possibilidade de apreender. Por isso, considerar esses mecanismos, que
compõe as estruturas do sujeito, são fundamentais para a compreensão dos
códigos por meio dos mediadores de aprendizagem. Toda aprendizagem decorre de
um processo de internalização de sinais que devem ser processados pelos
indivíduos. Esse processo interior de “elaboração” de um saber, para um saber
próprio requer aquisição, armazenamento, organização, utilização em situações
gerais e especificas. Além disso, nesse processo entra emjogo o todo da pessoa,
isso significa que estão em jogo os mecanismos conscientes e inconscientes.
3.
MATERIAIS DIDÁTICOS E AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
A educação, ao longo da história, vem
sofrendo diversas transformações que atingem todos os indivíduos envolvidos no
processo de ensino e aprendizagem. Pode-se analisá-la pelas tendências
pedagógicas, as quais possuem suas características próprias.
Observa-se que nenhuma dessas correntes
esgotou-se, uma vez que todas fazem parte do cotidiano escolar e que de algum
modo estão incorporadas nas práticas pedagógicas. Libâneo diz que
“evidentemente tais tendências se manifestam, concretamente, nas práticas
escolares e no ideário pedagógico de muitos professores, ainda que estes não se
dêem conta dessa influência (2006, p. 21)”. Muitas vezes os docentes alegam não
seguir tal tendência, julgando-a errônea, mas observa-se que tais colocações
são equivocadas, já que em várias situações do cotidiano escolar estas
correntes compõe o seu fazer profissional.
3.1 Pedagogia Tradicional
Nesta tendência pedagógica, o papel da
escola está intimamente ligado com a reprodução de conhecimentos. Esses, por
sua vez, devem preparar o aluno para uma futura posição na sociedade (LIBÂNEO,
2006). A relação de aprendizagem entre professor e aluno acontece com muita
autoridade, pois o professor, ocupando um lugar
de ápice, possui em suas colocações o que realmente é verdadeiro.
Assim o aluno nada sabe, e sua
capacidade está atrelada ao que o professor discorreu. As atividades são feitas
individualmente (a maioria delas simples reproduções do conteúdo repassado) não ocorrendo interação entre
alunos e alunos e entre alunos e professores.
De acordo com a pedagogia tradicional o professor se limita apenas a
transmitir o conhecimento, tornando-se assim a autoridade do saber. O
relacionamento do professor com o aluno é descrito por Libâneo como:
“Predomina
a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos e impede
qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. O professor transmite o
conteúdo como verdade a ser absorvida; em conseqüência, a disciplina imposta é
o meio mais eficaz de assegurar a atenção e o silêncio (LIBÂNEO, 2006, p. 24).”
A memorização é uma das bases dessa
prática pedagógica, uma vez que a pedagogia tradicional acredita que o aluno
deve disciplinar a mente e formar hábitos (LIBÂNEO, 2006). A principal
metodologia de ensino é a aula expositiva. Os alunos são vistos como passivos
frente à aprendizagem, devendo aprender igualmente os conteúdos trabalhados em
sala de aula.
A avaliação é uma forma de verificar se
o aluno reteve o conhecimento passado pelo professor, e não uma oportunidade de
reelaborar o conhecimento. Se o aluno não conseguiu decorar o que o professor
ensinou, é punido com uma nota baixa (a punição incluía, sobretudo, castigos
físicos). Na sua versão mais difundida, a avaliação é feita pontualmente,
através de prova, onde em um único momento, o aluno é testado e seu desempenho
no processo de aprendizagem, ao longo das aulas, tem pouca importância
(LIBÂNEO, 2006).
Em relação aos materiais didáticos,
segundo esta abordagem, eles são descontextualizados, e o que existe é a
utilização do livro didático (apostilas, cartilhas, etc.), giz e quadro
(LIBÂNEO, 1994). Nesta perspectiva, pode-se perceber que o material didático
não possui importância. Ele muitas vezes é pouco ou nem utilizado e não possui
função didática de aprendizagem. Neste sentido, o processo de ensino e
aprendizagem acaba perdendo seu valor e tornando-se precário, pois o aluno
apenas repete o conhecimento e não o re (constrói). Portanto, nesta abordagem,
o material didático é concebido como um suporte, um apoio. Ou seja, ele já está
pronto, concebido, elaborado, e cabe ao aluno, ao contatá-lo assimilar o que
ele antecipadamente possibilita, dentro da perspectiva de que é o objeto que
determina o que deve ser aprendido e o sujeito deve aprender dele.
3.2 Pedagogia da Escola Nova
A Escola Nova contrapõe o que era
considerado “tradicional”. Busca compreender o aluno, reconhecendo as
diferenças individuais existentes dentro de uma classe escolar. Segundo Libâneo
“trata-se de ‘aprender a aprender’, ou seja, é mais importante o processo de
aquisição do saber do que o saber propriamente dito” (2006, p. 25). Libâneo
descreve a educação da escola nova como “um processo interno e não externo; ela
parte das necessidades e interesses individuais necessários para a adaptação ao
meio (...) um ensino centrado no aluno e no grupo” (2006, p. 22).
Um exemplo de movimento escola novista é
a Pedagogia Montessoriana que passou a fazer parte da metodologia de
ensino-aprendizagem dos educadores, onde os instrumentos utilizados para educar
são utensílios domésticos que fazem parte do cotidiano da criança – pratos,
copos, vasos de flor, mesa, cadeiras, cortinas, porta, janelas etc. De acordo
com esta corrente tudo pode ser utilizado como material, porque a educação
acontece durante a vida, então tudo faz parte das aprendizagens e tudo entra
dentro do universo escolar como importante (MONTESSORI, 1972).
Na concepção dos escolas novistas o
aluno é o centro das atividades escolares, é um ser ativo e curioso. Surge a
valorização do “eu” do aluno e também as atividades adequadas as suas
características individuais (LIBÂNEO, 2006). A autoridade do professor não
entra mais em prática, e sim a sua capacidade de auxiliar o aluno em suas
tarefas escolares. Conforme Libâneo “não há lugar privilegiado para o
professor; antes, seu papel é auxiliar o desenvolvimento livre, e espontâneo da
criança; se intervém, é para dar forma ao raciocínio dela” (2006, p. 26).
Ghiraldelli relata que,
O Movimento da Escola Nova enfatizou os
“métodos ativos” de ensino-aprendizagem, deu importância substancial à
liberdade da criança e ao interesse do educando, adotou métodos de trabalho em
grupo e incentivou a prática de trabalhos manuais nas escolas; além disso,
valorizou os estudos de psicologia experimental e, finalmente, procurou colocar
a criança (e não mais o professor) no centro do processo educacional
(GHIRALDELLI JR, 1991, p. 25).
Segundo Saviani, “a escola nova
pretendeu reformular internamente o aparelho escolar” (1985, p. 29), pois além
das mudanças no processo de ensino-aprendizagem, mudou também o ambiente
escolar, as escolas passaram de lugares sombrios para escolas coloridas,
alegres, movimentadas e bem equipadas. Esta mudança física une-se à mudança de
concepção de aula e de métodos utilizados para ensinar-aprender, isso é de
grande importância, pois os materiais didáticos devem ser atrativos, estimular
a curiosidade e o interesse dos educandos, como também aguçar seus sentidos e
facilitar a aprendizagem.
Do ponto de vista dos materiais
didáticos, começa a surgir a introdução de alguns jogos como materiais
alternativos e estratégias pedagógicas. As aulas tornam-se participativas e
comunicativas. Cada professor tentava criar um estilo próprio de trabalho. O
lúdico começa a ser levado em consideração em sala de aula, acredita-se que o
lúdico facilita a aprendizagem, porque aproxima o cotidiano da criança ao
conhecimento. O mesmo acontece com a utilização de materiais didáticos de forma
lúdica, como jogos, filmes e brincadeiras. A simbologia presente nestes
momentos faz com que a criança aproxime os conhecimentos propostos durante
estas atividades do seu cotidiano, internalizando o conhecimento de forma
significativa e prazerosa.
3.3 Pedagogia Tecnicista
A abordagem tecnicista propõe uma
pedagogia embasada na racionalidade técnica, eficiência e eficácia da
produtividade. O foco principal não é o sujeito e sim o objeto, provocando a
fragmentação do conhecimento entre corpo e mente. A escola tecnicista é
fundamenta em três pilares: o empirismo, o positivismo e o pragmatismo.
Nesta abordagem o professor torna-se
neutro frente aos seus conteúdos. Acredita-se que para ter uma boa educação a
escola tem que estar equipada (com jogos na sala, laboratórios organizados,
etc.); não se preocupando com a aprendizagem dos alunos, pois se a escola está
bem equipada, a aprendizagem é uma conseqüência. A educação é vista como um
instrumento capaz de desenvolver economicamente o país pela qualificação da
mão-de-obra, como ilustra Libâneo:
À educação escolar compete organizar o
processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos,
úteis e necessários para que os indivíduos se integrem na máquina do sistema
social global. (...) A escola atua, assim, no aperfeiçoamento da ordem social
vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema
produtivo (...) seu interesse imediato é o de produzir indivíduos “competentes”
para o mercado de trabalho. (LIBÂNEO, 2006, p.28-29)
Em outras palavras, a escola serve para
preparar mão-de-obra qualificada para o mercado de trabalho atual. Nem o
professor nem o aluno são os centros desta perspectiva, mas sim a tecnologia. O
professor se torna um mero especialista na aplicação de manuais e sua
criatividade fica restrita aos limites da técnica utilizada. O aluno é apenas
um indivíduo que reage aos estímulos dados pela técnica do professor, tendo que
corresponder às respostas esperadas pela escola para ter êxito e avançar para a
próxima etapa. Nem seus interesses nem seu processo particular de aprendizagem
são considerados, ele deve ajustar seu ritmo de aprendizagem ao programa que o
professor implementar (LIBÂNEO, 2006).
Na perspectiva dos materiais didáticos,
assim como o foco desta corrente é o objeto, a tecnologia; os materiais
didáticos acabam se tornando secundários
em sala de aula, pois o importante não é utilizá-los, mas tê-los. Ou seja, esta
corrente tem como protagonista os equipamentos (laboratórios organizados, salas
específicas etc.), negligenciando ou ignorando a maneira como eles são
utilizados. O professor por ser neutro em sala de aula, acaba se tornando
apenas um mero transmissor entre o aluno e o conhecimento contido nestes
materiais.
3.4 Pedagogia Crítico-social dos
conteúdos
A Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos
surge no final dos anos 70 e início dos 80. Esta corrente dá ênfase aos
conteúdos, confrontando-os com a realidade social, bem como às relações
interpessoais e ao crescimento que delas resulta centrado no desenvolvimento da
personalidade do indivíduo, em seus processos de construção e organização
pessoal da realidade.
Compreende que não basta ter como
conteúdo escolar às questões sociais atuais, mas é necessário que o aluno possa
se reconhecer nos conteúdos e modelos sociais apresentados para desenvolver a
capacidade de processar informações e lidar com os estímulos do ambiente,
buscando ampliar as experiências e adquirir o aprendizado.
Sobre a questão dos conteúdos a serem
abordados, Libâneo comenta que: “embora se aceite que os conteúdos são
realidades exteriores ao aluno, que devem ser assimilados e não simplesmente
reinventados, eles não são fechados e refratários às realidades sociais” (1986,
p. 39).
A escola é parte integrante do todo
social e deve servir aos interesses populares garantindo um bom ensino,
preparando o aluno para o mundo, proporcionando-lhe a aquisição dos conteúdos
concretos e significativos, fornecendo-lhe instrumentos para a sua inserção no
contexto social de forma organizada e ativa. Neste contexto, o professor é o
mediador, cuja função é orientar e abrir perspectivas numa relação de troca
entre o meio e o aluno, a partir dos conteúdos.
Os métodos desta tendência buscam
favorecer a coerência entre a teoria e a prática, ou seja, a correspondência
dos conteúdos com os interesses dos alunos. Segundo Libâneo, a questão dos
métodos se subordina à dos conteúdos: se o objetivo é privilegiar a aquisição
do saber, e de um saber vinculado às realidades sociais, é preciso que os
métodos favoreçam a correspondência dos conteúdos com os interesses dos alunos.
(LIBÂNEO, 2006, p.40)
O professor busca verificar o que o
aluno já sabe, pois o conhecimento novo se apóia numa estrutura cognitiva já
existente, ou verificar a estrutura que o aluno ainda não dispõe para que haja
uma compreensão tanto do aluno como do professor e, através da disposição de
ambos, possa se fazer aprendizagens significativas. Para Libâneo, aprender,
dentro da visão da pedagogia dos conteúdos, é desenvolver a capacidade de
processar informações e lidar com estímulos do ambiente, organizando os dados
disponíveis da experiência. Em conseqüência, admite-se o princípio da
aprendizagem significativa que supõe como passo inicial, verificar aquilo que o
aluno já sabe. O professor precisa saber (compreender) o que os alunos dizem ou
fazem, o aluno precisa compreender o que o professor procura dizer-lhes. A
transferência da aprendizagem se dá a partir do momento da síntese, isto é,
quando o aluno supera a visão parcial e confusa e adquire uma visão mais clara
e unificadora. (LIBÂNEO, 2006, p. 42)
Assim, a aprendizagem se dá quando o
aluno ultrapassa sua visão parcial e confusa e adquire uma visão mais clara e
unificada. Nesta perspectiva, os materiais didáticos, como meios facilitadores
da aprendizagem, devem ser associados à realidade sócio-cultural dos educandos,
pois assim o professor os utilizará tendo como pressuposto a realidade de seus
alunos, tornando a aprendizagem significativa e eficaz. Este material deve ser
pensado, também, de acordo com o contexto onde a escola está inserida,
tornando-se ainda mais atrativo e provocar a curiosidade das crianças. Deve ele
ser produzido e elaborado com o intuito de estimular habilidades e desenvolver
o aluno por completo (intelectual social e pessoal).
Do ponto de vista da pedagogia
ontopsicológica (MENEGHETTI, 2006), pode-se compreender outra visão dos
processos educativos. Esta se preocupa com a formação integral do ser humano, e
fundamental é fazer com que a pessoa aprenda a si mesmo, conheça a si e
desenvolva-se na história segundo sua intrínseca especificidade, sua unicidade.
Deste modo, todos os sinais culturais, toda a mediação de materiais devem
portar ao desenvolvimento íntegro do potencial humano e criativo que todo ser
humano é, antes de ser professor ou aluno, estes agentes do processo educativo
são pessoas e os sinais culturais devem prestar um serviço ao humano, o
primeiro e prioritário serviço é de conhecer quem é, que potencial possui e
auxiliar a pessoa a desenvolver o seu potencial na história. Deste modo, o
primeiro e insubstituível recurso didático é a inteligência humana.
Desenvolvê-la segundo a idêntica
natureza individuada em cada ser humano faz com que o principal arquiteto de
toda a existência e de toda a aprendizagem seja um aprendiz responsável por
desenvolver-se e ao desenvolver-se auxilia o outro a encontrar o seu caminho de
realização pessoal dentro de toda a possibilidade histórica e cultural na qual
estes sujeitos vivem. O material didático ou o processo didático não pode
prescindir de considerar o humano no processo educativo. Excluído esse elemento
fulcro, não se justifica mais o ato ou processo educativo. Por isso,
desenvolver a subjetividade de ambos é uma condição imprescindível (MENDES e
GIORDANI, 2007).
4.
AS DIFICULDADES COM MATERIAIS DIDÁTICOS NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM
Os materiais didáticos, utilizados em
aula, possuem a função de mediação, de forma que facilitem as crianças a construção
dos conhecimentos escolares. A sua relevância tem sido muito discutida, uma vez
que nesta pesquisa sobre os mesmos, chegou-se a conclusão que eles são muito
considerados pelos docentes, porque facilitam de forma agradável o
desenvolvimento do conhecimento infantil.
A pesquisa foi realizada através de
questionários, por meio da qual foram feitas perguntas relacionadas aos
materiais didáticos, usos e funções. Indagou-se 35 professores dos diferentes
graus da educação básica. As questões 1, 2 e 4 foram analisadas juntas, uma vez
que ambas expressam as dificuldades, dos professores, dos alunos e os temas
difíceis de serem trabalhados. A primeira questão, que aborda sobre os
conhecimentos difíceis de serem ensinados, relata que o resultado obtido
confirmou o que se observa nas escolas, uma vez que a dificuldade no ensino e
aprendizagem da matemática e da língua portuguesa ainda hoje estão presentes no
dia a dia escolar. Estas continuam sendo caracterizadas pelos professores como
um “grande problema”. 12 professores citaram dificuldades na matemática e 11 na
área de língua portuguesa.
Dentre as dificuldades alegam:
- AI1: “As quatro operações, construção
de frases e textos, raciocínio lógico”, são para ele os conhecimentos mais
difíceis de serem ensinados.
- AI5: “Alguns aspectos da produção de
texto (pontuação, coerência,concordâncias).
Também alguns aspectos da alfabetização,
divisão, expressões numéricas, classes de palavras, números fracionários,
decimais etc.” são os conhecimentos mais complicados de serem ensinados.
Ferreiro (2002, p. 12) salienta que
“Todos os problemas da alfabetização começaram quando se decidiu que escrever
não era uma profissão, mas uma obrigação, e que ler não era uma marca de
sabedoria, mas de cidadania”. Assim pode-se observar que, para a criança a
obrigação de atingir determinados conteúdos prejudica o seu ato de
aprendizagem, pois a espontaneidade infantil é dominada por uma obrigação
incapaz de fazer com que a criança sinta prazer ao dedicar-se a esse tema.
Posteriormente o indivíduo AI14 disse
que “A multiplicação e a divisão são os conhecimentos mais complexos para
ensinar, devido ao fato das crianças estarem na fase do concreto, por mais que
trabalhe com o material dourado, mesmo assim fica difícil a compreensão”. Conclui-se
então, que os professores sentem muita dificuldade em auxiliar os alunos para
que construam os conhecimentos, uma vez que eles necessitam apreender este de
modo a conseguirem entender todo o processo que os levará para uma
aprendizagem, posterior, mais ampla.
Observa-se neste depoimento a carência
do aspecto didático metodológico e também a transparência de certa frustração
pedagógica na medida em que o profissional não consegue, apesar de realizar
esforços, propiciar um processo de aprendizagem de modo com que seus alunos
consigam compreender e desenvolver suas potencialidades intelectivas. O
conhecimento não se torna “conhecer pelo conhecer”, mas com a finalidade de
“ser”. Ou seja, por meio do conhecimento o homem descobre a si e torna-se mais
humano. Contudo, a dimensão humana foi excluída das práticas pedagógicas
escolares, visto que o conhecer possui uma finalidade de ter e não de saber
para ser, tornar-se melhor (GIORDANI, 2000).
Investigou-se também sobre quais conteúdos os alunos apresentam dificuldades
em aprender. Os resultados demonstram que, assim como os docentes, os discentes
também visualizam a matemática como algo extremamente complicado de ser
entendido e apreendido. Os docentes citam algumas dificuldades:
O indivíduo AI2 diz que “Trabalho com o
2º ano dos 9 anos. Encontro alunos que repetem a mesma série a 4 anos. Faço
atividades diferentes, jogos de montar, encaixar e outros, e mesmo assim com
estes repetentes não consigo fazer comque eles aprendem. Os outros alunos que
não são repetentes já lêem e produzem frases. Então a maior dificuldade é na
alfabetização.”
O sujeito AI10 relata que “Acredito
também que os alunos apresentam maior dificuldade de aprender os decimais e
também na produção textual”. O docente AI17 descreve que a “Leitura e
interpretação, pontuação, subtração com reserva, interpretação de histórias
matemáticas (multiplicação, divisão, subtração e adição), fotossíntese,
ortografia” são muito abstratos para a compreensão dos alunos.
Observa-se que as dificuldades nas
práticas pedagógicas de ensino, permanecem os já clássicos problemas que foram
abordados por estudos, contudo pergunta-se, porque apesar dos estudos e
compreensões a respeito das dificuldades dos professores no ensino destas
teorias, os docentes ainda permanecem com tais dificuldades? Não será que para
além das reflexões teriam que ser investidos esforços no âmbito dos aspectos
metodológicos do processo de ensino-aprendizagem? Que cultura escolar está
sustentando essas práticas?
Outra questão investigada diz
respeito aos conteúdos que os professores gostariam de dispor de
materiais didáticos, uma vez que os mesmos ajudariam de alguma forma na
construção do conhecimento pelo discente. Encontrou-se diversas respostas,
entre elas:
- AI6 diz que gostaria de obter
materiais sobre “Matemática(sistema fracionário)”.
- AI10 relata que os materiais lhe
ajudariam na “Geometria e sistema de medidas”.
- AI15: “Jogos que ajudam na construção
de conceitos matemáticos (número, quantidade, adição, subtração, etc.) jogos
que ajudam na alfabetização”, tornariam
a aprendizagem do aluno mais significativa e os ajudariam no processo de ensino
e aprendizagem.
Analisando essas três questões, tira-se
por conclusão que as dificuldades dos alunos, são as mesmas que os professores
possuem para ensiná-los. Diante desses dados pergunta-se: porque o profissional
que tem a formação específica (letras e matemática) possui dificuldades de
ensino em sua área e porque a criança apresenta dificuldade de aprendê-las?
Estas são áreas que requerem o desenvolvimento da função simbólica e da lógica.
Exatamente estas funções as quais os jogos e materiais didáticos poderiam
tornar-se excelentes mediadores uma vez que trabalham com a capacidade
representativa, a abstração e possibilidade de lógicas complexas com as regras
e exigências do jogo.
5.
MATERIAIS DIDÁTICOS E PRÁTICA DOCENTE
Quando foi perguntado se os jogos
didáticos ajudariam o trabalho de ensino do educador, as respostas foram quase
unânimes, uma vez que eles concordaram plenamente na utilização dos mesmos para
a construção do conhecimento infantil.Dos 35 professores, 32 responderam
positivamente, dizendo que os materiais ajudariam no trabalho de ensino, dos
educadores. Um descreveu que nem sempre os materiais ajudam, outro respondeu
que talvez e por fim o último sujeito disse “que somente os jogos, são
impotentes”.
Confirmando a visão positiva dos
materiais didáticos observou-se nas respostas dos docentes:
- AI3: “Com certeza. Porque aproxima ao
real, ao que a criança consegue compreender”.
- AI9: “Com certeza ajudariam e
tornariam as aulas mais significativas. Mas para isso, é necessário o uso
adequado dos jogos didáticos, isto é, eles precisam ser adequados aos objetivos
propostos, aos conteúdos e à metodologia empregada”.
- AI10: “Com certeza, pois os jogos como
a recreação, são nossos aliados.
Portanto, acredito que eles podem promover uma melhor aprendizagem, pois
qualquer conteúdo se aprende com maior facilidade quando se trabalha com
material concreto”.
- AI16: “Sim, ajudaria muito, pois
trabalhando com o concreto, os alunos visualizam mais e o aprendizado se torna
mais fácil”.
Os professores consideram os materiais
didáticos de suma relevância, uma vez que eles colaboram diretamente na
construção de novos conhecimentos. Essas repostas mostraram que a teoria é
muito importante para o aluno, mas com ela é preciso dispor de instrumentos
reais, que fazem com que a aprendizagem do educando seja de fato significativa.
Ainda são presentes as cisões entre teoria e prática e estas devem ser
superadas, pois não serão os materiais didáticos ou as tecnologias que estes
comportam em si mesmos que irão ultrapassar estas barreiras. Ambas, teoria e
prática são importantes para a aprendizagem, uma vez que o professor deve ver
nesses instrumentos, meios que poderão apoiar o seu processo de ensino e
aprendizagem, já que eles começam a tomar conta das salas de aula.
Os entrevistados descreveram também,
inúmeros materiais didáticos que ajudariam no desenvolvimento de certas
disciplinas. Os materiais mais citados foram jogos em geral e dominó, sendo que
eles fazem parte da realidade dos educados, pois esses são, para os
professores, instrumentos fundamentais de trabalho. Ferreiro (2008, p.
32-33-34) diz que “um fator freqüentemente mencionado como necessário para
facilitar as ações de alfabetização é a
produção de materiais”. A autora distingue três tipos de materiais: a)
materiais dirigidos aos professores; b) materiais para ler; c) materiais para
alfabetizar.
Os primeiros são empregados para o
professor verificar como anda a sua prática profissional. Os outros devem ser
dos mais diversos tipos, para que os alunos possuam diferentes formas de textos
ao seu alcance, são definidos como livros, revistas, dicionários, folhetos,
embalagens e rótulos comerciais, receitas, embalagens de medicamentos. E por
último, a autora salienta a importância dos significados para a criança, uma vez que a aprendizagem da
leitura e da escrita deve ser feita através de textos que contenham
características reais do espaço onde o discente habita. Já que muitos livros
apresentam textos advindos de lugares muitos distantes que não levam em
consideração o ambiente social da criança.
A maior parte dos professores acredita
na utilização dos materiais didáticos, mas muitos têm alguns aspectos que
consideram mais importantes, uma vez que para estes os materiais precisam
apresentar determinadas características. Na indagação feita sobre que tipo de
material os professores consideravam bom obteve-se várias repostas. Dos 35
professores questionados, dois responderam que o material precisa possibilitar
prazer, três descreveram que o aluno precisa despertar, onze responderam que o
aluno precisa compreender o conteúdo com o instrumento utilizado. Os demais
responderam questões descritas abaixo. Conforme dito, vê-se a seguir algumas
respostas completas dos professores.
- AI2 diz que um material bom é “Aquele
material que o aluno manuseia e faz com que o aluno desperte”.
- AI5 diz que “Considero bom o material
didático que seja eficiente, que sirva de instrumento para que o aluno entenda
e exercite o conteúdo de forma lúdica e prazerosa”.
- AI13 diz que “O material deve ser de
qualidade, bem colorido e bem elaborado; adequado a faixa etária do aluno”.
Ao final da análise da questão,
observou-se que os professores preocupam-se com a compreensão pelo aluno dos
conteúdos, uma vez que para eles um material só atinge o seu êxito se o aluno
entender e apreender os conhecimentos trabalhados. De fato, o material didático
pode ser justificado no trabalho pedagógico quando é um excelente mediador do
processo de construção do conhecimento pela criança. Deste modo, quando este
consegue atingir o melhor resultado na aprendizagem dos discentes está
atingindo seu sentido de ser.
6.
FORMAÇÃO CONTINUADA: PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS
Questionou-se também, se os professores
haviam feito algum curso de formação com o objetivo de trabalhar e construir
materiais didáticos para serem utilizados em sala de aula. Dos 35 professores,
21 responderam que sim, que já efetuaram cursos para fazer materiais didáticos
e 14 responderam que não, que nunca tiveram nenhuma formação sobre o assunto.
Perguntou-se se os professores constroem
seus próprios instrumentos de ensino e aprendizagem e se eles possuem
dificuldades em construí-los. As respostas foram as seguintes: dos 35, 28
responderam que sim, que fazem seus utensílios,um respondeu que “Não ou muito
pouco”, outro disse que “Dificilmente constrói” e cinco alegaram não efetuar a
construção de seus próprios instrumentos de trabalho.
Na outra questão sobre as dificuldades
de construir os materiais, doze professores responderam dificuldade na falta de
tempo, dez descreveram que o problema está na compra do material e falta de
recursos financeiros, quatro argumentaram falta de uma formação específica,
sete responderam que não encontram nenhuma dificuldade e dois disseram que
sentem dificuldades na escolha do material.
Portanto, observa-se que os maiores
vilões para os professores na construção de instrumentos de trabalho são a
compra do material e a falta de tempo. Seguem algumas respostas dos docentes.
- AI1: “Encontro. Na escolha do
material”.
- AI2: “As maiores dificuldades vem da
compra dos materiais, que muitas vezes é particular”.
- AI5: “As principais dificuldades
encontradas são a falta de tempo devido ao excesso de carga horária. Em alguns
casos a falta de recursos financeiros das escolas, bem como a falta de formação
específica para a construção de material didático eficiente.
- AI7: “A principal dificuldade é a
compra dos materiais que geralmente é o professor que tem que conseguir o mesmo
e pagar por ele e o tempo para construção”.
- AI9: “As dificuldades encontradas são
aquelas referentes à aquisição do material para a construção dos recursos
didáticos, pois a escola não tem como oferecer e quando solicitado aos alunos,
muitos não conseguem colaborar, e assim fica a cargo do professor a compra do material necessário.
Por isso, o uso diversificado de recursos didáticos fica comprometido. Quando
percebe-se, está trabalhando sempre com os mesmos materiais”.
- AI12: “Dificilmente construo, pois há
falta de tempo e também de sugestões de algo prático e acessível. Já construí
jogos em outros níveis de ensino como: pré e 3ª série”.
- AI15: “Encontro alguma dificuldade
porque não sou muito habilidosa na confecção e às vezes tenho pouco tempo para
dedicar a esta atividade”.
Os professores relatam dificuldades para
comprar os materiais e falta tempo para construí-los. Muitos professores com
jornada de trabalho de 40 horas não elaboram o material concreto e expressam
que muitas vezes o material comprado pronto torna-se sem significado para a
criança, pois vem de lugares distantes e não
oferecem a noção de realidade no processo de ensino e aprendizagem.
Deste modo, a multiplicidade cultural que está subjacente às relações sociais
desaparece dos contextos escolares, fica dissimulada e condicionada a uma única
leitura de realidade possível – daquela produzida pela indústria de materiais
pedagógicos.
7.
CONCLUSÃO
Na pedagogia escolar, os aspectos
técnicos do trabalho docente ao longo do tempo, em virtude da abordagem
tecnicista e das críticas feitas a ela pelas abordagens críticas acabaram
gerando um tipo de entendimento que negou o caráter técnico da prática docente.
Por isso, pesquisar materiais didáticos significa re-propor esta discussão sob
um novo olhar de pedagogia, neste caso, a pedagogia ontopsicológica
(MENEGHETTI, 2006) que, pressupõe como princípio primeiro a inteligência humana
fulcro de toda e qualquer ação educativa, seja para o professor que para o
aluno. Deste modo, compreendendo o homem – professor ou aluno – pode-se
perceber que por meio do material didático ambos podem exercer um protagonismo
de desenvolvimento de suas potencialidades. Este atuar e desenvolver-se porta a
autonomia e capacidade crítica e criativa da ação docente e da ação aprendiz.
Nesta pesquisa buscou-se identificar
como os docentes utilizam, e se utilizam materiais pedagógicos em suas relações
de ensino e aprendizagem. Ao final da análise verificou-se que, os docentes
possuem uma idéia fixa de que os materiais didáticos precisam ser comprados
para terem o seu devido valor. Assim, eles desconhecem a importante ação que o
material produzido pelo docente pode causar, sendo que, ao conhecer as diversas
dificuldades dos alunos, os professores podem desenvolver materiais que
consigam saciar as mesmas. Os materiais didáticos, não obstante os avanços no campo
da didática e da compreensão dinâmica entre ensino e aprendizagem ainda não
incorporou os princípios didáticos que ao longo da história da educação foram
sendo construídos e podem ser relidos em novos contextos de práticas
educacionais.
O problema de aprender e de ensinar pode
estar relacionado aos múltiplos e variados fatores, uma vez que as práticas
pedagógicas escolares demonstraram ainda uma dificuldade de incorporar no
trabalho com materiais didáticos novas leituras e possibilidade de visão pedagógica.
Os professores dizem acreditar na importância da utilização de materiais
didáticos para a construção do conhecimento infantil, uma vez que para eles o
concreto é de maior valia à criança, pois ela tem em mãos aquilo que teria
apenas na teoria. Deste modo, observou-se com essa pesquisa que existe a
preocupação dos docentes para com a aprendizagem dos seus alunos, em suas
falasse manifestaram dizendo que querem tentar de alguma forma fazer a
diferença na escola, através da utilização de utensílios e instrumentos que
tentam facilitar a aprendizagem infantil.
Contudo, os dados desta pesquisa também
revelam que não obstante exista no campo da pedagogia um longo percurso do
ponto de vista das visões sobre o material didático e que este está diretamente
relacionado com a concepção pedagógica que o professor adota, ainda parece que
esta questão “materiais didáticos” não faz parte da sua visão de ensino,
aprendizagem etc. Pode-se dizer que, parece que estes não compõe o conjunto da
visão pedagógica do professor e na prática aparece apenas com uma concepção
mais tradicional ou às vezes mais escola novista de pedagogia. Não se encontrou
na pesquisa nem mesmo uma visão de materiais didáticos com uma postura historicizada
ou contextualizada relativa à pedagogia histórico-crítica.
Os dados desta pesquisa apresentaram
algumas preocupações ao grupo de pesquisadores. E, neste contexto, levantou-se
alguns questionamentos: será que não falta aos professores uma qualificação no
campo da didática e em especial na compreensão acerca dos aspectos do
desenvolvimento e da aprendizagem das crianças? Não será que os professores
precisariam incorporar em toda a sua prática pedagógica os princípios do
desenvolvimento humano e da aprendizagem humana, revendo profundamente os seus
significados e suas implicações? Não será que teríamos que investir em uma
pedagogia para a formação docente mais voltada à formação de sua pessoa como um
todo?
Enfim, essas questões poderiam favorecer
a adoção de novos pilares sobre os quais podem ser construídas as competências
profissionais do docente. Porisso, o docente, muitas vezes carecendo dos
aspectos didáticos e da compreensão de como o ser humano aprende e se
desenvolve, ainda possui dificuldades de aplicar em sua prática os princípios conceituais, os
quais, do ponto de vista de sua posição política defende e concorda. Desta
forma, transformar o discurso pedagógico em efetiva prática que transforme a
realidade do cotidiano profissional ainda é um desafio que deve ser enfrentado
nos cursos de formação inicial e continuada de professores.
Por outro lado, pode-se compreender
também que os reflexos da abordagem positivista e da tecnicista permanecem
internalizados nos professores e em propostas de alternativas educacionais. De
fato, exercer as múltiplas dimensões do processo de ensino-aprendizagem, que
segundo Candau (1984) são a humana, técnica e político-social, implica uma
postura interdisciplinar. Isto é, perceber que o modo com que os professores utilizam os materiais didáticos e
os percebem podem conter princípios de
uma abordagem pedagógica as quais eles mesmos não são de acordo,
rejeitam e tentam ultrapassar.
Os materiais didáticos fazem parte do
quotidiano dos educandos, mas sabe-se que muitas vezes esses instrumentos,
encontrados nas escolas, provem de lugares tão distantes que não condizem em
nada com a realidade dos alunos. Sendo assim, aprofundou-se o tema dos
materiais didáticos na ação do docente, ou seja, na apreensão pelo aluno de conhecimentos
e na reconstrução destes. Visto que, muitas vezes, os professores acreditam não
possuir capacidade de fabricar seus próprios instrumentos de aprendizagem,
salientou-se que depende dele a criatividade utilizada na fabricação, já que,
ao criar ele coloca em prática aquilo que o aluno possui dificuldade, ou seja,
o que o discente precisa para desenvolver-se de forma mais significativa.
Sabe-se que os materiais didáticos são mediadores de aprendizagem, contudo,
dentro desse contexto devem ser construídos de modo reflexivo e provocativo,
propiciando aprendizagens múltiplas, tanto para o docente quanto para o aluno.
Os materiais didáticos não devem ser menosprezados, nem mesmo são as soluções
para todos os problemas de aprendizagem, contudo, devem ser considerados e
estudados.
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