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“Educação, Didática, Pedagogia e Andragogia”, de autoria de Álaze
Gabriel. Disponível em http://educacaodidaticapedagogiaeandragogia.blogspot.com.br/
LETRAMENTO
versus ALFABETIZAÇÃO
A criança quando entra na escola, não chega vazia,
ela já tem os seus conhecimentos, suas leituras de mundo, ela aprenderá a ler e
a escrever (alfabetização) na escola. O mundo sofre constantes
transformações e com ele também a educação, apesar desta, caminhar de
forma mais lenta. Nos últimos anos surgiu entre os pensadores da educação um
novo termo chamado letramento para que se pudesse estar refletindo a respeito
das concepções que se tinha até então.
A princípio, letramento se confundiu com
alfabetização, mas estudos mais profundos fizeram com que esses dois
conceitos se distinguissem. O letramento está acima da alfabetização, é
mais abrangente.
O letramento não ocorre apenas durante determinado
tempo da vida do indivíduo, ele acontece antes e durante a alfabetização e
continua para todo o sempre, ou seja, letramento é o desenvolvimento do
indivíduo no mundo letrado. A criança quando entra na escola, não chega vazia,
ela já tem os seus conhecimentos, suas
leituras de mundo, ela aprenderá a ler e a escrever (alfabetização) na escola, mas isso não basta, temos que saber fazer uso dessa leitura e escrita; não é suficiente apenas deco dificar as letras, temos que responder às exigências que a sociedade nos remete (pede) continuamente.
leituras de mundo, ela aprenderá a ler e a escrever (alfabetização) na escola, mas isso não basta, temos que saber fazer uso dessa leitura e escrita; não é suficiente apenas deco dificar as letras, temos que responder às exigências que a sociedade nos remete (pede) continuamente.
Saber ler, escrever, interpretar e ainda fazer o
uso correto dessas habilidades é fundamental hoje, temos que saber fazer a
leitura de tudo que nos rodeia, a leitura de mundo, exercer o papel realmente
de cidadão é indispensável. Temos que refletir sobre todas essas questões, pois
nem sempre quem é alfabetizado é letrado, pois como já dizia Paulo Freire:
“Todos nós sabemos alguma coisa, todos nós ignoramos alguma coisa, por
isso aprendemos sempre”. O ato de ler e escrever deve começar a partir de uma
compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos
fazem antes de ler a palavra.
Até mesmo historicamente, os seres humanos primeiro
mudaram o mundo,
depois revelaram o mundo e a seguir escreveram as palavras. Não é novidade que o Brasil ainda enfrenta insistentemente o problema do analfabetismo, tanto de crianças que saem da escola e de outros que não tiveram a oportunidade de se apropriarem do saber da leitura e escrita. É fato que o nosso país possui um número significativo de indivíduos que não adquiriram o saber necessário para atender às exigências de uma sociedade letrada.
depois revelaram o mundo e a seguir escreveram as palavras. Não é novidade que o Brasil ainda enfrenta insistentemente o problema do analfabetismo, tanto de crianças que saem da escola e de outros que não tiveram a oportunidade de se apropriarem do saber da leitura e escrita. É fato que o nosso país possui um número significativo de indivíduos que não adquiriram o saber necessário para atender às exigências de uma sociedade letrada.
De acordo com informações (MEC/INEP, 2001) cerca de
980.000 crianças na 4ª série do ensino fundamental não sabem ler, e mais de
1.600 são capazes de ler apenas frases simples. Recentemente, a Rede Globo,
através do Programa semanal “Fantástico”, fez uma pesquisa intitulada “Provão
do Fantástico” aplicada em 27 capitais brasileiras (somente em escolas públicas),
e avaliou que mais da metade dos alunos não é capaz de responder a questões que
requerem raciocínio e 60% só conseguem identificar informações muito simples.
Esses, seriam apenas mais alguns dados para pessoas
comuns, mas é algo
extremamente alarmante para o educador. É neste ponto que entra a grande questão da intervenção do educador e a inclusão da prática geradora do letramento.
extremamente alarmante para o educador. É neste ponto que entra a grande questão da intervenção do educador e a inclusão da prática geradora do letramento.
LETRAMENTO:
ONDE, COMO E POR QUE FOI CRIADO ESTE TERMO?
O vocábulo é um tanto quanto fora do comum para
muitos profissionais da área da educação e, principalmente, para os acadêmicos
desse setor. Há alguns anos, pode-se dizer que menos de vinte, esse vocábulo
surgiu entre os lingüistas e estudiosos da língua portuguesa, e então passou a
ter veiculação no setor educacional.
Constatou-se que uma das primeiras menções feitas
deste termo ocorreu em no mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística
(1986) por Mary A. Kato, segundo Magda Soares (2003: 15). A mesma registra,
nesta obra, que foram feitas buscas em dicionários da língua portuguesa quanto
ao significado da palavra, no dicionário Aurélio, por exemplo, nada foi
encontrado, bem como também, não foi encontrado o verbo “letrar”, porém, o
Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa de Caldas Aulete, com edição
constando de mais de um século, contém o verbete com o simples significado de
“escrita”. Ela ressalta, ainda, que no mesmo dicionário esse vocábulo é
classificado como “antiquado”. Ora, logo, este termo caiu em desuso há bastante
tempo em nossa língua. Então, por que este termo tem sido utilizado agora com certa freqüência nos campos educacionais e lingüísticos?
tempo em nossa língua. Então, por que este termo tem sido utilizado agora com certa freqüência nos campos educacionais e lingüísticos?
Devemos esclarecer que esse vocábulo não tem sido
usado, atualmente, com a denotação supracitada. O termo se originou de uma
versão feita da palavra da língua inglesa “literacy”, com a representação
etimológica de estado, condição, ou qualidade de ser literate, e literate é
definido como educado, especialmente, para ler e escrever.
Nos dicionários da língua portuguesa o termo
alfabetizado diz respeito ao indivíduo que somente aprendeu a ler e escrever,
não se diz que é o que adquiriu o estado ou condição de quem se apossou da
leitura e da escrita, e que responde de maneira satisfatória as demandas das
práticas sociais. Ainda, ampliando a abrangência da alfabetização, podemos
analisá-la à medida que esta reproduz a “formação social existente, ou como um
conjunto de práticas culturais que promove a mudança emancipadora” (DONALDO,
1990: 10).
Leda Verdiani Tfouni, em “Letramento e
alfabetização” (1995), afirma que a alfabetização, por muitas vezes, está sendo
mal entendida: Há duas formas segundo as quais comumente se entende a
alfabetização: ou como um processo de aquisição individual de habilidades
requeridas para a leitura e escrita, ou como um processo de representação de
objetos diversos, de naturezas diferentes. O mal-entendido que parece estar na
base da primeira perspectiva é que a alfabetização é algo que chega a um fim, e
pode, portanto, ser descrita sob a forma de objetivos instrucionais. Como
processo que é parece-me antes que o que caracteriza a alfabetização é a sua
incompletude.
Com isso, fica subentendido, pelo aspecto
sociointeracionista, que a alfabetização do individuo, é algo que nunca será
alcançado por completo, não há um ponto final. A realidade é que existe a
extensão e a amplitude da alfabetização no educando, no que diz respeito às
práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita.
Neste âmbito, muitos estudiosos discutem a
necessidade de se transpor os rígidos conceitos estabelecidos sobre a
alfabetização, e assim, considerá-la como a relação entre os educandos e o mundo,
pois, este está em constante processo de transformação.
E o indivíduo para não ser atropelado e
marginalizado pelas mudanças sociais deverá acompanhar, através da atualização
individual, o processo que levará ao crescimento e desenvolvimento. Não que o
educando não tenha qualquer saber antes da alfabetização, pelo contrário,
sabemos que todo indivíduo possui, de alguma forma, níveis de conhecimento. E,
isto, foi muito bem discorrido por Paulo Freire:
O ato de ler e escrever deve começar a partir de uma
compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos
fazem antes de ler a palavra. Até mesmo historicamente, os seres humanos
primeiro mudaram o mundo, depois revelaram o mundo e a seguir escreveram as
palavras.
Esse é um ponto de suma importância para aqueles
que pretendem despojar-se dos restritos, e incisivos, conceitos em que a
alfabetização é estabelecida em termos mecânicos e funcionais. Mas, afinal, por
que e para que surgiu o que se denominou letramento?
Por todo o tempo em que já vivemos como uma
sociedade grafocêntrica, têm-se conhecimento sobre a problemática da falta do
saber ler e escrever. Com isso, gerou-se uma crescente preocupação em
desenvolver um controle sobre essa questão, através de muitos estudos e ações com
o objetivo de erradicar o problema, logo, foi preciso criar um termo e fazê-lo
conhecido no campo da pesquisa, surgindo o “analfabetismo”. Mas, observou-se
que para o estado/condição daquele que sabe ler e escrever, e, que responde de
maneira ampla e satisfatória as demandas sociais fazendo uso de alguma maneira
da leitura e escrita, ainda não havia uma denominação. Mais tarde, isso se fez
necessário devido à constatação de uma nova situação: de que não basta apenas o
saber ler e escrever, necessário é saber fazer uso do ler e do escrever, saber
responder às exigências de leitura e de escrita que a sociedade faz. Então, o
nome letramento surgiu mediante a esta nova constatação.
Quando fatos “novos” são constatados, ou surgem
novas idéias à respeito de fenômenos, depara-se com a necessidade de se criar
novos vocábulos ou nomes para se tratar com determinados assuntos (SOARES,
2003). Ou seja, freqüentes mudanças sociais geram novas demandas sociais de uso
da leitura e da escrita, logo, gerando novos termos específicos.
O letramento é um fenômeno de cunho social, e
salienta as características sócio-históricas ao se adquirir um sistema de
escrita por um grupo social. Ele é o resultado da ação de ensinar e/ou de
aprender a ler e escrever, e denota estado ou condição em que um indivíduo ou
sociedade obtém como resultado de ter-se “apoderado” de um sistema de grafia.
LETRAMENTO
E ALFABETIZAÇÃO: ONDE ESTÁ A DIFERENÇA?
A alfabetização, como já mencionamos, se ocupa da
aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo. Enquanto o letramento
“focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por
uma sociedade” (TFOUNI, 1995), e ainda, é o estado ou condição de quem não
apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a
escrita. Um exemplo do que acabamos de mencionar (SOARES, 2003: 56-57):
Analfabetismo no primeiro mundo? (...) quando os
jornais noticiam a preocupação com altos níveis de ‘analfabetismo’ em países
como os Estados Unidos, a França, a Inglaterra; surpreendente porque: como
podem ter altos níveis de analfabetismo países em que a escolaridade básica é
realmente obrigatória e, portanto, praticamente toda a população conclui o
ensino fundamental (que, nos países citados, tem duração maior que a do nosso ensino
fundamental - 10 anos nos Estados Unidos e na França, 11 anos na Inglaterra). É
que, quando a nossa mídia traduz para o português a preocupação desses países,
traduz illiteracy (inglês) e illetrisme (francês) por analfabetismo. Na
verdade, não existe analfabetismo nesses países, isto é, o número de pessoas que
não sabem ler ou escrever aproxima-se de zero; a preocupação, pois, não é com
os níveis de analfabetismo, mas com os níveis de letramento, com a dificuldade
que adultos e jovens revelam para fazer uso adequado da leitura e da escrita:
sabem ler e escrever, mas enfrentam dificuldades para escrever um ofício,
preencher um formulário, registrar a candidatura a um emprego – os níveis de
letramento é que são baixos.
O exemplo acima são verificações feitas fora do
Brasil, mas demonstra claramente as diferenças entre os dois processos acima
citados, inclusive, as diferenças que há em avaliar níveis de letramento e
níveis de alfabetização. Apesar da constatação de que os critérios de avaliação
deles não se assemelham muito aos nossos quanto à alfabetização, é satisfatório
saber também, que já existem mudanças consideráveis em nossos parâmetros, e, o
que se observa é que isso tem gerado mudanças sociais e culturais, e por que
não dizer, históricas?
Ainda quanto às diferenças entre letramento e
alfabetização é necessário alertar que, estes dois processos estão diretamente
ligados, contudo, devemos separá-los quanto ao seu abarcamento, devido as suas
distinções já mencionadas anteriormente. Há verificações de que a concepção de
alfabetização também reflete diretamente no processo de letramento. Por outro
lado, o que também se observa é que, com freqüência, estes dois de maneira
confusa têm sido fundidos como um só processo. Essa confusão implica no exercício
de um e de outro. Pois, onde entra a alfabetização?
E o letramento? Ou, se trabalham os dois simultaneamente?
E o letramento? Ou, se trabalham os dois simultaneamente?
Se afirmamos que a alfabetização é algo que não tem
um ponto final, então dizemos que ela temum continuum, e ainda, poderíamos
dizer que este é o letramento. Com isto, acordamos que os dois processos andam
de mãos dadas. Não queremos estabelecer uma ordem, ou seqüência, pois já
defendemos que todo tipo de indivíduo possui algum grau de letramento, mesmo
que seja mínimo.
O que pretendemos é incentivar o educador a fazer
uso do conhecimento nato de mundo que o educando possui e sua relação com a
língua escrita, assim ele poderá alfabetizar letrando.
Ao saber de algumas distinções básicas destes dois
termos poderíamos, também, levantar questões sobre as desigualdades de
alfabetizado para letrado. Uma nota no livro “Letramento: um tema em três
gêneros” de Magda Soares (2003: 47) faz um apanhado, sobre o assunto, visto de
uma maneira prática e real. O texto exemplifica como um adulto pode até ser analfabeto,
contudo, pode ser letrado, ou seja, ele não aprendeu a ler e escrever, todavia,
utiliza a escrita para escrever uma carta através de um outro indivíduo
alfabetizado, um escriba, mas é necessário enfatizar que é o próprio analfabeto
que dita o seu texto, logo, ele lança mão de todos os recursos necessários da
língua para se comunicar, mesmo que tudo seja carregado de suas
particularidades.
Ele demonstra com isso que conhece, de alguma
forma, as estruturas e funções da escrita. O mesmo faz quando pede para alguém
ler alguma carta que recebeu, ou texto que contém informações importantes para
ele: seja uma notícia em um jornal; itinerário de transportes; placas;
sinalizações diversas. Este indivíduo é analfabeto, não possui a tecnologia da
decodificação dos signos, mas, ele possui um certo grau de letramento devido a
sua experiência de vida em uma sociedade que é atravessada pela escrita, logo,
este é letrado, porém não com plenitude.
Esse exemplo nos remete a outro, muito conhecido,
que talvez não tenha sido percebido por quem assistiu, é a personagem de
Fernanda Montenegro no filme “Central do Brasil” de Walter Salles, que fez uso
de sua capacidade de ler e escrever uma profissão, a de “escriba”, já quase
desconhecida, em que a personagem escrevia correspondências para pessoas
analfabetas em troca de dinheiro. Os indivíduos que a usavam como ferramenta
para se envolver em uma prática social, a de se corresponder, mesmo que
indiretamente, utilizavam os códigos da escrita.
E, de forma peculiar a sua condição eles demonstram
possuir características de grupos letrados. Ainda na nota de Magda Soares
(2003: 47) eles também exemplificam o caso de uma criança que mesmo antes de
estar em contato com a escolarização, e que não saiba ainda ler e escrever,
porém, tem contato com livros, revistas, ouve histórias lidas por pessoas
alfabetizadas, presencia a prática de leitura, ou de escrita, e a partir daí
também se interessa por ler, mesmo que seja só encenação, criando seus próprios
textos “lidos”, ela também pode ser considerada letrada.
E ainda, há casos de indivíduos com variados níveis
de escolarização e alfabetização que apresentam níveis baixíssimos de
letramento, alguns “quase” nenhum. Estes, são capazes de ler e escrever,
contudo, não possuem habilidades para práticas que envolvem a leitura e a
escrita: não lêem revistas, jornais, informativos, manuais de instrução, livros
diversos, receita do médico, bulas de remédios, ou seja, apresentam grandes
dificuldades para interpretar textos lidos, como também podem não ser capazes
de sequer escrever uma carta ou bilhete. Todavia, gostaríamos de destacar que
nessa nota acima mencionada diz também que esse tipo de indivíduo pode ser uma
pessoa alfabetizada, mas não é letrada; neste ponto divergimos, por
acreditarmos que a possibilidade de uma pessoa possuir grau zero de letramento
não exista, em se tratando deste viver em uma sociedade grafocêntrica.
Com tudo isso, há pelo menos uma constatação:
existem diferentes tipos e níveis de letramento, e estão eles ligados às necessidades
e exigências de uma sociedade e de cada indivíduo no seu meio social.
SOCIEDADE
LETRADA/ILETRADA
Há uma definição única e restrita quanto ao
conceito de sociedade letrada/iletrada, bem como indivíduo letrado/iletrado?
Os dicionários da língua portuguesa definem os
vocábulos letrado e iletrado, por exemplo, no dicionário Aurélio o verbete
letrado é definido como “que ou quem é versado em letras; erudito”.
No entanto, iletrado “que ou quem não tem conhecimentos
literários; analfabeto ou quase”. Mediante essas definições percebemos que
esses adjetivos não tem relação com o sentido do letramento, pelo qual estamos
tratando. Os termos que, normalmente, são abordados em trabalhos sobre o
letramento não se assemelham ao dos dicionários, e ainda, também poderíamos
considerá-los como novos vocábulos.
Vimos, anteriormente, que devemos analisar bem
antes de aplicar o termo letrado, e principalmente, iletrado. No nosso ponto de
vista, que necessariamente, é o mesmo da autora, do livro “Letramento e
Alfabetização”, de Leda Verdiani Tfouni, o termo “iletrado”, bem como
“iletramento” é impraticável, no que diz respeito à sociedades tecnologizadas.
Ela registra em sua obra algumas passagens de
Ginszburg (1987), dentre elas a história de um homem que viveu no séc. XVI
chamado Menocchio que foi perseguido, torturado, e condenado à morte porque
suas idéias foram consideradas ofensivas e cheias de heresias. Ele pertencia à classe
subalterna, mas sabia ler e escrever, o que não era muito comum naquela época.
Comenta a autora que Menochio não foi condenado
apenas por saber ler e escrever, mas sim, porque fazia suas próprias
interpretações dos textos bíblicos e da religião, como também particularizou a
releitura dos mesmos textos com “materialismo elementar, instintivo, das
gerações de camponeses”, foi isto o que fomentou uma sumária perseguição por
parte da Inquisição.
Achavam eles que, só os eclesiásticos católicos
detinham o poder de interpretação da Bíblia Sagrada. Ele, assim, foi
considerado perigoso por que entendeu que quem tivesse a capacidade de domínio
e transmissão da cultura escrita teria o poder. A lingüista comenta que essa
história demonstra como o termo “letrado” não pode ter um sentido único.
A partir disso, é que a autora conclui e propõe que
não deve ser usado o termo “iletrado”, para dizer que um indivíduo não está num
estado pleno de letramento. Afinal, não seria adequado a utilização do mesmo em
uma sociedade considerada moderna e/ou industrializada, centrada na escrita,
pois a possibilidade de existir indivíduos que não possuem nem um grau sequer
de letramento é quase impossível. Por isso, acredita-se que é inconveniente
afirmar que existe “nível zero” de letramento, não há veracidade nessa
afirmação. Então, o que se propõe é o uso de termos próprios, do tipo: níveis
ou graus de letramento. Levando assim, em consideração o que Paulo Freire
muitas vezes insistiu em sua pedagogia “de que a leitura do mundo precede a
leitura
da palavra”, e ainda, “o ato de aprender a ler e escrever deve começar a partir de uma
compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos fazem antes de ler a palavra”. Isso quer dizer que o indivíduo não é um depósito vazio e zerado antes da alfabetização, e ali, nós, educadores, estaremos enchendo-o com informações mecânicas e institucionais, através de uma escolarização. Ele já possui sua peculiar capacidade de leitura dentro do seu contexto social para sobreviver em meio ao grupo em que vive. A alfabetização com a prática do letramento, trará ao indivíduo capacidades, competências, habilidades diversas para que este se envolva com as variadas demandas sociais de leitura e escrita.
da palavra”, e ainda, “o ato de aprender a ler e escrever deve começar a partir de uma
compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos fazem antes de ler a palavra”. Isso quer dizer que o indivíduo não é um depósito vazio e zerado antes da alfabetização, e ali, nós, educadores, estaremos enchendo-o com informações mecânicas e institucionais, através de uma escolarização. Ele já possui sua peculiar capacidade de leitura dentro do seu contexto social para sobreviver em meio ao grupo em que vive. A alfabetização com a prática do letramento, trará ao indivíduo capacidades, competências, habilidades diversas para que este se envolva com as variadas demandas sociais de leitura e escrita.
O PAPEL
DO EDUCADOR NO LETRAMENTO COMO “PROFESSOR-LETRADOR”
Paulo Freire afirma que para o educador, o ato de
aprender “é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem
abertura ao risco e à aventura do espírito”. Esta constatação não está
relacionada somente ao educando, pois sabemos que o educador tem que estar
sempre adquirindo novos aprendizados, lançando-se a novos saberes, e isto,
resulta em mudanças de vários aspectos, como também, gera o enriquecimento
tanto para o educador quanto para o educando, que com certeza lucrará com esse
desenvolvimento. Então, necessário é que o educador atente-se para aquilo que é
sumariamente importante na sua formação, ou seja, “o momento fundamental é o da
reflexão crítica sobre a prática”, e, “quanto mais inquieta for uma pedagogia,
mais crítica ela se tornará” (FREIRE, 1990). O mesmo afirma que a pedagogia se
tornará crítica se for investigativa e menos certa de certezas, pois o ato de
educar não é uma doação de conhecimento do professor aos educandos, nem
transmissão de idéias, mesmo que estas sejam consideradas muito boas. Ao
contrário, é uma contribuição no “processo de humanização”.
Processo este de fundamental papel no exercício de
educador que acredita na construção de saberes e de conhecimentos para o
desenvolvimento humano, e que para isso se torna um instrumento de cooperação
para o crescimento dos seus educandos, levando-os a criar seus próprios
conceitos e conhecimento.
O profissional de educação deve ser capaz de fazer
sua interferência na realidade, o que certamente, gerará novos conhecimentos, e
isto, é bem mais elevado do que simplesmente se enquadrar na mesma. Já
mencionamos por várias vezes que o letramento é um fenômeno social; logo, essa
intervenção que se faz necessária pode ser proporcionada por ele.
O letramento não está restrito ao sistema escolar,
mas vamos neste trabalho nos ater nesse meio por considerar que cabe à escola,
fundamentalmente, levar os seus educandos a um processo mais profundo nas
práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita. Saber ler e escrever um
montante de palavras não é o bastante para capacitar o indivíduo para a leitura
diversificada, neste ponto entendemos que surge a necessidade de se letrar os
sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem.
Para o educador se tornar um “professor-letrador”
necessário se faz que, primeiramente, obtenha informações a respeito do tema,
as suas dimensões e, sobretudo, a sua aplicação. Essa última é desenvolvida
através de pesquisas e investigação, que geram subsídios-suportes.
Entretanto, medrar subsídios para educadores é uma
tarefa difícil de ser exercida, pois sabemos que alguns desses profissionais,
num determinado momento, se colocam em uma posição quase inatingível, completos
de suas certezas. Porém, se há mutações contínuas na sociedade contemporânea, e
essas refletem em todos os setores, inclusive na escola, é lógico que a
cristalização dos saberes do educador é um equívoco, pois o conhecimento nunca
se completa, ou se finda, e o letramento é um exemplo claro disso.
Reconhecidamente, enfatizamos a importância da
aplicação, ou a prática do letramento por parte do professor, e em análise,
ainda não finalizada, destacamos alguns passos fundamentais para o desempenho
do papel do “professor-letrador”:
1) investigar as práticas sociais que fazem parte do
cotidiano do aluno, adequando-as à sala de aula e aos conteúdos a serem
trabalhados;
2) planejar suas ações visando ensinar para que serve
a linguagem escrita e como o aluno poderá utilizá-la;
3) desenvolver no aluno, através da leitura,
interpretação e produção de diferentes gêneros de textos, habilidades de
leitura e escrita que funcionem dentro da sociedade;
4) incentivar o aluno a praticar socialmente a
leitura e a escrita, de forma criativa, descobridora, crítica, autônoma e
ativa, já que a linguagem é interação e, como tal, requer a participação
transformadora dos sujeitos sociais que a utilizam;
5) recognição, por parte do professor, implicando
assim o reconhecimento daquilo que o educando já possui de conhecimento
empírico, e respeitar, acima de tudo,
esse conhecimento;
esse conhecimento;
6) não ser julgativo, mas desenvolver uma metodologia
avaliativa com certa sensibilidade, atentando-se para a pluralidade de vozes, a
variedade de discursos e
linguagens diferentes;
linguagens diferentes;
7) avaliar de forma individual, levando em
consideração as peculiaridades de cada indivíduo;
8) trabalhar a percepção de seu próprio valor e
promover a auto-estima e a alegria de conviver e cooperar;
9) ativar mais do que o intelecto em um ambiente de
aprendizagem, ser professor-aprendiz tanto quanto os seus educandos; e
10) reconhecer a importância do letramento, e
abandonar os métodos de aprendizado repetitivo, baseados na
descontextualização.
Contudo, as insuficiências do sistema escolar na
formação de indivíduos absolutamente letrados não sucedem somente pelo fato de
o “professor não ser um representante pleno da cultura letrada, nem das falhas
num currículo que não instrumentaliza o professor para o ensino” (KLEIMAN,
1995: 47), pois essas falhas são mais enraizadas, porque são produtos do modelo
imposto pelo sistema padrão de ensino.
Quando nos dermos conta de que o processo natural
de desenvolvimento do ser humano é massacrado pela escola, e por suas
equivocadas práticas de ensino, seremos aptos a promover o letramento.
Na intenção de compreender os caminhos percorridos
(ou perdidos) para a transformação da escolarização, e analisando
especificamente o recorte investigado neste trabalho, somos levados a
considerar a hipótese de que o despreparo e desinformação dos profissionais e,
ainda, os acadêmicos da área de educação promovem distância entre a assimilação
prática e conceitual do letramento.
De qualquer forma, o que nos interessa no âmbito a
que nos propusemos neste trabalho, é de informar descritivamente sobre o
letramento quanto a etimologia, o seu surgimento e as suas diversificadas
práticas sociais. Como também o seu abarcamento, suas dimensões e o mais
intrigante, como estar desenvolvendo-o na sala de aula, pois o preparo dos
educadores proporcionará alterações no ensino/aprendizagem dos educandos e
desenvolverá o letramento de ambos os envolvidos. De certo, sabemos que o
processo é lento devido a situação atual do sistema escolar e da formação
profissional do professor, mas reais possibilidades têm-se mostrado como
verdadeiras mudanças educacionais.
Subsidiar seria uma pretensão, mas este trabalho
visa dar um suporte para os educadores que desejam reconstruir suas propostas
pedagógicas, informando-se para gerar conhecimento crítico e analítico quanto
às atividades do letramento versus a pedagogia mecânica e institucional por tanto
tempo praticada em nossas escolas.
Pretende ainda, reformular e construir a
compreensão acerca das bases teóricas da aprendizagem. Possibilitar a esses uma
reflexão sobre a visão de mundo e de alfabetização, para que incorporem uma nova
educação para crianças, jovens e adultos. Com isso, gerarão pessoas com
capacidades múltiplas de interação com a sociedade, promovendo novas formas de
relações no processo do letramento, pois esse abre caminho para o indivíduo
estabelecer conhecimentos do mundo em que vive.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo; DONALDO, Macedo. Alfabetização:
leitura da palavra leitura do mundo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
KATO, Mary A. No
mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. 7ª ed. São Paulo: Ática,
1999.
KLEIMAN, Ângela B. Os
significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da
escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995.
SILVA, José Pereira da. Filologia
é o estudo da língua na literatura. A visão de J. Mattoso Câmara Jr. In: América
Latina y lo Clásico. Santiago de Chile: Universidad Metropolitana de Ciencias
de la Educación - Facultad de Historia, Geografía y Letras, 2003, tomo II, p.
619-629.
SOARES, Magda. Letramento:
um tema em três gêneros. 2ªed. 6ª reimpr. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento
e alfabetização. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2004.
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