domingo, 17 de fevereiro de 2013

INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO





EDUCAÇÃO, O QUE É ISSO?

Natureza da gente não cabe em nenhuma certeza.
(Guimarães Rosa)

Já disse um filósofo que nós, os seres humanos, fomos condenados à liberdade. Aí está: condenação e libertação como partes inseparáveis do ser individual e social que é o homem. Não é que estejamos permanentemente oscilando entre essas duas realidades, que sejamos ora condenados e ora livres. Mas é que somos, ao mesmo tempo, as duas coisas, constantemente, em cada momento, escravos e livres.
Apenas para exemplificar de maneira simples: podemos estar livres em relação aos pais - até que ponto? - e escravos no tocante à escola; livres quanto a esta última, mas escravos quanto ao trabalho, e assim por diante. Todavia, tudo isso é muito relativo: mesmo separados da família, conservamos as influências do tempo de convivência; longe da escola, carregamos as marcas que ela nos imprimiu.
Com a educação acontece o mesmo: trata-se de um processo que escraviza e liberta simultaneamente, mas do qual ninguém consegue escapar, do nascimento à morte. A educação é, em suma, um processo universal. E, na definição do processo educacional, não podemos fugir das influências que sofremos em nossa própria formação. Assim é que, ao procurar definir o que entendo por educação, não deixo de refletir, em parte, o processo educacional ao qual fui submetido. E como esse processo teve uma presença marcante da Filosofia, minha definição buscará ser globalizante, interdisciplinar, na tentativa de compreender a perspectiva da qual as diversas disciplinas procuram explicar a educação.
E a primeira observação que faço é a de que parece existir algo de comum entre as várias perspectivas, que é uma espécie de definição elicotômica da educação, na qual esta é sempre classificada em dois termos opostos.
Vejamos: pelo ponto de vista meramente descritivo - geográfico - o processo educacional é classificado em formal e informal; a Didática fala-nos seguidamente da educação como processo e como produto; na Moral vamos encontrar a ênfase na distinçào educacional entre o certo e o errado, o bom e o mau etc.; já a Filosofia tem se esmerado em separar os fins dos meios no processo educacional; o estudo da educação como prática individual, em oposição à prática coletiva, parece ser um ponto recorrente em Psicologia.
Quando a perspectiva é a da Política, torna-se comum à distinção entre educação autoritária e educação democrática; historicamente, a oposição verifica-se entre a educação opressora e a educação libertadora; finalmente, talvez possamos identificar como predominantemente sociológica a perspectiva que coloca em campos opostos a educação reprodutivista e a educação crítica.
A segunda observação diz respeito a uma definição geral de educação, que seria, digamos, aplicável a qualquer uma das distinções anteriores. Trata-se da educação vista como a influência que as gerações consideradas adultas exercem sobre as gerações mais jovens, com o objetivo de levá-las a desenvolverem-se - física, intelectual e moralmente - de acordo com as expectativas da sociedade ou, por outra, dos grupos sociais dominantes.
Então, a educação, sendo universal, varia de sociedade para sociedade, de um grupo social a outro, segundo as concepções que cada sociedade e cada grupo social tenham de mundo, de homem, de vida social e do próprio processo educativo. Ressalta, desta observação, a enorme importância que tem o estudo da história da educação, pois nos permite avaliar como foi entendida e praticada a educação, em épocas e sociedades diferentes. Possibilita-nos, ainda, entender a educação como um processo dinâmico, histórico, e por isso mesmo mutável, e cuja compreensão exige a superação das dicotomias acima citadas.

 

EDUCAÇÃO FORMAL X EDUCAÇÃO INFORMAL


Desde o nascimento, não importa nossa condição sócio-econômica ou o regime político sob o qual vivemos, o processo educacional atinge-nos por todos os meios e cerca-nos de todos os lados: somos conduzidos a comportarmo-nos de determinadas maneiras, a assumir posições consideradas adequadas (aspecto físico); a mantermos relações de respeito com as pessoas adultas (afetividade); a convivermos satisfatoriamente com nossos iguais, cumprindo nossos deveres sociais (socialização); a compreendermos o mundo em que vivemos (cognição); a agirmos de acordo com princípios e regras morais; e assim por diante. É preciso notar, entretanto, que grande parte das aprendizagens citadas ocorrem informalmente, isto é, não existe um processo sistemático, intencional, que nos conduza a elas. O desenvolvimento de tais processos resulta muito mais da convivência social, da vida em comum que temos com nossos semelhantes - sejam eles pais, irmãos, amigos, colegas e outros - do que do ensino direto e explícito dos mesmos. A tais influências que recebemos constantemente, em qualquer lugar em que nos encontramos - em casa, na rua, no trabalho, no bar etc. - e às mudanças a que nos levam, é que se dá o nome de educação informal.
Vejamos um exemplo concreto e simples: a mãe esforça-se por todos os meios para ensinar à criança que não deve falar "palavrões", e chega até a castigá-la quando os fala, mas, ao mesmo tempo, vive pronunciando "palavrões" de toda a espécie. Naturalmente, a criança tenderá a imitar a mãe, apesar dos castigos.
Temos, neste exemplo, o ensino informal do "palavrão", que a criança aprende mediante a convivência com a mãe, embora esta insista em ensinar a criança a não imitá-la. Mas temos também a chamada educação formal, que consiste na insistência sistemática para que a criança não fale "palavrões". Não é preciso dizer que, ao menos neste caso e em outros semelhantes, a educação informal é mais eficiente que a educação formal.
A educação formal ocorre, portanto, sempre que se desenvolve sistematicamente, segundo planos que incluem objetivos, conteúdos e meios previamente traçados. Diz-se, a partir da definição anterior, que a escola é a agência por excelência da educação formal. No entanto, esta ocorre também na família, na igreja e em outras instituições, sempre que se utilizam meios considerados adequados para atingir intencionalmente determinados fins, que são os fins do processo educacional em questão.
Não podemos esquecer, entretanto, que ambos os processos — a educação formal e a informal — ocorrem simultaneamente, na maioria das situações educacionais. Na própria escola, considerada a principal responsável pela educação formal, os alunos geralmente aprendem muito mais da convivência com colegas e professores — de suas atitudes, de sua maneira de falar, de seus gestos, da forma com que encaram o homem e o mundo e que transmitem mediante seus atos — do que por influência do ensino direto, formal, que o professor faz das matérias escolares. Aí está o ponto: não há momentos em que só aprendemos formalmente e outros em que só aprendemos informalmente.
As duas formas de educação coexistem, na escola e fora dela. E, para que a própria educação escolar se torne mais eficaz, é necessário que professores e alunos tomem consciência do grande alcance dos processos informais de educação, que são permanentes na escola, e que os levem em consideração ao desenvolverem suas atividades, buscando a coerência entre o dizer e o fazer, entre o pensar e o agir, entre o sentir e o falar.

 

EDUCAÇÃO COMO PRODUTO X EDUCAÇÃO COMO PROCESSO


Trata-se de uma distinção freqüente em Didática. E a Didática moderna enfatiza a superioridade do processo, em termos educacionais. Isto é, para que a educação seja eficaz, produza resultados duradouros, é necessário que o aluno aprenda a auto-educar-se e não a receber a educação e o conhecimento como produtos prontos e acabados, que deve absorver e reproduzir da mesma forma.
A distinção é real: uma coisa é memorizar uma fórmula matemática e aplicá-la automaticamente ao problema e outra, bem diferente, é aprender o processo de dedução da mesma fórmula; uma coisa é aprender a data da independência do Brasil e outra, bem diferente, é entender o processo desse acontecimento e todas as suas implicações. A assimilação do produto encerra-se em si mesma, é isso e acabou; o entendimento do processo capacita-nos a enfrentar outras situações, a resolver outros problemas, a analisar outros fatos históricos.
Mas a coisa não é tão simples como pode parecer. O próprio professor de Didática, muitas vezes, ensina formalmente que a educação deve ser encarada como processo, mas o faz transmitindo tal informação como um produto pronto e acabado. Isto é, informalmente ensina, em sua prática escolar, que a educação é um produto, pois é esta a forma como a encara em seu exercício profissional. É preciso, portanto, que haja coerência e que a própria superioridade da educação como processo, e tudo o mais que se ensina na escola, não seja fornecida como um produto pronto, mas que o aluno seja a ela conduzido mediante o próprio processo educacional, na prática cotidiana da sala de aula.
Contudo, se todo produto resulta de um processo, e se o domínio deste é de alto valor educativo, não é menos verdade que todo processo deve levar a um produto. Ou seja: o processo de dedução de uma fórmula conduz a um produto, que é a própria fórmula; o processo de independência leva a um produto, que é a própria independência. A conclusão a que se chega, portanto, é a de que o processo e o produto de conhecimento coexistem na educação, um não existe sem o outro e ambos são importantes.

 

EDUCAÇÃO CERTA X EDUCAÇÃO ERRADA


Guimarães Rosa expressou magistralmente esta característica da educação brasileira — o maniqueísmo — que divide o mundo em duas partes: a certa e a errada, a boa e a ruim: "Que isso foi o que sempre me invocou, o senhor sabe: eu careço de que o bom seja bom e o ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza. Quero os todos pastos demarcados... Como é que posso com este mundo? A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado..." (ROSA, J. Guimarães. Grande sertão: veredas. 16. ed., Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984, p. 207).
Trata-se de um moralismo autoritário que continua impregnando nossa educação, agora sim de maneira formal e informal e como conteúdo e processo. Mas é um moralismo com endereço certo, que identifica o bom com os valores burgueses, que contribuem para preservar o poder da burguesia: o poder econômico camuflado em mérito e capacidade; o espírito pacífico e ordeiro encobrindo a violência como única alternativa dos marginalizados; a ascensão social como sonho a entorpecer a luta dos trabalhadores; a crença na felicidade eterna como meio a estimular a renúncia a esta vida; a pobreza como sendo um estado de espírito, pois "o dinheiro não traz a felicidade"; e assim por diante.
Mais do que nunca é preciso recuperar a noção de homem como ser integral, espírito e corpo formando uma unidade individual, um ser em formação permanente, que engloba as contradições deste mundo. Somos todos feitos do mesmo pó e caminhamos todos para o mesmo fim, sujeitos aos tropeços que atingem a todos. Igualmente responsáveis pela construção de um mundo habitável, cabe à educação papel importante na disseminação da idéia de que esse mundo só será possível mediante o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, em qualquer circunstância em que ela se encontre.
A escola não pode prestar-se à classificação dos indivíduos — bons e maus, sábios e ignorantes, e outros rótulos. Cabe-lhe, isto sim, servir à sua realização humana, individual e social.

 

EDUCAÇÃO COMO MEIO X EDUCAÇÃO COMO FIM


Há educadores que atribuem exclusiva ou exagerada predominância aos meios. Cheios de cuidados em relação aos recursos — materiais e humanos — e aos métodos de ensino, esquecem-se da finalidade para a qual, consciente ou inconscientemente, estão conduzindo os educandos. Preocupados com os mínimos detalhes exteriores do processo — maneira de falar e de escrever, limpeza, ordem, conformidade com as regras etc. — desprezam o fim a que leva essa preocupação e a concepção de educação e de homem que por trás dela se esconde.
Na verdade, todo e qualquer processo educacional leva a um fim, conduz à formação de um ser humano que tem uma teoria e uma prática sociais determinadas, tenha ou não o educador consciência disso.
Outros enfatizam os fins. Frases do tipo "utilizado por um bom educador qualquer método funciona" e "o bom educador não precisa de recursos, basta-se a si mesmo" são ouvidas freqüentemente. Entre os que privilegiam os fins há ainda aqueles que são avessos a qualquer planejamento, descambando muitas vezes para a doutrinação pura e simples, procurando inculcar seus próprios conceitos e preconceitos e inibindo todo e qualquer pluralismo, que é essencial ao processo educativo. Existem, também, os que se perdem em intermináveis e abstratas discussões acerca da educação e de suas finalidades, sem que as mesmas tenham qualquer repercussão em seu exercício profissional como educadores.
A discussão em foco não tem fim. Acredito mais: a excessiva importância que a ela se dá é prejudicial ao próprio processo educacional e ao entendimento do que ele seja. Importa, isto sim, darmos mais atenção a outra questão, esta de caráter verdadeiramente fundamental: como integrar os meios e os fins na atividade educativa? Pois, desta integração, não meramente teórica e abstrata, mas ao mesmo tempo prática e concreta, é que depende o sucesso da educação. Não o sucesso em termos de se atingirem, simplesmente, os objetivos previamente traçados. Mas o sucesso quanto à possibilidade, inclusive, de se analisarem estes mesmos objetivos, com vistas à realização humana, individual e social, de educadores e educandos.
É preciso tomar consciência de que determinados meios levam a certos fins, que nem sempre são os que o educador tem em mente, e que certos fins pressupõem determinados meios. Assim sendo, não conseguiremos construir uma escola democrática utilizando meios antidemocráticos; não poderemos preparar o educando para "o exercício consciente da cidadania", se não criarmos na escola oportunidades concretas para tanto.

 

EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA INDIVIDUAL X EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA COLETIVA


A oposição entre prática individual e prática coletiva no processo educacional é outra das tantas falácias que desviam os educadores de seu verdadeiro trabalho, que é a educação. Não há como supervalorizar o indivíduo ou a sociedade, em prejuízo de um ou de outro pólo da dicotomia. Os que assim procedem estão descaracterizando o processo educativo, que só se realiza mediante a composição dos mesmos, pois há uma intercomplementaridade entre ambos: o social não existe sem o individual e vice-versa.
O homem é um ser social, é o social que lhe fornece a especificidade, já escreveu Aristóteles há cerca de 2 500 anos. E Piaget, no século XX, diria que a reflexão é uma discussão que se tem consigo mesmo, "uma conduta social de discussão interiorizada", ao passo que a "discussão socializada é apenas uma reflexão exteriorizilda".
O processo educacional pode ter início tanto no indivíduo — a curiosidade acerca de um fenômeno, por exemplo — quanto na sociedade, como seria no caso da transmissão de alguma informação por iniciativa de alguém ou de alguma instituição. Mas, seja qual for o ponto de partida, o processo só se completa no outro pólo: quando se inicia no indivíduo vai completar-se na sociedade que fornecerá ou não os elementos para a satisfação da curiosidade; quando se inicia fora do indivíduo, é nele que vai concluir, na medida em que aprenderá ou não a informação oferecida.
Melhor dizendo, o processo não tem fim, é constante, pois uma curiosidade satisfeita produz a busca de novos conhecimentos, sempre mais completos, e a informação aprendida leva à necessidade de novas informações.
É na integração equilibrada entre o individual e o social — que busca a superação tanto do individualismo exacerbado, que desconhece o social, quanto do aniquilamento das potencialidades individuais por imposição externa — que se realizam a autêntica educação e a própria vida humana em seu verdadeiro sentido.
Por extensão, as instituições educativas — a família, a escola e outras — não podem fechar-se em si mesmas, sob pena de prejudicarem a educação e o desenvolvimento do indivíduo, mas devem abrir-se ao mundo circundante, estabelecendo com ele uma comunicação permanente. Somente dessa maneira poderão tais instituições acompanhar criticamente a evolução da sociedade, adaptando-se a suas mudanças, influindo, ao mesmo tempo, na orientação das mesmas. Indivíduo e escola e escola e sociedade não são entidades estanques, que se desconhecem, mas dinâmicas, cujo desenvolvimento depende das relações que mantêm entre si.

 

EDUCAÇÃO AUTORITÁRIA X EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA


Há que distinguir entre autoridade e autoritarismo. A primeira não deixa de ser fundamental no processo educacional, pois é sobre a autoridade do mestre — fundada em sua experiência, em seu conhecimento e em sua competência — que o mesmo repousa. Já o segundo trata-se de uma excrescência, de uma usurpação arbitrária do poder, que pretende fundar o processo educativo na imposição pura e simples de um ponto de vista, mais do que de uma "verdade" científica, de um estereótipo comportamental mais do que de uma orientação aberta e pluralista.
A democracia, por seu turno, não exclui a autoridade. Antes, pelo contrário: só existe democracia quando coexistem autoridade e liberdade, pois a verdadeira autoridade assenta na liberdade que têm os indivíduos de. em face de várias opções, escolherem o caminho que lhes parece, no momento, o mais acertado, que lhes permita, no seu entender, a realização pessoal e social que buscam concretizar.
A democracia é uma conquista da humanidade, que importa conservarmos e aperfeiçoarmos constantemente. É o único sistema que permite nosso desenvolvimento como pessoas autônomas, em todos os sentidos, isto é, como sujeitos de nossa própria história.
Cabe à escola contribuir com sua parcela de responsabilidade nessa tarefa comum. Não apenas com preleções sobre a democracia e sua importância para a humanidade, mas, sobretudo, com a implementação de práticas democráticas no cotidiano escolar. Tanto na administração externa e interna da escola quanto no trabalho especificamente pedagógico, que é a atividade docente desenvolvida em sala de aula. É aqui que parece estar o fulcro da questão: muitas vezes não há dificuldades em ser democrata no atacado, no abstrato das grandes discussões, nas questões meramente teóricas; o difícil está em praticar a democracia no varejo da sala de aula, no concreto da relação professor-aluno, no ensino propriamente dito.
E é para a prática da democracia que os professores devem preparar-se constantemente, pois é nela que se conhecem os verdadeiros educadores. De que maneira? Não há melhor método que o exercício permanente da democracia. Trata-se, aqui também, de um processo que vai se construindo aos poucos, na exata medida em que vai sendo vivenciado pela população escolar.

 

EDUCAÇÃO OPRESSORA X EDUCAÇÃO LIBERTADORA


Toda a educação é, em si mesma, opressora. A passagem do ser individual ao ser social não se faz sem um preço. E este preço é o controle sobre as tendências egoístas e individualistas exacerbadas. Controle que, de predominantemente externo, torna-se cada vez mais interno, com o decorrer do processo educacional. E que exige uma grande força de vontade, capaz de conduzir o indivíduo a maneiras de sentir, pensar e agir que se coadunem com uma percepção global da sociedade, que, por sua vez, ultrapassa percepções meramente particularistas.
É exatamente nesse processo que se pode dar o salto para a libertação. Pois não é apenas da opressão externa, e em busca de si mesmo, que o indivíduo precisa libertar-se. Deve libertar-se também de si mesmo, de suas tendências egocêntricas, para integrar-se na realidade social e nela atuar. E a escola cumprirá tanto mais a sua função quanto mais favorecer essa dupla libertação, sendo cada vez menos instrumento da opressão externa sobre o indivíduo e estimulando cada vez mais seu crescimento rumo à participação social consciente. Diria, portanto, que a opressão antecede a libertação, é uma etapa da própria libertação, nesse jogo dialético que constitui a vida e a própria educação. Se não, libertar-se de quê? Trata-se, no caso, de uma visão parcial do processo de desenvolvimento e de educação. Quando vistas globalmente, entretanto, no mesmo processo, opressão e libertação coexistem, podendo predominar ora a primeira, ora a segunda, ou, mesmo, equilibrar-se momentaneamente.
Cabe ao educador trabalhar pela libertação, tendo, porém, consciência permanente de que o processo será contínuo, que algum grau de opressão sempre existirá e que nunca alcançaremos a libertação total. Mas é exatamente essa busca constante que dá sentido à vida.

 

EDUCAÇÃO REPRODUTIVISTA X EDUCAÇÃO CRÍTICA


Reprodução, crítica e criação são processos inerentes ao desenvolvimento pessoal e social e, portanto, sempre presentes, em maior ou menor grau, na atividade educacional. Trata-se, certamente, de uma atitude antieducativa aquela que se limita a reproduzir o passado, mas esta reprodução não deixa de ser a base da crítica e da criação.
Condenável é a reprodução pura e simples, que impede o desenvolvimento da crítica e da criação. Mas também condenáveis são a crítica vazia e a criação a partir do nada. A primeira, por não ter consistência, e a segunda, por ser alienada; ambas, por distanciarem-se da realidade em que vivemos.
O processo educacional é dinâmico. Cabe-lhe estimular as novas gerações a construir um futuro melhor com base no conhecimento crítico da história. E, nesta construção, quantidade e qualidade, conteúdo e forma, são processos interdependentes, em que o predomínio exagerado de um ou de outro traz prejuízos ao desenvolvimento global.
Não é que não existam dicotomias e contradições, pois a educação é um processo dialético. Mas não podemos esquecer que o desenvolvimento dialético exige a superação provisória das contradições, mediante a formulação de sínteses também provisórias, que constituem novos pólos contraditórios, mas que orientam nosso pensamento e nossa ação em um dado momento. É esse movimento constante que torna a educação um processo vivo e palpitante, que não cessa de se renovar.








3 comentários:

  1. Gostaria de saber quem é o autor do texto para que possa citar corretamente em meu TCC.

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  2. LIBÂNEO, José Carlos. DIDÁTICA. São Paulo: Cortez, 1994.

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    1. http://www.cursosonlinesp.com.br/product_downloads/i/curso_introdu_o_educa_o__77366.pdf

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