domingo, 17 de fevereiro de 2013

COMO MELHORAR A COMUNICAÇÃO PROFESSOR-ALUNO






“A eficácia máxima da comunicação não é alcançada senão quando a mensagem é compreendida pelo receptor.”
Abrahan Moles


 O PROBLEMA

No atual sistema de ensino centralizado no professor e na matéria, a tarefa de transmitir conhecimentos é a maior carga que o professor carrega sobre os ombros. Por sua vez, o aluno que deseja passar de ano vê-se obrigado a absorver uma considerável e cada dia maior quantidade de informações: conceitos, nomes, fatos, datas, cores, relações, quantidades, fórmulas, processos, normas etc., a maioria das quais ele recebe “via professor”.
A emissão, transmissão e recepção de informações, entretanto, é apenas uma das funções da comunicação entre professor e alunos. Da boa comunicação dependem não só a aprendizagem, mas também o respeito mútuo, a cooperação e a criatividade.
Vamos tentar identificar os principais problemas que atualmente atrapalham a comunicação professor-aluno, visando a descobrir os pontos de estrangulamento:

- O problema fundamental, a nosso ver, consiste no fato de que o professor em geral não percebe que é um mau comunicador, da mesma maneira que são poucos os padres que acham ruins seus sermões.
- O professor está mais preocupado em expor sua matéria, isto é, em falar, que em comunicar, isto é, despertar atenção e interesse, mobilizar a inteligência do aluno, ser entendido por este e induzi-lo à expressão e ao diálogo. O professor acha que sua função consiste em transmitir conhecimentos e que é obrigação do aluno ouvir e compreender. Não percebe que a atenção e a aprendizagem são processos que às vezes devem ser provocadas. 
- Às vezes, o professor tem suas idéias tão mal, ou tão perfeitamente organizadas, que não há nelas lugar para a imaginação criativa dos alunos. Ambos os extremos produzem uma comunicação falha: quando as idéias do professor estão desorganizadas, sua mensagem é confusa e insegura, e os alunos não conseguem perceber a estrutura do assunto. Quando estão demasiadamente organizadas, o professor em geral não gosta de ser interrompido nem de aceitar contribuições dos alunos. Ele evita tudo o que ameaça desorganizar o belo edifício mental que traz preparado.
- O professor expõe partindo da premissa de que, se os alunos mais inteligentes da primeira fila entendem o que ele fala, todos os demais também entenderão. E não se preocupa em verificar se isto ocorreu ou não.
-  O professor utiliza conceitos ou termos que ainda não existem na experiência dos alunos. Ou, se existem, é provável que cada um lhes atribua um significado diferente. Vejamos um exemplo: o professor emprega o termo “conjuntura”. Se perguntasse aos alunos o que entendem por “conjuntura” ficaria surpreendido com respostas tão variadas como “acontecimentos de curto prazo”, “situação em um período dado”, “articulação de ossos”, “contexto”, “interseção de estradas”, “coincidência de opiniões” etc.
- O professor não se preocupa em aumentar o vocabulário dos alunos, o que poderia ser feito explicando os significados e as diversas aplicações dos novos termos.
- O professor coloca tantas idéias em cada exposição que somente algumas delas são compreendidas e retidas. Pela pressa em dar maior quantidade de matéria possível, o professor não repete as idéias principais, nem se detém o tempo necessário para que os alunos de raciocínio mais lento as assimilem.
- Alguns professores falam tão rápido ou articulam as palavras tão mal que muitas das idéias não são percebidas pelos alunos. Outros professores falam em voz tão baixa ou em tom tão monótono, que não conseguem manter a atenção dos alunos.
- O professor não utiliza meios visuais para comunicar conceitos ou relações que exigem apresentação gráfica. Assim, um professor de Entomologia, por exemplo, descreve apenas verbalmente os insetos do algodão: tamanho, forma, cor etc., características todas que exigem visualização objetiva.
- O professor utiliza os meios visuais de uma forma inadequada: por exemplo, emprega o quadro-negro sem planejamento algum, escrevendo e desenhando ora aqui, ora ali, com muita confusão e desordem. As Ietras muito pequenas ou pouco claras são mal decifradas pelos alunos das últimas fileiras. Outro exemplo: o álbum seriado é empregado por alguns professores como um roteiro de aula e não como uma série de estímulos para o pensamento dos alunos. Outros projetam filmes, como substituto da aula, sem justificar seu papel na estratégia didática.
- Mas, de todas essas deficiências, a pior é a tendência do professor ao monólogo, à "salivação" sem diálogo, o que traduz sua falta de interesse pela participação ativa dos alunos. Quanto mais passivos e "bem disciplinados" forem os alunos, mais felizes são alguns professores.

Entretanto, não é justo atribuirmos toda a responsabilidade das deficiências da comunicação ao professor. Os alunos também contribuem com sua importante quota de problemas:

- O aluno tem uma forte tendência a não prestar atenção ao que o professor está dizendo. Por diversas razões (a força competitiva de outros estímulos atuantes em sua vida: namoradas, esportes, trabalho, família, saúde; as suas atitudes negativas contra figuras de autoridade; o seu desinteresse pela matéria em pauta) o aluno pode passar consideráveis períodos na classe fazendo qualquer outra coisa em lugar de atender às palavras do professor.
- Muitos alunos têm preguiça de pensar e, aplicando de menor esforço, adotam uma atitude de passividade e desligamento. (É verdade que esta atitude pode ser um produto de experiências escolares anteriores em que justamente se estimulava a passividade.)
- O aluno que, por preguiça, quer confiar em sua memória, não toma notas das idéias expostas pelo professor. Depois percebe que esqueceu mais da metade.
- O aluno pode manter uma atitude antagônica de rejeição e revolta contra um determinado professor. Essa disposição mental gera um bloqueio inconsciente contra a assimilação da matéria ensinada.
- Certas matérias difíceis e abstratas, como Matemática, Estatística, Teoria Econômica etc, exigem dos alunos exercitar uma atividade intelectual fora do comum. Por falta de prática do pensamento operatório abstrato (J. Piaget) o aluno não acompanha o raciocínio e apenas memoriza as questões, sem realmente compreender sua estrutura e alcance. Esse é um produto típico da educação “bancária”: o professor pensa pelo aluno e quando este se vê obrigado a pensar por sua conta, sua falta de prática o trai.
- O aluno às vezes pensa que entendeu o que o professor está falando e não pede esclarecimentos. Porém, mais tarde, comprova que não entendeu realmente.
- A causa mais séria da ineficiência comunicativa do aluno, entretanto, é sua falta de desejo de aprender; quando existe esse desejo, todos os demais obstáculos de ordem física ou psicológica são vencidos pelo aluno. Mas muitos nunca vão além de uma atitude de "aceitar serem ensinados", sem jamais chegar a um desejo positivo e entusiasta de aprender. Apesar disto ser, em parte, um problema para o qual o professor deve ajudar a resolver, cabe ao aluno a decisão pessoal de sua própria modificação.

ENSINAR NÃO É SÓ COMUNICAR

“O PROFESSOR X TEM UMA ADMIRÁVEL FACILIDADE DE EXPOSIÇÃO DA SUA AULA, NUMA FORMA TÃO BEM ESTRUTURADA E CLARA QUE ENTENDEMOS TUDO: NÃO PRECISAMOS NEM PERGUNTAR NADA, ELE É UM GRANDE COMUNICADOR!”

MAS SERÁ UM GRANDE PROFESSOR?

Muitos professores acham que é seu dever comunicar o máximo do que sabem aos seus alunos, na forma melhor estruturada possível. Daí, por exemplo, o abuso do álbum seriado empregado como roteiro estruturado da matéria.
Ensinar, entretanto, não é somente transmitir, não é somente transferir conhecimentos de uma cabeça a outra, não é somente comunicar. Ensinar é fazer pensar, é estimular para a identificação e resolução de problemas; é ajudar criar novos hábitos de pensamento e de ação.
Isto não significa que a exposição não deva ter estrutura alguma, ou que seja melhor o professor ser um mal comunicador. Significa, sim, que a estrutura da exposição deve conduzir à problematização e ao raciocínio e não à absorção passiva das idéias e informações do professor. Significa ainda que o professor deve ser um comunicador dialogal e não um transmissor unilateral de informação. Ser um comunicador, por outro lado, não é agir como um "showman" e menos ainda como um persuasivo doutrinador. Significa desenvolver "empatia": colocar-se no lugar do aluno e, com ele, problematizar o mundo para que, ao mesmo tempo que aprende novos conteúdos,  desenvolva seu máximo tesouro: sua habilidade de pensar.

PONTOS-CHAVE

Se examinarmos a lista de problemas citados da comunicação professor-aluno, comprovaremos que os pontos de estrangulamento giram em torno de:

- Problemas psicológicos relacionados com percepção, atenção, motivação, atitudes, memória, hábitos de pensamento.
- Problemas semiológicos relacionados com o emprego de signos e códigos para comunicar: palavras, gestos, tom de voz, coisas escritas no quadro negro.
- Problemas semânticos relacionados com o significado das palavras, dos objetos e das pessoas, e sua interpretação.
- Problemas sintáticos relacionados com a estrutura ou organização dos conteúdos e dos signos.
- Problemas cibernéticos relacionados com a retroinformação e o diálogo, com a quantidade de idéias transmitidas por diversos canais e com a capacidade deste para levar sinais.

Esta lista de focos ou áreas de pontos-chave vem demonstrar a complexidade do processo da comunicação, mas também vem nos oferecer um caminho para uma solução, que é apelar às ciências básicas: Psicologia. Semiologia, Semântica, Sintática, Cibernética, na procura de subsídios para melhorar nossa ação de comunicar. Neste momento não analisaremos separadamente as contribuições de cada uma dessas ciências para a compreensão do processo da Comunicação. Estudaremos o processo de forma global, utilizando, de maneira integrada, conceitos tirados de quaisquer dessas ciências, visto que a nossa intenção não é a análise científica do processo de comunicação, mas a derivação de aplicações práticas que ajudem a melhorar seu emprego pelo professor.

TEORIZAÇÃO


O ato de comunicar, em geral, é deflagrado por um objeto ou assunto, em uma situação determinada. Ou seja, as pessoas se comunicam com respeito a alguma coisa e o fazem em um contexto situacional determinado.
No ato de comunicar, a pessoa que inicia o processo o faz com uma certa intenção ou objetivo escolhido (consciente ou inconsciente) entre todos os objetivos possíveis de seu repertório. Apela em seguida para o seu repertório de idéias e experiências e escolhe aquelas que lhe servem para sua intenção ou objetivo. Agora apela para o seu repertório de signos ou códigos, para com eles representar suas idéias. Finalmente escolhe no repertório de meios o melhor veículo para transmitir os signos, e o melhor tratamento dos signos para fazer uma mensagem adequada e efetiva.

UM MODO DE COMUNICAÇÃO

Os diversos elementos e processos que intervêm na comunicação interpessoal podem resumir-se no seguinte modelo:


É importante lembrar que a comunicação é um processo dinâmico e não mecânico, o que significa que, embora seus elementos sejam colocados no modelo como partes separadas, na realidade, todos eles agem de maneira simultânea e interativa. Por outra parte, a comunicação é parte orgânica da própria vida e não consiste apenas na emissão e recepção de mensagens deliberadas. Assim, por exemplo, ao mesmo tempo que o professor está comunicando, ele está recebendo e processando toda classe de sensações internas e externas, acontecendo a mesma coisa com os alunos.
A seguir apresentam-se algumas considerações sobre os diversos processos que intervêm na comunicação interpessoal.

a) As funções da comunicação

Quanto ao repertório de intenções pensemos quantas coisas pode pretender conseguir o professor quando se dirige aos alunos: informar, convencer, disciplinar, ferir, recompensar, perguntar, persuadir, comover etc... etc. Umberto Eco (41) esclarece que as diversas funções da mensagem aparecem raramente isoladas. Em geral coexistem todas na mesma mensagem ainda que uma predominante. Assim classifica Eco as funções:

1- Função indicativa ou referencial: A mensagem "indica" algo, seja um objetivo ou idéia.
2. Função emotiva: A mensagem quer suscitar emoções (associações de idéias, projeções, identificações etc.).
3. Função imperativa: A mensagem tenta impor um comportamento.
4. Função de contrato: Procura estabelecer vínculo psicológico com o receptor (Por exemplo a ação de cumprimentar).
5. Função estética: Pretende criar uma sensação harmoniosa (Exemplo: um quadro).
6. Função metalingüística: A mensagem fala de outra mensagem ou de si mesma.

b) Os meios de comunicação

No seu repertório de meios, o professor pode contar com meios individuais, tais como a instrução programada e o estudo orientado; meios grupais, tais como a discussão, o painel, o seminário, a excursão etc., e meios coletivos, tais como a TV, o rádio, a imprensa e o mais tradicional de todos: o livro.
Os meios, segundo McLuhan (42) são extensões do homem: foram inventados para multiplicar a força e o alcance da capacidade humana de emitir mensagens. A fala individual, por exemplo, não iria muito longe sem o rádio, o telefone, o alto-falante, a televisão.

c) O repertório de signos

O conceito de signo é a base da Comunicação. "Todo objeto material ou a propriedade desse objeto, ou um acontecimento qualquer, converte-se em signo quando, no processo de comunicação, serve, dentro da estrutura de uma linguagem adotada pelas pessoas que se comunicam, ao propósito de transmitir certos pensamentos sobre a realidade (isto é, concernentes ao mundo exterior ou a experiências internas, emocionais, estéticas, volitivas etc... de qualquer dos partícipes do processo de comunicação" (SCHAFF, Adam. Introducción a Ia Semántica. México: Fondo de Cultura Econômica, 1962, p. 180).
Recentemente está chamando bastante atenção o papel dos signos não-verbais na comunicação humana, tendo sido observado que às vezes as palavras de uma pessoa não dão a mesma mensagem que seus olhos ou seus gestos. Para alguns antropólogos como Hall, a cultura inteira é um sistema de signos.
A comunicação será efetiva se o comunicador levar sempre em conta os repertórios correspondentes do receptor. Se ele utilizar uma idéia ou uma experiência que não existir no repertório respectivo do receptor, este não entenderá a mensagem. Se o comunicador escolher signos que não figurem no repertório de signos do receptor, não haverá comunicação.
Vemos logo que a tarefa de comunicar é mais fácil e efetiva quando o professor conhece bem os seus alunos, pois isto significa que conhece seus repertórios de objetivos, idéias e experiências, signos e meios.
A tarefa do professor não consiste apenas em conhecer os repertórios dos alunos, mas principalmente em ajuda-los a modificar e aumentar seus repertórios. Este crescimento, entretanto, não é somente quantitativo, mas consiste em uma modificação da estrutura sistêmica dos repertórios.
Vejamos, por exemplo, como está organizado o sistema de signos de um professor:

- O professor em si é um conjunto de signos: a cor de sua pele, sua roupa, sua forma de falar, indicam sua classe social, seu grau de educação, sua origem geográfica, sua auto-imagem, sua atitude para com os outros.
- Para comunicar-se, ele utiliza diversos tipos de códigos:
O código icônico compreende as representações visuais dos objetos, tais como fotografias, desenhos, modelos etc.
O código lingüístico é o da linguagem em que fala.
O código cinético compreende signos que implicam movimentos, tais como os gestos.
O código sonoro compreende os sons quando utilizados para expressar emoções ou idéias. Assim, quando o professor bate palmas para chamar os alunos de volta à atenção, faz um ruído que tem um significado.
O professor maneja todos estes códigos combinadamente, como um sistema. O processo de representar suas idéias, emoções ou experiências, utilizando estes signos, chama-se processo de codificação.
  
d) Os processos de recepção

Pensemos agora no receptor. Quando a mensagem chega aos órgãos sensoriais do receptor, o primeiro processo que tem lugar é o da percepção. A percepção tem uma base puramente física, mas também sofre influência pela dinâmica psicológica do receptor. Assim, por exemplo, se, por um lado, a mensagem verbal do professor é percebida melhor se vem falada em voz alta e clara, com boa articulação e modulação (base física), por outro lado é melhor percebida se o aluno estiver interessado no assunto e não tem uma atitude negativa contra o professor (base psicológica). A equação pessoal faz com que a percepção seja seletiva: não percebemos todos os estímulos que atingem nossos órgãos porque possuímos uma espécie de filtro perceptual que deixa passar certos estímulos e deixa outros para fora. Vemos melhor aquilo que desejamos ver.
Após a percepção dos signos, o segundo processo é a decodificação. Subconscientemente, o receptor compara os signos percebidos com o seu repertório e decifra a equivalência. Se os signos percebidos não existem no repertorio, o receptor apela ao contexto da mensagem para indagar qual poderia ser o referente desse signo faltante.
O terceiro processo é o da interpretação. A mensagem em sua totalidade é referida ao assunto sobre o qual se está comunicando; é conferida com os demais repertórios do receptor, é comparada a seu conhecimento dos repertórios da fonte, e à situação em que a mensagem é recebida. Dessa forma, a interpretação, ou atribuição de significado para uma mensagem é algo totalmente pessoal e exclusivo de cada aluno. O significado real da mensagem será diferente para cada receptor, pois cada um deles tem um marco de referência próprio e pessoal para sua interpretação.
O quarto processo é a reação ou resposta. O processo de interpretação da mensagem recebida produz no receptor um desequilíbrio de seus sistemas ou repertórios, desequilíbrio ou tensão que é tanto mais sério quando afeta a imagem ou idéia que o receptor tem de si mesmo. O receptor reage frente a este desequilíbrio ou tensão criado na sua mente, e a reação pode tomar variadas formas, algumas das quais são as seguintes:

- fecha-se à mensagem e a ignora totalmente (pelo menos no plano consciente);
 - aceita-a e incorpora-a ao seu repertório de idéias e experiências, modificando-a na passagem pelo seu repertório de intenções, e objetivos;
- aceita parcialmente a mensagem e comunica à fonte este fato, ou pede mais dados e explicações;
- sente-se ameaçada ou insultada pela mensagem, e reage violentamente tomando alguma ação externa contra a fonte;
- outras reações.
O professor que presta atenção a essas reações, que chamamos retroinformação (feed-back) encontra nelas a forma para reajustar suas mensagens, o que exige uma grande flexibilidade mental, uma abertura psicológica para Ievar em conta o efeito produzido nos repertórios mentais do aluno. Daí a importância da imagem que o professor tem do aluno. A eficiência da comunicação depende do emprego que o professor faz da retroinformação. O aluno também necessita de retroinformação, o mais imediatamente possível, para reajustar seus processos de percepção, decodificação e interpretação. A solução mais completa é o diálogo em todas as suas formas.
É importante destacar que os processos da recepção da mensagem ocorrem todos simultaneamente e interagindo uns com os outros.
Podemos dizer, sem medo de errar, que a estrutura mental do receptor condiciona a recepção e aceitação de mensagem.

e) A estrutura do conteúdo

Foi destacada a importância da estrutura mental do receptor na aceitação e assimilação de uma mensagem. Agora precisamos demonstrar que tal assimilação depende da estrutura própria da matéria a ser comunicada. Os estudos mostram que a comunicação é facilitada se estruturarmos nossa mensagem de maneira que o receptor perceba a sua estrutura, ou seja, a relação existente entre os diversos conhecimentos isolados.
  
f) O tratamento da mensagem

Não é somente sua estrutura ou organização interna, contudo, o que faz didática uma mensagem. Também o tratamento ou estilo de sua apresentação é relevante. É esse tratamento da mensagem que faz a diferença entre o professor agradável e o professor maçante.
Para terminar esta teorização do processo da comunicação, mencionamos três conceitos úteis: interferência, redundância e paralinguagem.
Interferência é tudo o que faz a comunicação menos fiel e menos eficiente. Na situação de aula podem constituir interferência a luz da janela lateral que torna ilegível o que está escrito no quadro-negro e as marteladas dos pedreiros que estão reparando os banheiros da escola. As interferências podem ter outras bases, como o gaguejar do professor ou seu tique nervoso que distrai os alunos.
Redundância é uma repetição ou reiteração de uma idéia ou de um signo visando à melhor percepção e compreensão por parte dos alunos. A redundância é de certo modo uma proteção contra as interferências. Um exemplo é quando o professor deseja complementar sua exposição oral com meios visuais, e ainda distribui folhas xerografadas. A redundância ou repetição é uma garantia contra a infidelidade da recepção.
Paralinguagem refere-se às mensagens secundárias que o professor transmite, às vezes involuntariamente, ao mesmo tempo que entrega sua mensagem principal.
Digamos que ele tenha passado uma noite má; os alunos podem perceber esse fato pela paralinguagem: o professor tem olhos vermelhos, suas mãos tremem ao segurar o giz, sua fala soa cansada e distraída etc.
  
g) Conclusão

Em resumo, a comunicação é um processo de inter-relação entre pessoas, que se caracteriza por empregar signos ou códigos para formular mensagens e transmiti-Ias por diversos meios, visando a influir sobre os repertórios mentais de outras pessoas. A situação ou contexto em que tem lugar a comunicação é importante.
A compreensão de que o significado não é propriedade exclusiva da mensagem, mas uma resultante de sua interação com os repertórios do receptor, é essencial para ser um comunicador eficiente. Somente quem sabe que o significado depende mais da pessoa que escuta do que da mensagem emitida, preocupa-se em conhecer bem o receptor, em estimular o diálogo com ele e em ajustar suas mensagem à retroinformação dele recebida.
  
 APLlCAÇÕES

Que conseqüências têm estas colocações teóricas no melhoramento da comunicação professor-aluno? Tomemos um por um os elementos básicos do processo: fonte, mensagem, meio e receptor, e vejamos algumas hipóteses de solução.

1) A fonte: o professor

- Ter intenções e objetivos claros. Fazer com que os alunos os conheçam, chegando com os mesmos a uma concordância ou consenso de objetivos básicos.
- Desenvolver a empatia ou capacidade de se colocar no lugar do aluno.
- Desenvolver uma atitude positiva e construtiva com respeito aos alunos e de otimismo em relação ao seu potencial de crescimento.
- Procurar o aumento e enriquecimento dos repertórios do aluno.
- Organizar as idéias de forma flexível e aberta. Isto exige um amplo e profundo domínio da matéria, pois somente as pessoas seguras podem dar-se ao luxo de não ter medo da discussão.
    - Manter um constante esforço para receber retroinformação, verificando se os alunos entenderam a exposição e os termos nela usados.
- Analisar a estrutura interna dos diversos assuntos do curso bem como os diferentes problemas de comunicação que apresentam, para planejar uma estratégia didática adequada para cada tipo de problema.

2) A mensagem: a matéria ensinada e as orientações do professor

A primeira condição para a mensagem é que seja percebida clara e nitidamente pelos alunos. Voz alta, palavras bem articuladas, letras grandes, figuras claras sem muitos detalhes, bom contraste de cores, é o mínimo que o professor pode fazer para comunicar.
- A mensagem deve ter uma organização não somente lógica, mas também psicológica. Deve começar com um elemento que desperte a atenção e provoque tensão ou desafio nos alunos: pergunta, afirmação chocante, problema, situação conflitante, dados novos ou originais.
- A exposição deve ter em vista mais os alunos que a matéria em si, isto é, deve tentar propor perguntas de interesse para o aluno mais do que recitar as soluções já conhecidas pelo professor.
-                              A tentação de expor o tempo todo deve ser evitada. A exposição será apenas um instrumento para mobilizar o pensamento e as contribuições dos alunos.
O professor que aceita a contribuição dos alunos ficará surpreso ao verificar quantas palavras poderia poupar por hora de aula. Muito do que o professor se considera obrigado a transmitir, já existe na experiência ou, no sentido comum dos alunos.
- Cada tipo de mensagem didática deve receber o tratamento exigido pelo tipo de aprendizagem envolvido e pelo correspondente problema de comunicação (ver Gagné), o que deve ser feito sempre com amenidade e simplicidade, utilizando tanto quanto possível termos familiares e explicando com comparações e exemplos o significado e alcance dos novos termos introduzidos.
- As idéias mais importantes deverão ser repetidas sob formas diferentes para não causar monotonia.

3) Os meios

Recomenda-se:
- Estimular os alunos a usarem canais diversos de informação e aprendizagem, além de escutar o próprio professor, contribuindo assim para enriquecer seu repertório de meios e melhor prepara-lo para aprender a aprender.
- Planejar as atividades didáticas, seja de tipo individual, grupal ou coletivo, em uma forma equilibrada, introduzindo cada meio ou técnica de acordo com suas próprias características.
- Combinar vários meios de comunicação de modo que cada um reforce e complemente o que o outro apresenta.

4) O receptor

Construir uma atmosfera de confiança e amizade entre os alunos, para que suas atitudes sejam positivas em relação ao professor e sua disciplina.
- Estimular nos alunos uma atitude permanente de curiosidade intelectual, para que desejem enriquecer seu repertório de idéias e experiências.
- Conseguir que associem a imagem do professor com um sentimento de suspense e de expectativa: "O professor que traz algo novo".
- Partir do nível em que os alunos estão e ajudá-los a comprovar seu próprio progresso, dando-lhes oportunidades de verificar a crescente validez de suas contribuições.
- Promover o desenvolvimento da empatia nos alunos, bem como o respeito às opiniões e pontos de vista alheios.
 - Dar aos alunos que possuem um ritmo de assimilação mais lento, a oportunidade de "digerir" a informação.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:

BORDENAVE, Juan Díaz;.PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de ensino-aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 2003.




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