“A
eficácia máxima da comunicação não é alcançada senão quando a mensagem é
compreendida pelo receptor.”
Abrahan Moles
O PROBLEMA
No atual sistema de ensino centralizado no
professor e na matéria, a tarefa de transmitir conhecimentos é a maior
carga que o professor carrega sobre os ombros. Por sua vez, o aluno que deseja
passar de ano vê-se obrigado a absorver uma considerável e cada dia maior
quantidade de informações: conceitos, nomes, fatos, datas, cores, relações,
quantidades, fórmulas, processos, normas etc., a maioria das quais ele recebe
“via professor”.
A emissão, transmissão e recepção de informações,
entretanto, é apenas uma das funções da comunicação entre professor e
alunos. Da boa comunicação dependem não só a aprendizagem, mas também o
respeito mútuo, a cooperação e a criatividade.
Vamos tentar identificar os principais problemas
que atualmente atrapalham a comunicação professor-aluno, visando a descobrir os
pontos de estrangulamento:
- O problema fundamental, a nosso ver, consiste no
fato de que o professor em geral não percebe que é um mau comunicador, da mesma
maneira que são poucos os padres que acham ruins seus sermões.
- O professor está mais preocupado em expor sua
matéria, isto é, em falar, que em comunicar, isto é, despertar
atenção e interesse, mobilizar a inteligência do aluno, ser entendido por este
e induzi-lo à expressão e ao diálogo. O professor acha que sua função consiste
em transmitir conhecimentos e que é obrigação do aluno ouvir e compreender. Não
percebe que a atenção e a aprendizagem são processos que às vezes devem ser
provocadas.
- Às vezes, o professor tem suas idéias tão mal, ou
tão perfeitamente organizadas, que não há nelas lugar para a imaginação
criativa dos alunos. Ambos os extremos produzem uma comunicação falha: quando
as idéias do professor estão desorganizadas, sua mensagem é confusa e insegura,
e os alunos não conseguem perceber a estrutura do assunto. Quando estão
demasiadamente organizadas, o professor em geral não gosta de ser interrompido
nem de aceitar contribuições dos alunos. Ele evita tudo o que ameaça
desorganizar o belo edifício mental que traz preparado.
- O professor expõe partindo da premissa de que, se
os alunos mais inteligentes da primeira fila entendem o que ele fala, todos os
demais também entenderão. E não se preocupa em verificar se isto ocorreu ou
não.
- O professor utiliza conceitos ou termos que
ainda não existem na experiência dos alunos. Ou, se existem, é provável que
cada um lhes atribua um significado diferente. Vejamos um exemplo: o professor
emprega o termo “conjuntura”. Se perguntasse aos alunos o que entendem por
“conjuntura” ficaria surpreendido com respostas tão variadas como
“acontecimentos de curto prazo”, “situação em um período dado”, “articulação de
ossos”, “contexto”, “interseção de estradas”, “coincidência de opiniões” etc.
- O professor não se preocupa em aumentar o
vocabulário dos alunos, o que poderia ser feito explicando os significados
e as diversas aplicações dos novos termos.
- O professor coloca tantas idéias em cada
exposição que somente algumas delas são compreendidas e retidas. Pela pressa em
dar maior quantidade de matéria possível, o professor não repete as idéias
principais, nem se detém o tempo necessário para que os alunos de raciocínio
mais lento as assimilem.
- Alguns professores falam tão rápido ou articulam
as palavras tão mal que muitas das idéias não são percebidas pelos alunos. Outros
professores falam em voz tão baixa ou em tom tão monótono, que não conseguem
manter a atenção dos alunos.
- O professor não utiliza meios visuais para
comunicar conceitos ou relações que exigem apresentação gráfica. Assim, um
professor de Entomologia, por exemplo, descreve apenas verbalmente os insetos
do algodão: tamanho, forma, cor etc., características todas que exigem
visualização objetiva.
- O professor utiliza os meios visuais de uma forma
inadequada: por exemplo, emprega o quadro-negro sem planejamento algum,
escrevendo e desenhando ora aqui, ora ali, com muita confusão e desordem. As
Ietras muito pequenas ou pouco claras são mal decifradas pelos alunos das
últimas fileiras. Outro exemplo: o álbum seriado é empregado por alguns
professores como um roteiro de aula e não como uma série de estímulos para o
pensamento dos alunos. Outros projetam filmes, como substituto da aula, sem
justificar seu papel na estratégia didática.
- Mas, de todas essas deficiências, a pior é a
tendência do professor ao monólogo, à "salivação" sem diálogo, o que
traduz sua falta de interesse pela participação ativa dos alunos. Quanto mais
passivos e "bem disciplinados" forem os alunos, mais felizes são
alguns professores.
Entretanto, não é justo atribuirmos toda a responsabilidade
das deficiências da comunicação ao professor. Os alunos também contribuem com
sua importante quota de problemas:
- O aluno tem uma forte tendência a não prestar
atenção ao que o professor está dizendo. Por diversas razões (a força
competitiva de outros estímulos atuantes em sua vida: namoradas, esportes,
trabalho, família, saúde; as suas atitudes negativas contra figuras de
autoridade; o seu desinteresse pela matéria em pauta) o aluno pode passar
consideráveis períodos na classe fazendo qualquer outra coisa em lugar de
atender às palavras do professor.
- Muitos alunos têm preguiça de pensar e, aplicando
de menor esforço, adotam uma atitude de passividade e desligamento. (É verdade
que esta atitude pode ser um produto de experiências escolares anteriores em
que justamente se estimulava a passividade.)
- O aluno que, por preguiça, quer confiar em sua
memória, não toma notas das idéias expostas pelo professor. Depois percebe que
esqueceu mais da metade.
- O aluno pode manter uma atitude antagônica de rejeição
e revolta contra um determinado professor. Essa disposição mental gera um
bloqueio inconsciente contra a assimilação da matéria ensinada.
- Certas matérias difíceis e abstratas, como
Matemática, Estatística, Teoria Econômica etc, exigem dos alunos exercitar uma
atividade intelectual fora do comum. Por falta de prática do pensamento
operatório abstrato (J. Piaget) o aluno não acompanha o raciocínio e apenas
memoriza as questões, sem realmente compreender sua estrutura e alcance. Esse é
um produto típico da educação “bancária”: o professor pensa pelo aluno e quando
este se vê obrigado a pensar por sua conta, sua falta de prática o trai.
- O aluno às vezes pensa que entendeu o que o
professor está falando e não pede esclarecimentos. Porém, mais tarde, comprova
que não entendeu realmente.
- A causa mais séria da ineficiência comunicativa
do aluno, entretanto, é sua falta de desejo de aprender; quando existe
esse desejo, todos os demais obstáculos de ordem física ou psicológica são
vencidos pelo aluno. Mas muitos nunca vão além de uma atitude de "aceitar
serem ensinados", sem jamais chegar a um desejo positivo e entusiasta
de aprender. Apesar disto ser, em parte, um problema para o qual o
professor deve ajudar a resolver, cabe ao aluno a decisão pessoal de sua
própria modificação.
ENSINAR NÃO É SÓ COMUNICAR
“O PROFESSOR X TEM UMA ADMIRÁVEL FACILIDADE DE EXPOSIÇÃO DA
SUA AULA, NUMA FORMA TÃO BEM ESTRUTURADA E CLARA QUE ENTENDEMOS TUDO:
NÃO PRECISAMOS NEM PERGUNTAR NADA, ELE É UM GRANDE COMUNICADOR!”
MAS SERÁ UM GRANDE PROFESSOR?
Muitos professores acham que é seu dever comunicar
o máximo do que sabem aos seus alunos, na forma melhor estruturada possível.
Daí, por exemplo, o abuso do álbum seriado empregado como roteiro estruturado
da matéria.
Ensinar, entretanto, não é somente transmitir, não é somente
transferir conhecimentos de uma cabeça a outra, não é somente comunicar.
Ensinar é fazer pensar, é estimular para a identificação e resolução de
problemas; é ajudar criar novos hábitos de pensamento e de ação.
Isto não significa que a exposição não deva ter
estrutura alguma, ou que seja melhor o professor ser um mal comunicador.
Significa, sim, que a estrutura da exposição deve conduzir à problematização
e ao raciocínio e não à absorção passiva das idéias e informações do
professor. Significa ainda que o professor deve ser um comunicador
dialogal e não um transmissor unilateral de informação. Ser um comunicador, por
outro lado, não é agir como um "showman" e menos ainda como um
persuasivo doutrinador. Significa desenvolver "empatia": colocar-se
no lugar do aluno e, com ele, problematizar o mundo para que, ao mesmo tempo
que aprende novos conteúdos, desenvolva seu máximo tesouro: sua
habilidade de pensar.
PONTOS-CHAVE
Se examinarmos a lista de problemas citados da
comunicação professor-aluno, comprovaremos que os pontos de estrangulamento
giram em torno de:
- Problemas psicológicos relacionados com percepção,
atenção, motivação, atitudes, memória, hábitos de pensamento.
- Problemas semiológicos relacionados com o emprego de
signos e códigos para comunicar: palavras, gestos, tom de voz, coisas escritas
no quadro negro.
- Problemas semânticos relacionados com o significado
das palavras, dos objetos e das pessoas, e sua interpretação.
- Problemas sintáticos relacionados com a estrutura ou
organização dos conteúdos e dos signos.
- Problemas cibernéticos relacionados com a
retroinformação e o diálogo, com a quantidade de idéias transmitidas por
diversos canais e com a capacidade deste para levar sinais.
Esta lista de focos ou áreas de pontos-chave vem
demonstrar a complexidade do processo da comunicação, mas também vem nos
oferecer um caminho para uma solução, que é apelar às ciências básicas:
Psicologia. Semiologia, Semântica, Sintática, Cibernética, na procura de
subsídios para melhorar nossa ação de comunicar. Neste momento não analisaremos
separadamente as contribuições de cada uma dessas ciências para a compreensão
do processo da Comunicação. Estudaremos o processo de forma global, utilizando,
de maneira integrada, conceitos tirados de quaisquer dessas ciências, visto que
a nossa intenção não é a análise científica do processo de comunicação, mas a
derivação de aplicações práticas que ajudem a melhorar seu emprego pelo
professor.
TEORIZAÇÃO
O ato de comunicar, em geral, é deflagrado por um objeto
ou assunto, em uma situação determinada. Ou seja, as pessoas
se comunicam com respeito a alguma coisa e o fazem em um contexto situacional
determinado.
No ato de comunicar, a pessoa que inicia o processo
o faz com uma certa intenção ou objetivo escolhido (consciente ou inconsciente)
entre todos os objetivos possíveis de seu repertório. Apela em seguida para o
seu repertório de idéias e experiências e escolhe aquelas que lhe servem para
sua intenção ou objetivo. Agora apela para o seu repertório de signos ou
códigos, para com eles representar suas idéias. Finalmente escolhe no
repertório de meios o melhor veículo para transmitir os signos, e o melhor
tratamento dos signos para fazer uma mensagem adequada e efetiva.
UM MODO
DE COMUNICAÇÃO
Os diversos elementos e processos que intervêm na
comunicação interpessoal podem resumir-se no seguinte modelo:
É importante lembrar que a comunicação é um
processo dinâmico e não mecânico, o que significa que, embora seus
elementos sejam colocados no modelo como partes separadas, na realidade, todos
eles agem de maneira simultânea e interativa. Por outra parte, a comunicação é
parte orgânica da própria vida e não consiste apenas na emissão e recepção
de mensagens deliberadas. Assim, por exemplo, ao mesmo tempo que o professor
está comunicando, ele está recebendo e processando toda classe de sensações
internas e externas, acontecendo a mesma coisa com os alunos.
A seguir apresentam-se algumas considerações sobre
os diversos processos que intervêm na comunicação interpessoal.
a) As
funções da comunicação
Quanto ao repertório de intenções pensemos
quantas coisas pode pretender conseguir o professor quando se dirige aos
alunos: informar, convencer, disciplinar, ferir, recompensar, perguntar,
persuadir, comover etc... etc. Umberto Eco (41) esclarece que as diversas
funções da mensagem aparecem raramente isoladas. Em geral coexistem todas na
mesma mensagem ainda que uma predominante. Assim classifica Eco as funções:
1- Função indicativa ou referencial: A mensagem
"indica" algo, seja um objetivo ou idéia.
2. Função emotiva: A mensagem quer suscitar emoções
(associações de idéias, projeções, identificações etc.).
3. Função imperativa: A mensagem tenta impor um
comportamento.
4. Função de contrato: Procura estabelecer vínculo
psicológico com o receptor (Por exemplo a ação de cumprimentar).
5. Função estética: Pretende criar uma sensação
harmoniosa (Exemplo: um quadro).
6. Função metalingüística: A mensagem fala de outra
mensagem ou de si mesma.
b) Os meios de comunicação
No seu repertório de meios, o professor pode contar
com meios individuais, tais como a instrução programada e o estudo
orientado; meios grupais, tais como a discussão, o painel, o seminário,
a excursão etc., e meios coletivos, tais como a TV, o rádio, a imprensa
e o mais tradicional de todos: o livro.
Os meios, segundo McLuhan (42) são extensões do
homem: foram inventados para multiplicar a força e o alcance da capacidade
humana de emitir mensagens. A fala individual, por exemplo, não iria muito
longe sem o rádio, o telefone, o alto-falante, a televisão.
c) O repertório de signos
O conceito de signo é a base da Comunicação.
"Todo objeto material ou a propriedade desse objeto, ou um acontecimento
qualquer, converte-se em signo quando, no processo de comunicação, serve,
dentro da estrutura de uma linguagem adotada pelas pessoas que se comunicam, ao
propósito de transmitir certos pensamentos sobre a realidade (isto é,
concernentes ao mundo exterior ou a experiências internas, emocionais,
estéticas, volitivas etc... de qualquer dos partícipes do processo de
comunicação" (SCHAFF, Adam. Introducción a Ia Semántica. México:
Fondo de Cultura Econômica, 1962, p. 180).
Recentemente está chamando bastante atenção o papel
dos signos não-verbais na comunicação humana, tendo sido observado que
às vezes as palavras de uma pessoa não dão a mesma mensagem que seus olhos ou
seus gestos. Para alguns antropólogos como Hall, a cultura inteira é um sistema
de signos.
A comunicação será efetiva se o comunicador levar
sempre em conta os repertórios correspondentes do receptor. Se ele utilizar uma
idéia ou uma experiência que não existir no repertório respectivo do receptor,
este não entenderá a mensagem. Se o comunicador escolher signos que não figurem
no repertório de signos do receptor, não haverá comunicação.
Vemos logo que a tarefa de comunicar é mais
fácil e efetiva quando o professor conhece bem os seus alunos, pois
isto significa que conhece seus repertórios de objetivos, idéias e
experiências, signos e meios.
A tarefa do professor não consiste apenas em
conhecer os repertórios dos alunos, mas principalmente em ajuda-los a modificar
e aumentar seus repertórios. Este crescimento, entretanto, não é somente
quantitativo, mas consiste em uma modificação da estrutura sistêmica dos
repertórios.
Vejamos, por exemplo, como está organizado o
sistema de signos de um professor:
- O professor em si é um conjunto de signos: a cor
de sua pele, sua roupa, sua forma de falar, indicam sua classe social, seu grau
de educação, sua origem geográfica, sua auto-imagem, sua atitude para com os
outros.
- Para comunicar-se, ele utiliza diversos tipos de
códigos:
O código icônico compreende as representações visuais dos objetos,
tais como fotografias, desenhos, modelos etc.
O código lingüístico é o da linguagem em que fala.
O código cinético compreende signos que implicam
movimentos, tais como os gestos.
O código sonoro compreende os sons quando utilizados para
expressar emoções ou idéias. Assim, quando o professor bate palmas para chamar
os alunos de volta à atenção, faz um ruído que tem um significado.
O professor maneja todos estes códigos combinadamente,
como um sistema. O processo de representar suas idéias, emoções ou
experiências, utilizando estes signos, chama-se processo de codificação.
d) Os processos de recepção
Pensemos agora no receptor. Quando a mensagem chega
aos órgãos sensoriais do receptor, o primeiro processo que tem lugar é o da percepção.
A percepção tem uma base puramente física, mas também sofre influência pela
dinâmica psicológica do receptor. Assim, por exemplo, se, por um lado, a
mensagem verbal do professor é percebida melhor se vem falada em voz alta e
clara, com boa articulação e modulação (base física), por outro lado é melhor
percebida se o aluno estiver interessado no assunto e não tem uma atitude
negativa contra o professor (base psicológica). A equação pessoal faz com que
a percepção seja seletiva: não percebemos todos os estímulos que atingem
nossos órgãos porque possuímos uma espécie de filtro perceptual que
deixa passar certos estímulos e deixa outros para fora. Vemos melhor aquilo que
desejamos ver.
Após a percepção dos signos, o segundo processo é a
decodificação. Subconscientemente, o receptor compara os signos
percebidos com o seu repertório e decifra a equivalência. Se os signos
percebidos não existem no repertorio, o receptor apela ao contexto da mensagem
para indagar qual poderia ser o referente desse signo faltante.
O terceiro processo é o da interpretação.
A mensagem em sua totalidade é referida ao assunto sobre o qual se está
comunicando; é conferida com os demais repertórios do receptor, é comparada a
seu conhecimento dos repertórios da fonte, e à situação em que a mensagem é
recebida. Dessa forma, a interpretação, ou atribuição de significado para uma
mensagem é algo totalmente pessoal e exclusivo de cada aluno. O
significado real da mensagem será diferente para cada receptor, pois cada um
deles tem um marco de referência próprio e pessoal para sua interpretação.
O quarto processo é a reação ou resposta. O
processo de interpretação da mensagem recebida produz no receptor um
desequilíbrio de seus sistemas ou repertórios, desequilíbrio ou tensão que é
tanto mais sério quando afeta a imagem ou idéia que o receptor tem de si mesmo.
O receptor reage frente a este desequilíbrio ou tensão criado na sua mente, e a
reação pode tomar variadas formas, algumas das quais são as seguintes:
- fecha-se à mensagem e a ignora totalmente (pelo
menos no plano consciente);
- aceita-a e incorpora-a ao seu repertório de
idéias e experiências, modificando-a na passagem pelo seu repertório de
intenções, e objetivos;
- aceita parcialmente a mensagem e comunica à fonte
este fato, ou pede mais dados e explicações;
- sente-se ameaçada ou insultada pela mensagem, e
reage violentamente tomando alguma ação externa contra a fonte;
- outras reações.
O professor que presta atenção a essas reações, que
chamamos retroinformação (feed-back) encontra nelas a forma para
reajustar suas mensagens, o que exige uma grande flexibilidade mental, uma
abertura psicológica para Ievar em conta o efeito produzido nos repertórios
mentais do aluno. Daí a importância da imagem que o professor tem do aluno. A
eficiência da comunicação depende do emprego que o professor faz da
retroinformação. O aluno também necessita de retroinformação, o mais
imediatamente possível, para reajustar seus processos de percepção, decodificação
e interpretação. A solução mais completa é o diálogo em todas as suas formas.
É importante destacar que os processos da recepção
da mensagem ocorrem todos simultaneamente e interagindo uns com os outros.
Podemos dizer, sem medo de errar, que a estrutura
mental do receptor condiciona a recepção e aceitação de mensagem.
e) A estrutura do conteúdo
Foi destacada a importância da estrutura mental do
receptor na aceitação e assimilação de uma mensagem. Agora precisamos
demonstrar que tal assimilação depende da estrutura própria da matéria a ser
comunicada. Os estudos mostram que a comunicação é facilitada se
estruturarmos nossa mensagem de maneira que o receptor perceba a sua estrutura,
ou seja, a relação existente entre os diversos conhecimentos isolados.
f) O tratamento da mensagem
Não é somente sua estrutura ou organização interna,
contudo, o que faz didática uma mensagem. Também o tratamento ou estilo
de sua apresentação é relevante. É esse tratamento da mensagem que faz a
diferença entre o professor agradável e o professor maçante.
Para terminar esta teorização do processo da
comunicação, mencionamos três conceitos úteis: interferência, redundância e
paralinguagem.
Interferência é tudo o que faz a comunicação menos fiel e menos
eficiente. Na situação de aula podem constituir interferência a luz da janela
lateral que torna ilegível o que está escrito no quadro-negro e as marteladas
dos pedreiros que estão reparando os banheiros da escola. As interferências
podem ter outras bases, como o gaguejar do professor ou seu tique nervoso que
distrai os alunos.
Redundância é uma repetição ou reiteração de uma idéia ou de um
signo visando à melhor percepção e compreensão por parte dos alunos. A
redundância é de certo modo uma proteção contra as interferências. Um exemplo é
quando o professor deseja complementar sua exposição oral com meios visuais, e
ainda distribui folhas xerografadas. A redundância ou repetição é uma garantia
contra a infidelidade da recepção.
Paralinguagem refere-se às mensagens secundárias que o professor
transmite, às vezes involuntariamente, ao mesmo tempo que entrega sua mensagem
principal.
Digamos que ele tenha passado uma noite má; os
alunos podem perceber esse fato pela paralinguagem: o professor tem olhos
vermelhos, suas mãos tremem ao segurar o giz, sua fala soa cansada e distraída
etc.
g) Conclusão
Em resumo, a comunicação é um processo de
inter-relação entre pessoas, que se caracteriza por empregar signos ou códigos
para formular mensagens e transmiti-Ias por diversos meios, visando a influir
sobre os repertórios mentais de outras pessoas. A situação ou contexto em que
tem lugar a comunicação é importante.
A compreensão de que o significado não é
propriedade exclusiva da mensagem, mas uma resultante de sua interação com os
repertórios do receptor, é essencial para ser um comunicador eficiente. Somente
quem sabe que o significado depende mais da pessoa que escuta do que
da mensagem emitida, preocupa-se em conhecer bem o receptor, em estimular o
diálogo com ele e em ajustar suas mensagem à retroinformação dele recebida.
APLlCAÇÕES
Que conseqüências têm estas colocações teóricas no
melhoramento da comunicação professor-aluno? Tomemos um por um os elementos
básicos do processo: fonte, mensagem, meio e receptor, e vejamos algumas
hipóteses de solução.
1) A fonte: o professor
- Ter intenções e objetivos claros. Fazer com que
os alunos os conheçam, chegando com os mesmos a uma concordância ou consenso de
objetivos básicos.
- Desenvolver a empatia ou capacidade de se colocar
no lugar do aluno.
- Desenvolver uma atitude positiva e construtiva
com respeito aos alunos e de otimismo em relação ao seu potencial de
crescimento.
- Procurar o aumento e enriquecimento dos
repertórios do aluno.
- Organizar as idéias de forma flexível e aberta.
Isto exige um amplo e profundo domínio da matéria, pois somente as pessoas
seguras podem dar-se ao luxo de não ter medo da discussão.
- Manter um constante esforço
para receber retroinformação, verificando se os alunos entenderam a exposição e
os termos nela usados.
- Analisar a estrutura interna dos diversos
assuntos do curso bem como os diferentes problemas de comunicação que
apresentam, para planejar uma estratégia didática adequada para cada tipo de
problema.
2) A mensagem: a matéria ensinada e as orientações
do professor
A primeira condição para a mensagem é que seja
percebida clara e nitidamente pelos alunos. Voz alta, palavras bem articuladas,
letras grandes, figuras claras sem muitos detalhes, bom contraste de cores, é o
mínimo que o professor pode fazer para comunicar.
- A mensagem deve ter uma organização não somente lógica,
mas também psicológica. Deve começar com um elemento que desperte a
atenção e provoque tensão ou desafio nos alunos: pergunta, afirmação chocante,
problema, situação conflitante, dados novos ou originais.
- A exposição deve ter em vista mais os alunos que
a matéria em si, isto é, deve tentar propor perguntas de interesse para o aluno
mais do que recitar as soluções já conhecidas pelo professor.
-
A tentação de expor o tempo todo deve ser evitada. A exposição será apenas um instrumento
para mobilizar o pensamento e as contribuições dos alunos.
O professor que aceita a contribuição dos alunos
ficará surpreso ao verificar quantas palavras poderia poupar por hora de aula.
Muito do que o professor se considera obrigado a transmitir, já existe na
experiência ou, no sentido comum dos alunos.
- Cada tipo de mensagem didática deve receber o
tratamento exigido pelo tipo de aprendizagem envolvido e pelo correspondente
problema de comunicação (ver Gagné), o que deve ser feito sempre com amenidade
e simplicidade, utilizando tanto quanto possível termos familiares e explicando
com comparações e exemplos o significado e alcance dos novos termos
introduzidos.
- As idéias mais importantes deverão ser repetidas
sob formas diferentes para não causar monotonia.
3) Os meios
Recomenda-se:
- Estimular os alunos a usarem canais diversos de
informação e aprendizagem, além de escutar o próprio professor, contribuindo
assim para enriquecer seu repertório de meios e melhor prepara-lo para aprender
a aprender.
- Planejar as atividades didáticas, seja de tipo
individual, grupal ou coletivo, em uma forma equilibrada, introduzindo cada
meio ou técnica de acordo com suas próprias características.
- Combinar vários meios de comunicação de modo que
cada um reforce e complemente o que o outro apresenta.
4) O receptor
Construir uma atmosfera de confiança e amizade
entre os alunos, para que suas atitudes sejam positivas em relação ao professor
e sua disciplina.
- Estimular nos alunos uma atitude permanente de
curiosidade intelectual, para que desejem enriquecer seu repertório de idéias e
experiências.
- Conseguir que associem a imagem do professor com
um sentimento de suspense e de expectativa: "O professor que traz algo
novo".
- Partir do nível em que os alunos estão e
ajudá-los a comprovar seu próprio progresso, dando-lhes oportunidades de
verificar a crescente validez de suas contribuições.
- Promover o desenvolvimento da empatia nos alunos,
bem como o respeito às opiniões e pontos de vista alheios.
- Dar aos alunos que possuem um ritmo de
assimilação mais lento, a oportunidade de "digerir" a informação.
BIBLIOGRAFIA
RECOMENDADA:
BORDENAVE,
Juan Díaz;.PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de ensino-aprendizagem.
Petrópolis: Vozes, 2003.
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