Blog “Educação, Didática, Pedagogia e Andragogia”,
de autoria de Superdotado Álaze Gabriel.
INTRODUÇÃO
O
termo Andragogia surge como disciplina e parte integrante das ciências da educação,
mais especificamente para o campo da educação dos adultos, em 1967 com o artigo
publicado por Malcolm Knowles, intitulado «Andragogy, not Pedagogy».
No
entanto, segundo Osorio (2003) este termo já tinha sido usado, pela primeira
vez em 1926, no contexto anglo-saxão, por Lindeman, aquando a publicação da sua
obra “The Meaning of Adult Education”. Desta forma, Lindeman foi um grande impulsionador
da educação de adultos, defendendo, já na altura, que a educação é vida e não
preparação para vida, e que a educação de adultos se centra em ideais não exclusivamente
profissionais, em que o seu enfoque se direcciona no caminho das «situações de
vida» e não nos temas ou conteúdos, e em que o seu principal recurso são as
«experiências de vida», Osorio (2003).
Malcom
Knowles, vem mais tarde, defender com mais veemência e rigor o propósito de uma
disciplina da educação e formação de adultos, a Andragogia. Segundo Osorio:
Knowles, será quem mais se empenha na defesa de um
termo independente para se referir à prática e ao
estudo de adultos com base no facto de, apesar de alguns princípios da educação infantil serem aplicáveis à dos
adultos, a sua posição social,
as suas responsabilidades perante os outros e as suas funções são muito diferentes das primeiras idades e isso
exige uma nova disciplina. (2003, p. 92).
De
acordo com Canário (1999), seria através da Andragogia, considerada por Knowles
como a “nova arte da formação”, que se tornaria possível acabar com a
forma de educar os adultos como se fossem crianças, deixando de lado o modelo
pedagógico, consolidado na forma escolar tradicional.
O
modelo andragógico surge então associado a uma contradição do modelo pedagógico,
sendo pertinente reportar-nos para as diferenças que lhes estão subjacentes.
Como refere Osorio (2003, p. 93):
A andragogia é, portanto, a arte e a ciência de ajudar os adultos a aprender, por oposição à pedagogia como
arte e ciência de ensinar as
crianças. A andragogia baseia-se noutros pressupostos de aprendizagem e de acção com os adultos.
Portanto é necessário um salto qualitativo no momento de estudar, compreender e praticar a educação de adultos.
Para
uma compreensão mais clara das diferenças e pressupostos dos dois modelos, apresentamos
de seguida um quadro, onde se resume, quer um conjunto depostulados do modelo
pedagógico, quer as contra-hipóteses andragógicas.
Assim,
a Andragogia surge como contradição ao modelo pedagógico, centrando-se numa
etapa de vida onde os interesses e as motivações são diferentes, passando da
aquisição fundamental de conhecimentos com base em conteúdos disciplinares
(modelo pedagógico) para o desenvolvimento de competências, através da
resolução de problemas e com o recurso a experiências de vida1. Posto isto,
como afirma Osorio (2003), o seu principal ponto de referência apoia-se no fato
evolutivo que marca uma tendência na natureza humana – de uma maior dependência
a uma maior independência.
Com
o avanço desta evolução é exigido um tipo de relação educativa e de
aprendizagem distinto. No entanto, ao analisar atentamente os seus
pressupostos, Canário (1999) afirma que a visão da andragogia como uma
perspectiva original e “revolucionária” da situação educativa, torna-se
bastante limitada se se considerar o seu carater simplificador, dicotômico e
normativo sobre a ação educativa. Ao se constituir um contraponto a uma
pedagogia escolar tradicional, converte-se fundamentalmente numa teoria
específica da «aprendizagem adulta» (Osório, 2003). Este antagonismo entre a
pedagogia e a andragogia apresenta-se, em grande medida, factício, sendo possivelmente
mais sensato diferenciar os variados métodos de formação (Léon, cit. In Canário,
1999), em que a multiplicidade combinatória deverá corresponder à diversidade
dos públicos jovens, adultos e crianças. Esta distinção, mas sobretudo a oposição
maniqueísta estabelecida entre a andragogia e a pedagogia é expressamente
reforçada, como refere Canário (1999), por Knowles, ao considerar o modelo
pedagógico idealista, enquanto que o modelo andragógico se apresenta como “um
sistema contra-hipóteses”, sendo esta a diferença fundamental entre ambos.
R.
Flecha (cit, in. Osorio, 2003) na sua concepção, não perspectiva a idade como
factor decisivo para a criação de uma independência no processo de aprendizagem,
uma vez que a educação e formação de adultos deverá ter em atenção elementos
gerais da fundamentação educativa e também de outros elementos próprios do seu
campo. Desta forma, e parafraseando Osório (2003) “(…) o conhecimento e a
fundamentação da educação de adultos deve contemplar os elementos gerais da
educação, assim como os próprios, sem com isso optar por uma disciplina
especifica como a proposta por Knowles e outros autores”.
A
solução não passaria por a construção de um processo de aprendizagem adulta,
pois tanto as crianças como os adultos são independentes (em diferentes graus,
mas não em diferentes naturezas) e inovadores nos processos que utilizam. Knowles
não é indiferente aos limites radicais entre os dois modelos, referindo que o
A.
Krajn (1993) propõe um ciclo andragógico estruturado em cinco fases:
1.
Identificação das necessidades educativas: O andragogo tem que identificar
as verdadeiras necessidades educativas dos adultos. Estabelecem-se metas
e objectivos com a finalidade de satisfazer as necessidades individuais e
sociais do sujeito;
2.
Planificação do programa: a eficácia da educação de adultos depende, aquando a
iniciação da formação, se tenha em conta a experiência prévia e o nível
educativo dos alunos. O programa deve estar aberto a mudanças que poderão
surgir quando se revelam novas necessidades educativas;
3.
Planificação dos métodos: Devem estar adequados aos hábitos e às
técnicas dos adultos;
4.
Aplicação do programa: Essencialmente o trabalho em grupo, porém o estudo
independente também permite aos indivíduos uma maior responsabilidade pela
sua própria aprendizagem;
5.
Avaliação dos resultados e rediagnóstico da aprendizagem: Tendo em conta
que a educação de adultos se afirma como uma espiral de ciclos andragógicos,
orientados para um objectivo educativo definitivo que, na realidade, nunca se consegue
alcançar, uma vez que se centra no «pleno desenvolvimento do ser humano»,
torna-se difícil a sua avaliação. Os métodos actuais de avaliação são
insuficientes para avaliar mudanças quer na personalidade, nas atitudes e até
mesmo nos valores produzidos pela educação dos indivíduos. (in Osorio, 2003).
No
entanto, ainda que a proposta de Knowles tenha recebido algumas criticas, o
certo é que contribuiu, efectivamente, para a abertura a uma teorização e
prática diferentes do modelo escolar e compensatório. Desta forma, segunda
Canário (1999) o contributo principal da andragogia esbateu-se, exactamente, no
encorajamento de práticas de educação alternativas que permitiram uma crítica,
um enriquecimento e uma superação da forma escolar.
Concludentemente,
Canário (1999) afirma que para se sair do impasse a que o conceito de
andragogia se alicerçou, é necessário, e só assim será possível, a criação de
uma nova epistemologia de aprendizagem do adulto, que segundo Bourgeois e Nizet
(1997, cit. in idem), tenha em conta o funcionamento e desenvolvimento humano.
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