quarta-feira, 22 de maio de 2013

A GRAMÁTICA E A LINGUÍSTICA COM BASE EM SAUSSURE



INTRODUÇÃO


A primeira noção de Gramática ocorreu entre os gregos; era uma teoria desprovida de caráter científico, mesmo porque apoiava-se na filosofia. Os franceses deram seguimento à essa teoria - uma disciplina totalmente normativa. Esses estudos passaram para o campo da Filologia, e destaca-se, para marcar essa passagem, a Escola Filológica de Alexandria. No entanto, o termo filologia liga-se ao nome de Friedrich August Wolf a partir de 1777, e assim é até os nossos dias. Os estudos se concentravam quase que exclusivamente a assuntos literários e comparação de textos. Mais tarde iniciou-se a comparação entre as línguas, então surge a Gramática Comparada. Destaca-se o trabalho de Frans Bopp, em 1816, intitulado Sistema de Conjugação do Sânscrito, obra que estuda relações do sânscrito com o grego, latim, germânico, etc. Antes de Bopp, William Jones já havia realizado pesquisas com o sânscrito, porém a relevância desses estudos acabou ficando com Bopp.

Dessas pesquisas realizadas nada ficou muito bem comprovado, mas aí estava nascendo o estudo das relações entre as línguas como ciência autônoma. Ao lado de Bopp surgiram entre outros, Jacob Grimm ( Gramática Alemã, 1822-1836 ), Max Muller, com estudos comparativos ( Lições Sobre a Ciência da Linguagem, 1816 ), Curtius ( Princípios de Etimologia Grega, 1879 ) conciliou a Gramática com Filologia clássica, e Schleider ( Breviário de Gramática Comparada das Línguas Indo-Germânicas, 1816). Todos esses estudos não conseguiram atingir uma orientação científica, os trabalhos eram comparados mas se estudavam as comparações.

Somente a partir de 1870 é que iniciam-se as indagações significantes sobre a língua, e o no confronto das línguas românicas e germânicas a comparação obteve um sentido de linguística. A Gramática das Língua Românicas, 1836-1838 deu sua grande contribuição para esse fato. Todos os estudos realizados nessa longa viagem, sem dúvida, tiveram sua grande contribuição. Nessa época germanicistas e romanistas aventuravam-se em pesquisas, igualmente. Em 1875, o norte-americano Whitney, deu um grande impulso aos estudos com sua obra A Vida da Linguagem, surgindo assim, os neogramáticos. Em seguida surge uma importante escola alemã Junggrammatiker, grupos de linguistas que estudavam principalmente as leis fonéticas, destacando-se entre eles: K. Brugmann, H. Osthoff, W. Braune, E. Sievers, H. Paul, Leskien, etc. O grande feito dessa escola foi encadear os fatos comparativos, que até então haviam sido coletados.

Ferdinand Saussure, genebriano, conhecido como o pai da linguística, dez anos mais tarde do seu nascimento tem contato com Adolphe Pictet autor de Origenes Indo-européenes ( 1859-63 ), filólogo e amigo da família, que o orientou para seguir os estudos em lingüística. Saussure pertenceu à Sociedade Linguística de Paris, destacando-se com duas obras Essai d' une distinction de différents a indo-européens e Mémoires sur les voyelles indo-européenes em 1877 e 1878. Sua tese de doutorado versava sobre o acusativo em sânscrito. Fez parte da École Pratique des Hautes Études. O auge de seus trabalhos foi quando substituiu Joseph Wertheimer na Universidade de Genebra e lá ministrou três cursos de Linguística Geral ( 1906 -1911 ), faleceu em 1913.

Com Saussure nasce o estruturalismo linguístico e deve-se a ele a criação da teoria dos signos, ampliando, assim, o conceito de semiologia. Focou muito no estudo da língua e definiu-a pela dicotomia de significante e significado para compor o signo. Para ele, uma coisa é definida somente quando está em oposição com outra.

Seguiram a linha do estruturalismo de Saussure: Bloomfield, nos Estados Unidos; Hjelmslev, na Escandinávia; Meillet e Benveniste na França; e duas figuras muito importantes da Escola de Praga: Jakobson e Trubetzkoj.

Tamanho o conhecimento e empenho de Saussure nas pesquisas linguísticas, que lamentando que o mestre não tivesse deixado nenhum livro, seus alunos organizaram as anotações de classe e organizaram a edição do Cours de Linguistique Génerale, sabendo porém, que o mestre, como pesquisador, não havia dito tudo que pesquisara por exigências didáticas.


A TAREFA DA LINGÜÍSTICA

 

·       Descreve uma língua e conta sua história.

·       Estuda os fenômenos para deduzir as leis que os provocam.

·       Limita-se como ciência, mas tem relações profundas com outras: Fisiologia, Sociologia, Psicologia Social, etc.


O OBJETO DA LINGÜÍSTICA

 

Para os linguistas fica difícil definir o objeto da linguística sem esbarrar em outras ciências. Desta forma não se pode estudar a língua isolada da linguagem. Então, a linguística toma a língua como norma de todas as manifestações da linguagem. (há discussões sobre o fato de ser ou não natural a função propriamente da linguagem). No entanto, Saussure vê a língua como o real objeto da linguística.

 

SAUSSURIANISMO


O Cours de linguistique générale de F. de Saussure foi publicado em 1916, obra póstuma, pois Saussure faleceu em 1913 e o livro foi editado por alguns de seus alunos, entre eles - Bally, Riedlinger e Sechahaye. Por ser uma obra póstuma e resultado de anotações de alunos, sempre houve muitas divergências sobre sua autenticidade, buscavam-se os manuscritos de Saussure, os quais não foram encontrados. Entre os críticos, destaca-se Starobinsky. No entanto, o que marcou efetivamente o mérito de Saussure foi a maneira com que ele explicou os fatos linguísticos – até ele, estes eram explicados pela transformação das espécies, mas o mestre genebriano introduz uma explicação pela noção de valor, que só foi compreendida após a compreensão das dicotomias: língua x fala, forma x substância, pertinência, significante, significado e signo.

 

LINGUAGEM: LÍNGUA E FALA (LANGUE E PAROLE)


O estudo da linguagem comporta duas partes estreitamente ligadas: lingua, que é social e independente do indivíduo e fala, que é psico-física e é a parte que modifica a língua.


LÍNGUA


A língua é uma convenção, resultante de um acordo entre os seus usuários. Portanto, para eles ela é adquirida e convencional - é uma instituição social.

A língua é coletiva, é um dado social, é o mesmo sistema linguístico e usado em diferentes falas, portanto, é um mecanismo de natureza abstrata e subjaz ao ato da fala, um mecanismo virtual, ou seja, um conjunto de possibilidades combinatórias. O indivíduo não pode criá-la nem modificá-la, ela é exterior a ele. A língua aqui é definida como um sistema de elementos linguísticos. Por isso diz-se que língua é sistemática. Um sistema representa um conjunto organizado em que um elemento se define pelos outros. A língua é um sistema de signos. Cada signo se define em relação aos demais.

Para Saussure, na língua só há diferenças. Por exemplo: o valor do /l/ só é dado por sua oposição ao /r/. Para Saussure, a forma é um conjunto de relações das unidades linguísticas e para ele, língua é forma, e não substância. Por exemplo:

No jogo de xadrez, a rainha é definida por seu valor no jogo, e não pelo material de que é constituída ou pela sua forma.


FALA


A fala é particular, é um dado individual, é diferente para cada pessoa, é a concretização da língua. A fala é assistemática, é concreta, real e individual.

Cada pessoa tem sua fala, mas faz uso da mesma língua, do mesmo léxico e das mesmas regras gramaticais. As mudanças nas falas (individuais) podem afetar o sistema (a língua). Exemplo: li > lh; ni > nh: filiu > filho; mulier > mulher; vinia > vinha.

Saussure, para explicar essa dicotomia 'língua' e 'fala' usa como exemplo o jogo de xadrez. É possível substituir uma peça do tabuleiro de xadrez por um objeto qualquer, desde que se estabeleça previamente o que essa nova peça está substituindo. Saussure transfere esse exemplo para a linguagem, afirmando dessa forma que a regra do jogo, ou seja, o sistema linguístico é que é o objetivo específico da pesquisa linguística e não as jogadas, ou seja, as mensagens, às quais o sistema serve de base. A partir desse conceito fica definido que a língua é o objeto da linguística, segundo Saussure. Os fatos da língua constituem a estrutura do sistema linguístico. Portanto, língua é sistema > é arranjo > a estrutura.


A LINGUAGEM


A linguagem é atividade simbólica. É aptidão ou capacidade que se manifesta por meio de conjuntos organizados para servir de instrumento de comunicação.


SINCRONIA E DIACRONIA

 

Sincronia significa ao mesmo tempo. Saussure deu extrema importância a esse fenômeno. Estuda-se a língua por um recorte, o que permite descrever concretamente o seu funcionamento num dado momento e lugar, podendo analisar o seu estado sem se preocupar com as mudanças ocorridas através no tempo. Uma análise sincrônica:

comer: comer/comilança/comida/comilão. Portanto, com seria radical.

Diacronia significa através do tempo. Esse estudo permite observar as mudanças que ocorre com a língua através do tempo, descrevendo, comparando suas diversas etapas e estabelecendo conclusões sobre a sua evolução. Este é o processo tomado pela Linguística Comparativa e Histórica e é por meio desse processo diacrônico que chega-se às origens das diversas línguas. Por exemplo: uma análise diacrônica: comer: do latim edere: cum (prefixo) + edere > cumedere > comer. Do ponto de vista diacrônico com seria prefixo.

 

SAUSSURE INSTAURA A IDEIA DE 'SIGNO'

 

Signo: significante e significado. A unidade linguística é uma coisa dupla, constituída da união de dois termos unidos ao nosso cérebro por um vínculo de associação. (CL.p.80).

O signo linguístico une um conceito e uma imagem acústica, ou seja, a impressão psíquica do som da palavra. Podemos falar sem mover os lábios. O conceito corresponde ao significado, a imagem acústica ao significante. Segundo Saussure, a imagem acústica subordina o ato articulatório.

Para explicar o signo, Saussure propõe duas propriedades:


1ª - O SIGNO É ARBITRÁRIO


Isso quer dizer que não há um laço natural entre o significante e o significado: a ideia de "mar" não tem relação com a sequência de sons "m-a-r" (conf. p. 81). Nem mesmo com símbolo Saussure associa o signo, pois, segundo ele, o símbolo teria uma relação com o objeto representado.

Saussure completa seu argumento usando o exemplo: "o significado da palavra francesa boeuf (=boi) tem por significante b-ö-f de um lado da fronteira franco-germânica, e o-k-s (Ochs) do outro"(p.82).(..) queremos dizer que o significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade.


Observação: O linguista Benveniste tem uma outra concepção para a arbitrariedade do signo linguístico.


2ª: CARÁTER LINEAR DO SIGNIFICANTE


O significante é constituído por uma sequência de sons, e sendo de natureza acústica (auditiva), desenvolve-se no tempo. Em oposição a escrita desenvolve-se espacialmente. Assim sendo, tem o caráter linear por desenvolver-se no tempo e sua extensão medida em segmento linear: um som após o outro, de acordo com cada cultura. Entende-se por isso que, os elementos dos enunciados são distintos, diferentes entre si. Ao falar, emitimos um fonema de cada vez, linearmente, ou seja em linha - por isso, diz-se caráter linear do significante. Nas palavras de Sausssure:


(...) os significantes acústicos dispõem apenas da linha do tempo; seus elementos se apresentam um após outro; formam uma cadeia. Esse caráter aparece imediatamente quando os representamos pela escrita e substituímos a sucessão do tempo pela linha espacial dos signos gráficos. (CLG:84)


Observação: Também o conceito de linearidade proposto por Saussure foi questionado por Jakobson ao afirmar que qualquer fonema é constituído por um feixe de sons. Por exemplo: o fonema /b/ é bilabial, oclusivo, sonoro, oral. No entanto, Saussure considera a individualidade do fonema como único ao contrapor-se com os outros.

 

PARADIGMA VERSUS SINTAGMA


Para construir um texto, as palavras precisam ser selecionadas dentro de uma língua e distribuídas em vários paradigmas (modelos). O segundo passo é combinar essas palavras selecionadas para formar sentenças e assim, o texto vai sendo construído - esse é o eixo sintagmático.

Os signos linguísticos selecionados, combinam-se em sequências num alinhamento, em virtude do caráter linear do significante, isto é, não se pode pronunciar dois elementos ao mesmo tempo: na cadeia da fala os elementos estão alinhados um após o outro, constituindo pois, os sintagmas.

Pode-se dizer por isso: as relações paradigmáticas baseiam-se na escolha dos signos linguísticos. As relações sintagmáticas constituem-se pela combinação desses signos.


Exemplos:


A palavra ensinamento pertence ao mesmo paradigma de aprendizagem e educação, com relação ao significado. Quanto ao significante, estabelece relações associativas com elemento, lento, etc.; quanto à morfologia, estabelece relações associativas ( paradigmáticas ) com ensinar, ensinamos, etc, de um lado, e de outro com armamento, desfiguramento, etc.


FATORES EXTERNOS E FATORES INTERNOS

 

Os fatores externos que fazem parte da história de um povo contribuem para a formação dessa língua, mas não modificam os seus fatores internos, isto é, o seu sistema.


PRIVILÉGIO DA ESCRITA SOBRE A FALA

 

O prestígio da escrita sobre a fala é justificado por várias razões, entre elas: a oficialidade dos registros, a forma escrita é mais fácil de ser conservada como unidade linguística, as impressões visuais são mais duradouras do que as acústicas, o posicionamento dos linguistas em caso de desacordo ainda não é reconhecido como deveria ser.

Há, porém, desacordos entre esses dois sistemas: - as línguas evoluem e a escrita fica estagnada e quando se faz necessário é a escrita que tem de se atualizar para equiparar-se à fala.


SISTEMAS DE ESCRITA

 

Há dois sistemas de escrita: Ideográfico, aquele em que a palavra é representada por um único signo para a compreensão de ideias ou objetos e não se relaciona com os sons que a compõe; o sistema fonético, que utiliza signos que representam não só objetos e ideias como também os sons para a escrita das palavras.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. São Paulo:Cultrix, 2006.

MUSSALIM, F. & Bentes, A. C. (orgs.) Introdução à Lingüística 1. São Paulo: Cortez, 2003. cap.2










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