INTRODUÇÃO
A
primeira noção de Gramática ocorreu entre os gregos; era uma teoria desprovida
de caráter científico, mesmo porque apoiava-se na filosofia. Os franceses deram
seguimento à essa teoria - uma disciplina totalmente normativa. Esses estudos
passaram para o campo da Filologia, e destaca-se, para marcar essa passagem, a
Escola Filológica de Alexandria. No entanto, o termo filologia liga-se ao nome
de Friedrich
August Wolf a partir de 1777, e assim é até os nossos dias. Os estudos se
concentravam quase que exclusivamente a assuntos literários e comparação de
textos. Mais tarde iniciou-se a comparação entre as línguas, então surge a
Gramática Comparada. Destaca-se o trabalho de Frans Bopp, em
1816, intitulado Sistema de Conjugação do Sânscrito, obra que estuda
relações do sânscrito com o grego, latim, germânico, etc. Antes de Bopp, William
Jones já havia realizado pesquisas com o sânscrito, porém a relevância
desses estudos acabou ficando com Bopp.
Dessas
pesquisas realizadas nada ficou muito bem comprovado, mas aí estava nascendo o
estudo das relações entre as línguas como ciência autônoma. Ao lado de Bopp
surgiram entre outros, Jacob Grimm (
Gramática Alemã, 1822-1836 ), Max Muller,
com estudos comparativos ( Lições Sobre a Ciência da Linguagem, 1816 ), Curtius
( Princípios de Etimologia Grega, 1879 ) conciliou a Gramática com Filologia
clássica, e Schleider ( Breviário de Gramática Comparada das Línguas
Indo-Germânicas, 1816). Todos esses estudos não conseguiram atingir uma
orientação científica, os trabalhos eram comparados mas se estudavam as
comparações.
Somente
a partir de 1870 é que iniciam-se as indagações significantes sobre a língua, e
o no confronto das línguas românicas e germânicas a comparação obteve um
sentido de linguística. A Gramática das Língua Românicas, 1836-1838
deu sua grande contribuição para esse fato. Todos os estudos realizados nessa
longa viagem, sem dúvida, tiveram sua grande contribuição. Nessa época
germanicistas e romanistas aventuravam-se em pesquisas, igualmente. Em 1875, o
norte-americano Whitney, deu um grande impulso aos estudos com sua
obra A Vida da Linguagem, surgindo assim, os neogramáticos.
Em seguida surge uma importante escola alemã Junggrammatiker, grupos
de linguistas que estudavam principalmente as leis fonéticas, destacando-se
entre eles: K. Brugmann, H. Osthoff, W. Braune, E. Sievers, H. Paul, Leskien,
etc. O grande feito dessa escola foi encadear os fatos comparativos, que até
então haviam sido coletados.
Ferdinand
Saussure, genebriano, conhecido como o pai da linguística, dez anos mais tarde
do seu nascimento tem contato com Adolphe Pictet autor de Origenes
Indo-européenes ( 1859-63 ), filólogo e amigo da família, que o orientou
para seguir os estudos em lingüística. Saussure pertenceu à Sociedade
Linguística de Paris, destacando-se com duas obras Essai d' une distinction
de différents a indo-européens e Mémoires sur les voyelles
indo-européenes em 1877 e 1878. Sua tese de doutorado versava sobre o
acusativo em sânscrito. Fez parte da École Pratique des Hautes Études.
O auge de seus trabalhos foi quando substituiu Joseph Wertheimer na
Universidade de Genebra e lá ministrou três cursos de Linguística Geral ( 1906
-1911 ), faleceu em 1913.
Com
Saussure nasce o estruturalismo linguístico e deve-se a ele a criação da
teoria dos signos, ampliando, assim, o conceito de semiologia. Focou muito no
estudo da língua e definiu-a pela dicotomia de significante e significado para
compor o signo. Para ele, uma coisa é definida somente quando está em oposição
com outra.
Seguiram a linha do estruturalismo de Saussure: Bloomfield, nos Estados Unidos;
Hjelmslev, na Escandinávia; Meillet e Benveniste na França; e duas figuras
muito importantes da Escola de Praga: Jakobson e Trubetzkoj.
Tamanho
o conhecimento e empenho de Saussure nas pesquisas linguísticas, que lamentando
que o mestre não tivesse deixado nenhum livro, seus alunos organizaram as
anotações de classe e organizaram a edição do Cours de Linguistique
Génerale, sabendo porém, que o mestre, como pesquisador, não havia dito
tudo que pesquisara por exigências didáticas.
A TAREFA DA LINGÜÍSTICA
·
Descreve
uma língua e conta sua história.
·
Estuda
os fenômenos para deduzir as leis que os provocam.
·
Limita-se
como ciência, mas tem relações profundas com outras: Fisiologia, Sociologia,
Psicologia Social, etc.
O OBJETO DA LINGÜÍSTICA
Para
os linguistas fica difícil definir o objeto da linguística sem esbarrar em
outras ciências. Desta forma não se pode estudar a língua isolada da linguagem.
Então, a linguística toma a língua como norma de todas as manifestações da
linguagem. (há discussões sobre o fato de ser ou não natural a função
propriamente da linguagem). No entanto, Saussure vê a língua como o real objeto
da linguística.
SAUSSURIANISMO
O
Cours de linguistique générale de F. de Saussure foi publicado em 1916, obra
póstuma, pois Saussure faleceu em 1913 e o livro foi editado por alguns de seus
alunos, entre eles - Bally, Riedlinger e Sechahaye. Por ser uma obra póstuma e
resultado de anotações de alunos, sempre houve muitas divergências sobre sua
autenticidade, buscavam-se os manuscritos de Saussure, os quais não foram
encontrados. Entre os críticos, destaca-se Starobinsky. No entanto, o que
marcou efetivamente o mérito de Saussure foi a maneira com que ele explicou os
fatos linguísticos – até ele, estes eram explicados pela transformação das
espécies, mas o mestre genebriano introduz uma explicação pela noção de valor,
que só foi compreendida após a compreensão das dicotomias: língua x fala, forma
x substância, pertinência, significante, significado e signo.
LINGUAGEM: LÍNGUA E FALA (LANGUE E PAROLE)
O
estudo da linguagem comporta duas partes estreitamente ligadas: lingua, que é
social e independente do indivíduo e fala, que é psico-física e é a parte que
modifica a língua.
LÍNGUA
A
língua é uma convenção, resultante de um acordo entre os seus usuários.
Portanto, para eles ela é adquirida e convencional - é uma instituição social.
A
língua é coletiva, é um dado social, é o mesmo sistema linguístico e usado em
diferentes falas, portanto, é um mecanismo de natureza abstrata e subjaz ao ato
da fala, um mecanismo virtual, ou seja, um conjunto de possibilidades
combinatórias. O indivíduo não pode criá-la nem modificá-la, ela é exterior a
ele. A língua aqui é definida como um sistema de elementos linguísticos. Por
isso diz-se que língua é sistemática. Um sistema representa um conjunto
organizado em que um elemento se define pelos outros. A língua é um sistema
de signos. Cada signo se define em relação aos demais.
Para
Saussure, na língua só há diferenças. Por exemplo: o valor do /l/ só é dado por
sua oposição ao /r/. Para Saussure, a forma é um conjunto de relações
das unidades linguísticas e para ele, língua é forma, e não substância.
Por exemplo:
No jogo de xadrez, a rainha é definida por seu valor no jogo, e não pelo
material de que é constituída ou pela sua forma.
FALA
A
fala é particular, é um dado individual, é diferente para cada pessoa, é a
concretização da língua. A fala é assistemática, é concreta, real e individual.
Cada pessoa tem sua fala, mas faz uso da mesma língua, do mesmo léxico e das
mesmas regras gramaticais. As mudanças nas falas (individuais) podem afetar o
sistema (a língua). Exemplo: li > lh; ni > nh: filiu > filho; mulier
> mulher; vinia > vinha.
Saussure,
para explicar essa dicotomia 'língua' e 'fala' usa como exemplo o jogo de
xadrez. É possível substituir uma peça do tabuleiro de xadrez por um objeto
qualquer, desde que se estabeleça previamente o que essa nova peça está substituindo.
Saussure transfere esse exemplo para a linguagem, afirmando dessa forma que a
regra do jogo, ou seja, o sistema linguístico é que é o objetivo específico da
pesquisa linguística e não as jogadas, ou seja, as mensagens, às quais o
sistema serve de base. A partir desse conceito fica definido que a língua é o
objeto da linguística, segundo Saussure. Os fatos da língua constituem a
estrutura do sistema linguístico. Portanto, língua é sistema > é arranjo
> a estrutura.
A
LINGUAGEM
A
linguagem é atividade simbólica. É aptidão ou capacidade que se manifesta por
meio de conjuntos organizados para servir de instrumento de comunicação.
SINCRONIA E DIACRONIA
Sincronia
significa ao mesmo tempo. Saussure deu extrema importância a esse
fenômeno. Estuda-se a língua por um recorte, o que permite descrever
concretamente o seu funcionamento num dado momento e lugar, podendo analisar o
seu estado sem se preocupar com as mudanças ocorridas através no tempo. Uma
análise sincrônica:
comer: comer/comilança/comida/comilão. Portanto, com seria radical.
Diacronia
significa através do tempo. Esse estudo permite observar as mudanças que
ocorre com a língua através do tempo, descrevendo, comparando suas diversas
etapas e estabelecendo conclusões sobre a sua evolução. Este é o processo
tomado pela Linguística Comparativa e Histórica e é por meio desse processo
diacrônico que chega-se às origens das diversas línguas. Por exemplo: uma
análise diacrônica: comer: do latim edere: cum (prefixo) + edere > cumedere >
comer. Do ponto de vista diacrônico com seria prefixo.
SAUSSURE INSTAURA A IDEIA DE 'SIGNO'
Signo:
significante e significado. A unidade linguística é uma coisa dupla,
constituída da união de dois termos unidos ao nosso cérebro por um vínculo de
associação. (CL.p.80).
O
signo linguístico une um conceito e uma imagem acústica, ou seja, a impressão
psíquica do som da palavra. Podemos falar sem mover os lábios. O conceito
corresponde ao significado, a imagem acústica ao significante. Segundo
Saussure, a imagem acústica subordina o ato articulatório.
Para
explicar o signo, Saussure propõe duas propriedades:
1ª
- O SIGNO É ARBITRÁRIO
Isso quer dizer que não há um laço
natural entre o significante e o significado: a ideia de "mar" não
tem relação com a sequência de sons "m-a-r" (conf. p. 81). Nem mesmo
com símbolo Saussure associa o signo, pois, segundo ele, o símbolo teria uma
relação com o objeto representado.
Saussure completa seu argumento usando o
exemplo: "o significado da palavra francesa boeuf (=boi) tem por
significante b-ö-f de um lado da fronteira franco-germânica, e o-k-s
(Ochs) do outro"(p.82).(..) queremos dizer que o significante é imotivado,
isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço
natural na realidade.
Observação: O
linguista Benveniste tem uma outra concepção para a arbitrariedade do signo
linguístico.
2ª: CARÁTER LINEAR DO SIGNIFICANTE
O
significante é constituído por uma sequência de sons, e sendo de natureza
acústica (auditiva), desenvolve-se no tempo. Em oposição a escrita
desenvolve-se espacialmente. Assim sendo, tem o caráter linear por
desenvolver-se no tempo e sua extensão medida em segmento linear: um som após o
outro, de acordo com cada cultura. Entende-se por isso que, os elementos dos
enunciados são distintos, diferentes entre si. Ao falar, emitimos um fonema de
cada vez, linearmente, ou seja em linha - por isso, diz-se caráter linear do
significante. Nas palavras de Sausssure:
(...) os significantes acústicos dispõem
apenas da linha do tempo; seus elementos se apresentam um após outro; formam
uma cadeia. Esse caráter aparece imediatamente quando os representamos pela
escrita e substituímos a sucessão do tempo pela linha espacial dos signos
gráficos. (CLG:84)
Observação: Também
o conceito de linearidade proposto por Saussure foi questionado por Jakobson ao
afirmar que qualquer fonema é constituído por um feixe de sons. Por exemplo: o
fonema /b/ é bilabial, oclusivo, sonoro, oral. No entanto, Saussure considera a
individualidade do fonema como único ao contrapor-se com os outros.
PARADIGMA VERSUS SINTAGMA
Para
construir um texto, as palavras precisam ser selecionadas dentro de uma
língua e distribuídas em vários paradigmas (modelos). O segundo passo é combinar
essas palavras selecionadas para formar sentenças e assim, o texto vai sendo
construído - esse é o eixo sintagmático.
Os
signos linguísticos selecionados, combinam-se em sequências num alinhamento, em
virtude do caráter linear do significante, isto é, não se pode pronunciar dois
elementos ao mesmo tempo: na cadeia da fala os elementos estão alinhados um
após o outro, constituindo pois, os sintagmas.
Pode-se
dizer por isso: as relações paradigmáticas baseiam-se na escolha dos signos
linguísticos. As relações sintagmáticas constituem-se pela combinação desses
signos.
Exemplos:
A
palavra ensinamento pertence ao mesmo paradigma de aprendizagem e
educação, com relação ao significado. Quanto ao significante, estabelece
relações associativas com elemento, lento, etc.; quanto à morfologia,
estabelece relações associativas ( paradigmáticas ) com ensinar, ensinamos,
etc, de um lado, e de outro com armamento, desfiguramento, etc.
FATORES EXTERNOS E FATORES INTERNOS
Os
fatores externos que fazem parte da história de um povo contribuem para a
formação dessa língua, mas não modificam os seus fatores internos, isto é, o
seu sistema.
PRIVILÉGIO DA ESCRITA SOBRE A FALA
O
prestígio da escrita sobre a fala é justificado por várias razões, entre elas:
a oficialidade dos registros, a forma escrita é mais fácil de ser conservada
como unidade linguística, as impressões visuais são mais duradouras do que as
acústicas, o posicionamento dos linguistas em caso de desacordo ainda não é
reconhecido como deveria ser.
Há,
porém, desacordos entre esses dois sistemas: - as línguas evoluem e a escrita
fica estagnada e quando se faz necessário é a escrita que tem de se atualizar
para equiparar-se à fala.
SISTEMAS DE ESCRITA
Há
dois sistemas de escrita: Ideográfico, aquele em que a palavra é
representada por um único signo para a compreensão de ideias ou objetos e não
se relaciona com os sons que a compõe; o sistema fonético, que utiliza
signos que representam não só objetos e ideias como também os sons para a
escrita das palavras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. São
Paulo:Cultrix, 2006.
MUSSALIM, F. & Bentes, A. C. (orgs.) Introdução à Lingüística 1.
São Paulo: Cortez, 2003. cap.2
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